Por Redação | 1 março, 2021 - 14:25
Diz a lenda que durante a Guerra do Paraguai, os soldados de ambos os lados (Brasil e Paraguai), durante os tempos de folga entre um combate e outro, ou às vezes até mesmo em pleno combate, gostavam de tomar um chimarrão para repor os ânimos.
HISTÓRIA DO TERERÉ
Diz a lenda que durante a Guerra do Paraguai, os soldados de ambos os lados (Brasil e Paraguai), durante os tempos de folga entre um combate e outro, ou às vezes até mesmo em pleno combate, gostavam de tomar um chimarrão para repor os ânimos. Como o intervalo entre esses combates era muito curto, não havia tempo para esquentar a água, assim eles começaram a tomar frio e gostaram do sabor.
Já uma história mais verídica diz que o tereré (também se pode pronunciar tererê) teria surgido na Guerra do Chaco (entre Paraguai e Bolívia, 1932-1935) quando as tropas começaram a beber mate frio para não acender fogos que denunciariam sua posição. O tereré se tornaria uma bebida popular no Paraguai mais recentemente, introduzida pelos soldados no quotidiano do país através da região do Chaco.
Outra versão da origem do tereré, diz respeito aos mensú (escravos ervateiros do nordeste do Paraguai e da Argentina, até meados do século XX), se eles fossem surpreendidos pelos capangas fazendo fogo para tomar mate seriam brutalmente torturados, por isso tomavam o mate frio. Presumivelmente por esta razão que estes mensús introduziram este costume no exército paraguaio, quando lá tiveram que servir, durante a guerra.
No entanto, crê-se que o tereré já era ingerido pelos índios Guarani, e existem relatos desde o século XVII onde alguns jesuítas aprenderam com eles as virtudes do mate (ka’a em guarani). Os mesmos jesuítas elogiaram os efeitos da erva, afirmando que este matava a sede melhor do que água pura. Segundo alguns, os índios Guarani não só tomam o mate (ou tereré), mas também a erva em infusão (como chá), também fumando a erva bruta e cheiravam como rapé.
No Brasil, o tereré tem um consumo tão antigo, quanto no país de origem, visto que a região oeste do estado do Paraná e sul de Mato Grosso do Sul tiveram, durante as colonizações de espanhóis e portugueses, fronteiras indefinidas. Aos demais estados, foi levado pelos paraguaios e índios Guarani e kaiowá, que passaram a pertencer ao país quando da nova definição da fronteira entre Brasil e Paraguai, anexando imensos ervais nativos ao estado do Mato Grosso, atual Mato Grosso do Sul.
Quanto ao ciclo da erva-mate No século XIX, o Paraguai se isola dos outros países, proibindo a exportação de erva-mate para fora do país. Isto faz a Argentina e o Uruguai substituírem a erva-mate paraguaia pela brasileira, desenvolvendo o seu cultivo no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, regiões outrora despovoadas. É o chamado Ciclo da Erva-Mate.
Todo ciclo brasileiro da erva-mate do tereré teve início na cidade de Ponta Porã, que faz fronteira com Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia. Quando isto ocorreu Ponta Porã pertencia ao Paraguai, por essa razão Ponta Porã é considerada a capital do tereré fora do Paraguai, tanto que o símbolo da cidade é uma cuia de tereré e chimarrão.
Características
Diferentemente do chimarrão, que é feito com água quente, o tereré é consumido com água fria, resultando em uma bebida agradável e refrescante. Em sua produção, a erva mate utilizada no preparo do tereré difere do chimarrão por ter de ficar em repouso por volta de oito meses, em local seco, e de ser triturada grossa depois disso. Devido ao fato das folhas serem cortadas grossas, ao contrário do chimarrão, o tereré não tem tantos problemas com o entupimento da bomba. Quando isso ocorre, geralmente é devido a uma grande quantidade de mate em pó, indicando má-qualidade da erva usada.
Guampa e bomba
Tradicionalmente, o recipiente usado para servir o tereré é a Guampa, fabricado com parte de um chifre de bovino, com uma das extremidades lacrada com madeira ou couro de boi, e o seu exterior revestido por verniz. Usam-se também copos de aço inox, vidro, plástico, porcelana ou madeira, preferencialmente de Palo santo ( Bursera Graveolens).
A bomba é utilizada para filtrar a infusão do tereré, para que não se absorva o pó da erva triturada. Antes do contato com Portugueses e espanhóis os índios usavam como bomba ossos de pássaros e finas taquaras. Atualmente encontramos bombas feitas de ouro, prata, alpaca, aço inox, Palo Santo e também de plástico descartável. Evita-se o uso de bombas feitas de ferro porque a oxidação do mesmo altera o sabor da infusão.
Embora a palavra “Guampa” seja comum em uma área em que a influência predominante é guarani, sua origem é do quíchua, em que significa “chifre”. O chifre bovino é frequentemente utilizado como recipiente em todo o Cone Sul do continente sul-americano. O chifre (uma espécie de cantil utilizado na Argentina), por exemplo, é feito de chifre de boi.
