Por Viviane Freitas | 30 setembro, 2021 - 11:50
Em alusão ao “Setembro Amarelo”, mês de prevenção ao suicídio, a médica psiquiatra Nathalia Neres da Ros faz um alerta diferente sobre como ajudar pessoas que estejam em risco de cometer um ato tão extremo. Ela publicou em sua rede social uma carta que, a partir da experiência da profissional de Medicina, sintetizam como pensa uma pessoa com pensamentos suicidas.
Nathália tem 11 anos dedicados à psiquiatria. Nesse tempo, acompanhou a mudança na forma como se trata o tema em público.
“Alguns anos atrás se acreditava que não deveríamos falar sobre isso, porque poderia suscitar nas pessoas que estivessem pensando a fazer, como se isso pudesse incitar o paciente ao suicídio, mas com o tempo e as pesquisas, se pode entender o contrário. Falar sobre suicídio ajuda a pessoa doente que esteja pensando em suicídio a se abrir, a falar sobre e isso pode salvar vidas. Falar sobre suicídio é fornecer abertura. Não podemos ignorar um pedido de ajuda”, explica.
Para compor o material, Nathalia reuniu faladas ouvidas de pacientes ao longo da última década de atendimento em Psiquiatria. “Eu já ouvi a ideia de suicídio sendo exposta de muitas maneiras diferentes, e quis tentar passar o quanto o paciente sofre, resiste e luta no processo de pensar sobre o suicídio para que as pessoas comecem a olhar para isso de forma mais empática”, afirma a médica.
Para a médica, é preciso entender o processo que pode levar alguém a dar fim à própria existência, deixar de lado os julgamentos e estender a mão. “A depressão é uma doença. Ela é uma falha neuroquímica cerebral que promove um desequilíbrio, um não funcionamento do cérebro”, explica Nathalia.
Confira a carta:
“Eu não quero mais viver.
Não, não é isso.
Não quero mais isso em que minha vida se transformou. Isso que deve ter outro nome, porque eu vivia antes e sei que isso aqui não é viver.
Eu repito apenas. Repito dias tediosos, previsíveis e insuportáveis.
Meu cérebro costumava funcionar, sabia? Eu era capaz de tomar decisões. Pensamentos se concatenavam em planos e eu prosseguia a executá-los. Assim, subi vários degraus pela história.
Agora paro diante do armário sem saber pegar uma calça, com uma neblina no juízo.
Eu também sabia sentir coisas, havia colorido em minha mente. As manhãs podiam ser interessantes, tristes, assustadoras ou alegres. E eu gostava de me surpreender em como a noite terminaria.
Agora, sinto vazio. Não há prazer, existe um silêncio absurdo de entonações.
Meu corpo se mexia, movimentava, dormia, comia, dançava. Agora dói.
Você consegue entender, não é? Sei que outros como eu já te disseram.
Eu não quero morrer, eu preciso de folga.
É ridículo quanto tempo se passou desde que eu não pense em você todos os dias, apavorado de que possam me descobrir.
O que me assusta mais? Conseguir ou falhar?
Ando no fio da navalha, entre a vergonha de que alguém veja nos meus olhos o que cogito e o cansaço de mais um dia sem mim, aquele bom e velho eu que me deixou.
Alguém me falou de doença e ajuda e remédio e cabeça erguida. Engraçado, você não acha? Não tenho esperança, não faz sentido que tudo isso seja apenas uma falha química de neurônios.
Eu não quero sobreviver. Quero voltar a viver.
Por gentileza, Dona Morte, você saberia me dizer se estou vivo?
Eu visto um sorriso que estava pendurado na saída de casa e tento mais um dia.”
Procure ajuda
Se você identificou pensamentos como os descritos na carta acima pode pedir ajuda para o CVV (Centro de Valorização da Vida), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio. O atendimento é voluntária e gratuito, sob total sigilo. Pode ser acessado por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. O telefone é o 188.
Em Campo Grande, há também o GAV (Grupo de Apoio à Vida), que presta atendimento gratuito pelos telefones: 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99973-8682, todos sem identificador de chamadas. O horário de funcionamento das 7h às 23h, inclusive sábados, domingos e feriados.
Você também pode ir até uma unidade básica de saúde, passar por consulta e pedir encaminhamento para ser atendido em um CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial).
22 novembro, 2024
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