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Fraternidade Sem Fronteiras: Conheça essa ONG de Campo Grande que ajuda pessoas no Brasil e no mundo

Confira a entrevista com o presidente Wagner Moura

Por João Paulo Ferreira | 21 fevereiro, 2020 - 10:30

Um movimento fraterno, sem fronteiras ideológicas, religiosas ou territoriais, construído por muitas mãos e que pudesse minimizar um pouco da desigualdade social no mundo. Foi com esta proposta que nasceu, há dez anos, a Fraternidade Sem Fronteiras (FSF), ONG humanitária fundada e presidida por Wagner Moura. Nesta entrevista, ele conta um pouco da filosofia africana Ubuntu, que tem inspirado a atuação da FSF, que possui 45 polos de trabalho, mantendo centros de acolhimento e oferecendo alimentação, saúde, formação profissionalizante, educação, cultivo sustentável e construção de casas para famílias em alta situação de vulnerabilidade social, no Brasil e no mundo. A ONG, cuja sede funciona em Campo Grande (MS), abraça, ainda, projetos voltados para crianças com microcefalia e doenças raras. Moura adianta, também, neste bate papo, as novidades do IV Encontro Nacional Fraternidade Sem Fronteiras, que ocorrerá na capital paulista, de 17 a 19 de abril deste ano. Confira:

A filosofia Ubuntu, que prega que “eu sou porque nós somos”, tem sido bastante difundida pela FSF. No que ela dialoga com a proposta da FSF?

Viver uma fraternidade genuína ainda é um grande desafio no mundo atual. Isso porque ainda somos muito individualistas. A fraternidade nos nivela, nos faz olhar o semelhante como irmão, nos faz sermos mais solidários e mais humanos. Ubuntu é um conceito semelhante, que vem de uma filosofia e ética africana provinda dos antepassados, que relembra a essência da nossa humanidade. Acredito, piamente, que só poderemos ser felizes quando nosso próximo também estiver feliz e isso ilustra o conceito de fraternidade. Afinal, quando buscamos trabalhar em prol da felicidade do outro, estamos sendo irmãos.

Quais os principais valores desta filosofia?

A filosofia Ubuntu permeia os seguintes valores: Compaixão, porque a partir do momento em que nós abrimos para sentir a dor de outra pessoa, abrimos também o nosso potencial humano de ação na tentativa honesta de ajuda-la; União, porque quando fazemos parte de uma aldeia universal em que estamos todos ligados uns aos outros, ninguém é feliz sozinho, ninguém veio ao mundo sozinho, ninguém aprendeu a falar sozinho. Tudo que sabemos hoje aprendemos com outros seres humanos. É entendimento de que somos parte de uma humanidade e devemos trabalhar juntos por ela; e Compartilhamento, haja vista que o mundo tem recursos suficientes para todos. Quando apreendermos a compartilhar não haverá mais fome no mundo, não haverá mais pessoas vivendo nas ruas e as desigualdades se reduzirão. Quando compartilhamos – sejam recursos, conhecimentos, sentimentos -, geramos uma força que beneficia o outro e a nós mesmos. Estes valores nunca são trabalhados de forma solitária. Sempre andam de mãos dadas com outros tais como gentileza, perdão, humildade e solidariedade, por exemplo.

De que forma este tema será explorado no IV Encontro Nacional Fraternidade Sem Fronteiras?

A filosofia Ubuntu estará presente em todas os painéis do IV Encontro, uma vez que os valores Ubuntu são os valores da Fraternidade sem Fronteiras e são trabalhados em todo movimento.

 Que exemplos da filosofia você teria, na sua experiência pela África, que evidenciam melhor estes valores?

Temos vários. Um deles é a história de Maick, que vivia há quatro anos no campo de refugiados Dzaleka. Fugiu de seu país para sobreviver. Sua casa foi atacada e bombardeada. Quando o conheci, fui informado de que sua família toda havia sido morta. Em dezembro de 2018, Maick encontrou sua irmã no Facebook e descobriu que toda sua família estava viva. No ataque, todos conseguiram fugir com vida. Ele pediu ajuda para a Fraternidade sem Fronteiras para voltar ao Congo, com o objetivo de encontrar seus familiares. Nós, então, demos todo o apoio para esse encontro. Quando chegou lá, o Maick fez uma vídeochamada com a Clarissa Paz, coordenadora do projeto Nação Ubuntu e mostrou todos seus familiares (mãe, pai, irmãos e primos), assim como a sua casa, linda, grande, com todos vivendo em uma boa condição financeira e em segurança. A Clarissa perguntou-lhe: “Maick, você não vai voltar para o campo de refugiados mais, não é? Voltar para a extrema pobreza, com tantas dificuldades”. Ele respondeu: “Estou muito feliz, encontrei minha família biológica, que tanto amo, mas hoje eu tenho uma família muito maior, uma família universal. Eu queria sair do campo de refugiados para ir atrás de dinheiro, mas agora com a Fraternidade sem Fronteiras, eu vi que não preciso ir atrás do dinheiro. Eu posso só servir meus irmãos. Encontrei minha missão e estou voltando sim”. Hoje, Maick é um dos coordenadores do projeto Nação Ubuntu, no campo de refugiados Dzaleka, no Malawi. A experiência e as escolhas de Maick evidenciam, claramente, o que está por trás da filosofia Ubuntu.

Que mensagem você gostaria de deixar para o público do IV Encontro FSF?

É uma excelente oportunidade de vivenciar a teoria e prática do amor, em sua expressão mais genuína. É uma imersão, uma viagem para dentro de si, que eu recomendo a todos, que ainda não tiveram essa experiência.

 

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