Por Viviane Freitas | 21 junho, 2021 - 10:10
Em meio à pior crise hídrica dos últimos 90 anos, o país volta a discutir os riscos de ter apagões e de apelar a um racionamento, alternativa encontrada para a crise em 2001. Falhas no planejamento e na operação do sistema elétrico, bem como no modelo de formação de preços de energia, são apontadas como as causas por trás da situação que já afeta a inflação, ameaça o crescimento econômico e pode até colocar em xeque o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
Presidente da PSR, maior consultoria de energia do País, Luiz Barroso afirma que o planejamento do setor é centrado na chamada garantia física, indicador que traduz quanto uma usina contribui para a segurança do suprimento. “O problema é que, no Brasil, a garantia física nem garante, nem é física”, diz. Ele explica que a garantia física é calculada com base em modelos computacionais que precisam ser aperfeiçoados – a metodologia foi definida em 2004. “Ela não representa a expectativa de produção de uma usina e sim seu valor econômico ao sistema”, diz.
Se não traduz o que ocorre com a geração de energia, a garantia física é usada como referência para o quanto elas podem vender em contratos – ou seja, possui importância comercial. É por isso que há resistência a qualquer iniciativa do governo de recálculo das garantias físicas e de ajuste desses números para patamares mais realistas. Nos últimos 20 anos, destaca Barroso, houve só uma revisão, em 2017, e ainda assim muitas empresas foram à Justiça para não perder receita. Uma garantia física superestimada, como a que o País tem hoje, significa, também, menor necessidade de contratação de mais usinas em leilões para ofertar energia porque o sistema diz que a quantidade é suficiente.
Além disso, o modelo de cálculo de preços, também usado para estimar a garantia física, não representa em detalhes o parque gerador. Tampouco é alimentado com dados relativos às mudanças climáticas, que afetam as chuvas, e ao uso múltiplo das águas.
“Em muitas usinas, não conseguimos armazenar mais água porque precisamos manter um fluxo mínimo de água para atender outros usos. E isso não é bem representado no cálculo da garantia física pela simplificação do modelo”, diz. “Em momento de estresse, o ideal é fechar o ralo para encher a pia, mas isso não é simples.”
Para ele, o sistema vai mudar, com hidrelétricas como bateria, compensando a geração das fontes intermitentes, como solar e eólica. “As renováveis ajudam a compensar a variabilidade das hidrelétricas”, afirma.
23 novembro, 2024
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