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Morre aos 66 anos Maguila, deixando um legado no boxe brasileiro

Ex-peso-pesado sofria de demência pugilística causada por traumas na cabeça durante a carreira

Por João Paulo Ferreira | 24 outubro, 2024 - 14:41

O Brasil perdeu uma de suas grandes lendas do boxe. José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Maguila, faleceu nesta quinta-feira, 24 de outubro de 2024, em São Paulo, aos 66 anos. O ex-lutador, ícone do peso-pesado, lutava contra a encefalopatia traumática crônica, também chamada de demência pugilística, diagnosticada em 2013. Sua morte foi confirmada por sua esposa, Irani Pinheiro, em entrevista à TV Record.

Maguila nasceu em Aracaju, no dia 11 de julho de 1958, e construiu uma trajetória de sucesso ao longo de 17 anos no boxe, somando 85 lutas, com 77 vitórias (61 por nocaute), sete derrotas e um empate. Carismático e conhecido por suas entrevistas descontraídas, ele conquistou o público brasileiro, enfrentando grandes nomes do esporte como Evander Holyfield e George Foreman.

A jornada de Maguila: dos primeiros passos no boxe ao título mundial

O interesse pelo boxe surgiu na infância, enquanto assistia a lutas de Muhammad Ali e Éder Jofre em uma TV preto e branco na casa de um vizinho. Aos 14 anos, mudou-se para São Paulo para trabalhar como ajudante de pedreiro e enfrentou muitas dificuldades, inclusive a fome. O boxe começou a fazer parte de sua vida em 1979, e sua estreia oficial nos ringues aconteceu dois anos depois, em 1981.

Em 1983, Maguila conquistou seu primeiro título nacional ao vencer Waldemar Paulino no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, e manteve o domínio no boxe brasileiro até 1995. O título sul-americano veio em 1984, após um nocaute no argentino Juan Antonio Figueroa. Em 1995, ele se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial dos pesos-pesados ao vencer Johnny Nelson e conquistar o cinturão da Federação Mundial de Boxe (WBF).

Encontros históricos no ringue: Holyfield e Foreman

Maguila protagonizou duelos memoráveis, como contra Evander Holyfield, em 1989, e George Foreman, em 1990. Na luta contra Holyfield, o brasileiro vinha embalado por 18 vitórias consecutivas, mas foi nocauteado no segundo round. Um ano depois, enfrentou Foreman em Las Vegas e, novamente, saiu derrotado no segundo assalto. Apesar das derrotas, esses confrontos marcaram sua carreira e consolidaram sua reputação como um dos grandes pugilistas do Brasil.

Além do esporte: a vida fora dos ringues

Fora dos ringues, Maguila se aventurou na música e lançou o álbum “Vida de Campeão” em 2009, que incluía sambas consagrados e uma música de sua autoria. Também participou de programas de TV e chegou a atuar como comentarista. Em 2021, foi homenageado como tema de enredo no desfile virtual da escola de samba “Me Chama Que Eu Vou”.

Em 2015, um projeto para um filme sobre sua vida, com o ator Babu Santana no papel principal, chegou a ser anunciado, mas as gravações foram interrompidas por falta de patrocínio.

A luta contra a demência pugilística

Em 2013, Maguila foi diagnosticado com demência pugilística, uma condição neurodegenerativa associada a traumas repetidos na cabeça. Os sintomas começaram de forma sutil, com esquecimentos comuns, mas evoluíram para desorientação e episódios de agressividade. Em 2018, ele decidiu doar seu cérebro para estudos, numa tentativa de ajudar na compreensão das consequências dos impactos no esporte. Nos últimos anos, viveu em uma clínica em Itu, onde recebia cuidados especializados.

Mesmo enfrentando os desafios da doença, Maguila manteve seu bom humor e carinho pelos fãs, deixando uma mensagem de agradecimento ao público brasileiro em uma de suas últimas entrevistas.

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