Por Redação | 24 fevereiro, 2021 - 16:46
Por alguns segundos, o agente de aeroporto Raphael Cavaleiro, de 35 anos, pôde se esquecer da pandemia de Covid-19 para curtir um abraço coletivo recebido de um casal de surdos com os filhos pequenos, em Campo Grande, no início de fevereiro.
O gesto foi a forma encontrada pela família – que havia caído em um golpe ao comprar passagens áreas falsas – para agradecê-lo depois que ele se ofereceu para pagar, de última hora, parte do valor dos bilhetes verdadeiros.
De acordo com o agente, uma das filhas do casal, uma garota de 9 anos, foi quem conversou com ele.
Segundo Raphael, o expediente já havia terminado, mas ele continuou o serviço para atender clientes de um voo cancelado. “Eu já tinha finalizado os trabalhos administrativos e um casal me abordou. Eles tinham mais duas crianças de colo e a menina de 9 anos, porta-voz deles. Muito eloquente, ela conversou comigo, disse que estava indo viajar e me entregou o papel dos bilhetes. De cara, quando abri, já desconfiei que era um golpe”, relembrou.
Ao confirmar que realmente não havia reserva no sistema e também o relato da menina, a qual contou que o pai comprou a passagem com um contato da rede social Facebook e a pessoa o bloqueou logo após mandar a foto do comprovante, ele explicou o ocorrido para a família.
“Eles são leigos, mas eu bati o olho no papel e vi que tinha algo errado ali. Logo que informei a menina, ela repassou a informação e os pais ficaram bem agitados e logo a menina começou a chorar. Ela falou que eles não tinham como custear a passagem, principalmente porque o pai está desempregado. Pedi licença, fui para a sala perto do meu armário e desabei a chorar. Pensei um pouco, me recompus e chamei o meu coordenador, dizendo que estava disposto a custear as passagens”, contou.
Em seguida, chamou a família e informou que estava disposto a pagar integralmente as passagens. Foi aí que a menina disse que a família tinha um restante de dinheiro e ele complementou. “A menina ficou tão feliz. Ela disse: ‘tio, você vai viajar com a gente?’ E eu respondi: ‘Não, meu coração. O tio trabalha aqui interno’. E ela complementou: ‘Poxa, queria que fosse com a gente'”, falou.
Diante a atitude carinhosa da menina, ele continuou acompanhando a família até a sala de embarque. “Foi neste momento que a menina me disse que era a primeira vez que estava viajando. Mostrei o avião chegando para ela, lembro que nem piscava direito. Quando chegou, nós seguimos os protocolos de assepsia por conta da Covid e depois iniciamos o embarque. Mas, antes, eles me deram um abraço repentino, o casal por cima e a menina pela cintura. Senti toda a gratidão deles”, explicou.
Reconhecimento
Três dias depois, Cavaleiro foi surpreendido com a ligação do presidente da companhia aérea. “Ele estava agradecendo o que eu havia feito e também falei ontem com o CEO das linhas aéreas. Tinha feito tudo de forma bem discreta, falando baixo com eles para não gerar constrangimento, comentei somente com um amigo meu que ajudou a pegar a bagagem. Não imaginava toda essa repercussão”, afirmou.
No entanto, ainda conforme Cavaleiro, a gerência ficou sabendo do ocorrido. Mesmo assim, com 5 anos de experiência, o agente conta que soube de várias histórias, em que as pessoas estavam vulneráveis e ele ajudou, sendo que é algo que “preferia que ficasse nos bastidores”, pois, a intenção é somente solucionar o problema.
“Já aconteceu com outras pessoas aqui, de comprarem em sites genéricos. Não é a primeira vez que eu ajudo. Teve um senhor que havia sido sequestrado, vítima do golpe do falso frete e tinha somente a passagem de avião da empresa dele. Levaram até a roupa. Ele tinha um sapato porque o policial havia dado a ele e me mostrou o boletim de ocorrência. Percebi na hora do raio-x e ele confessou que estava 48 horas sem comer. Me emocionei da mesma forma e almoçamos juntos antes dele pegar o voo. São coisas que a gente guarda, jamais esquece”, finalizou.
Por Graziela Rezende do G1
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