Com ‘hora marcada’, araras colorem céu de Dourados

Crédito: Eliel Oliveira

Araras vermelhas estão colorindo o céu de Dourados, principalmente ao amanhecer e ao pôr do sol. Espalhadas por bairros da cidade elas chamam a atenção por onde passam. O fotógrafo Eliel Oliveira registrou uma dessas visitas ilustres à área urbana da cidade na região do 4º Plano. No local, a presença das ararinhas passaram de raras para constante nos últimos meses.

A explicação desse “fenômeno” vem do  biólogo, professor e pesquisador da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Paulino Barroso Medina Júnior. Segundo ele, essa percepção de “ressurgimento” das aves nas áreas urbanas tem várias frentes de explicação. Uma delas é a busca por alimento e refúgio.

“Ao longo da história, foi ocorrendo a urbanização que causou a expulsão da biodiversidade, que foi se recolhendo para áreas rurais. E aí vem aquela ideia de que se não estou vendo aquele animal ele não existe na região. Não é isso, eles sumiram por um tempo da área urbana para sobreviverem nas áreas rurais. Isso gera outro problema. No campo houve grande avanço da monocultura e da mecanização que acabam devastando áreas verdes. As árvores são retiradas e sobra somente as áreas de proteção permanente, reservas legais e as unidades de conservação. Aqui no Estado como houve um crescimento muito rápido das áreas agrícolas desde a década de 30, houve amplo desmatamento e muitas vezes as propriedades rurais nem contam com reserva legal, devido a essa questão histórica de séculos atrás. Acaba sobrando no máximo as margens de rios para elas sobreviverem”, ressalta.

Segundo o pesquisador, o resultado das ações no campo afugentam as aves. “Com a movimentação dos maquinários, o uso de agroquímicos e retirada do habitat sobra pouca disponibilidade de abrigo e alimento. Elas começam a procurar áreas verdes e fazem o trajeto inverso, na área urbana. O fato do município ser arborizado acaba criando uma cobertura verde razoável atrativa para as araras. Elas não chegam para morar, mas sim para se alimentar e voltar para a área rural, porque como são exigentes em relação a barulho elas acabam não permanecendo nessas árvores que estão nas ruas. Elas fazem isso porque muitas vezes têm o abrigo mas não há alimento suficiente”, reforça, observando que árvores frutíferas, flores  ou castanhas podem garantir boas refeições às araras.

Paulino Júnior orienta sobre como os cidadãos podem ajudar a manter a biodiversidade também na área urbana. “É preciso tomar consciência de que todas as espécies são importantes e todos têm o mesmo direito à vida. Além disso, existe o benefício da natureza para as pessoas, que mostra a importância da natureza para a saúde do ser humano como por exemplo a presença dessas aves na cidade, que traz alegria para os moradores. Hoje as pessoas sentem a necessidade de estar em contato com a natureza porque traz bem-estar, estimula a criatividade, entre outros benefícios. Então se é necessário esse contato, também é importante o papel de todos em ajudar a proteger. Isso passa por criar condições de abrigo e alimento para as aves, como priorizar o verde, com o plantio de árvores de espécies nativas que dão flores e frutos, por exemplo. Trazendo a natureza perto do ser humano também se traz os benefícios dela”, ressalta.

*com informações de O Progresso