Erva Mate
Com vitaminas do complexo B, a erva-mate participa do aproveitamento do açúcar nos músculos, nervos e atividade cerebral do homem. As vitaminas C e E agem como defesa orgânica e como benefício sobre os tecidos do organismo, sais minerais juntamente com a cafeína, ajudam o trabalho cardíaco e a circulação do sangue, diminuindo a tensão arterial, pois a cafeína atua como vasodilatador. Em tais situações, também pode ser suprida a sensação de fome.
A erva-mate favorece a diurese, sendo de grande utilidade em moléstias da bexiga. Atua também sobre o tubo digestivo, ativando os movimentos peristálticos; facilita a digestão, suaviza os embaraços gástricos, favorecendo a evacuação e a mictação. A sua ação estimulante é mais prolongada que a do café, não deixando efeitos colaterais ou residuais como irritabilidade e insônia.
Pesquisas do Instituto Pasteur de Paris atribuem também a esta erva um papel importantíssimo no processo de regeneração celular. Estudos indicam que os compostos que constituem a erva-mate são: água, celulose, gomas, dextrina, mucilagem, glicose, pentose, substâncias graxas, resina aromática, legumina, albumina, cafeína, teofilina, cafearina, cafamarina, ácido metetânico, ácido fólico, ácido caféico, ácido virídico, clorofila, colesterina e óleo essencial.
A cafeína, teofilina e teobromina são três alcaloides estreitamente relacionados, encontrados nela e são os compostos mais interessantes sob o ponto de vista terapêutico. O teor de cafeína na erva atinge em média 1,60%, enquanto que nas infusões o valor médio é de 1,10%.
O Tereré
Depois de muita historia e com a água mais gelada e a erva com menos folhas, o então tereré surgiu para deixar nossos dias mais refrescantes. É com muita facilidade que se vê uma roda formada, principalmente durante o dia, na hora de descanso, para o prazeroso ritual de tomá-lo, que acaba sendo, às vezes, até o motivo para boas e novas amizades, além de ajudar a manter as já existentes.
O efeito estimulante da cafeína encontrada no mate usado no tereré, que exerce um poder energético conhecido sobre o sistema nervoso central, estimula o vigor mental, o trabalho cardíaco e a circulação do sangue.
Além de ser uma bebida muito estimulante, elimina a fadiga ativando as funções físicas e mentais, atuando beneficamente sobre os nervos e músculos, favorecendo também o trabalho intelectual. Talvez um dos motivos de ser altamente consumido, além do seu efeito refrescante.
Costumes e Tradições
A bebida tereré, assim como todos os aspectos a ela relacionados, é uma tradição praticamente inerente ao Paraguai, mas hoje já é uma tradição firmemente estabelecida entre os países sul-americanos que tiveram parte de suas historias construídas pelo consumo da erva-mate.
No Paraguai
No Paraguai o tereré tem um sentido tradicional, medicamentoso e até mesmo cerimonial. É um símbolo de amizade. O tereré com remédios refrescantes é ingerido pela manhã, enquanto o da tarde ou da noite é engolido sem qualquer adição. Há pausa em todo o serviço para se consumir o tereré de manhã e a tarde.
No Brasil
Por sua proximidade com o Paraguai, os estados do Mato Grosso do Sul e Paraná são os maiores apreciadores do mate gelado. E principalmente em Mato Grosso do Sul é consumido a todo o momento, é uma bebida apreciada por todos, desde crianças até os mais velhos e sempre o mais novo serve o mais velho, só pode parar se agradecer e todos da roda de tereré ouvirem.
Por conta da migração inter-regional, pode-se observar o hábito em alguns outros estados, notadamente em Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, São Paulo (oeste do estado), Rondônia e também no Acre.
A palavra é onomatopeica tereré, referindo-se ao som emitido pela última chupada do bulbo. Esse som é tacitamente exigido dentro da cerimônia do tereré, uma vez que confirma que todo o líquido foi consumido, deixando o recipiente pronto para a próxima pessoa.
Normalmente é consumida em rodas de amigos ao final da tarde e todos compartilham da mesma guampa. Utiliza-se, muito frequentemente, a expressão “téres” no lugar de tereré, um processo natural de apócope por que passam algumas palavras.
O tereré normalmente é tomado de forma rápida, como se tivesse tomando um copo d’agua quando está com sede. O tereré é consumido tanto no verão como no inverno.
Curiosidades do Tereré
O nome científico da erva-mate usada tradicionalmente no tereré é Ilex Paraguariensis?
Para se tornar uma guampa, o chifre é extraído do boi, ’esvaziado’, e fica enterrado na lama por uns 15 dias para acabar com as impurezas, e depois desse tempo ela está pronta para o uso?
Por tradição, em uma roda, deve-se servir o tereré em sentido antihorário, devido ao movimento feito pelos laçadores?
A constituição da erva do tereré é de 50% de folhas e 50% de galhos da sua árvore, enquanto que o chimarrão é de 70% de folhas e 30% de galhos?
Quando uma pessoa não quer mais ser servida em uma roda de tereré, basta ao devolver a guampa ao servidor, dizer obrigado?
Os peões tomam tereré com água dos rios por onde passa a comitiva, logo o tereré deles não é gelado e sim frio.
OS MANDAMENTOS DO TERERÉ
Tomar Tereré todos os dias
Não cuspir o Tereré
Não mexer na bomba
Não colocar açúcar
Não dizer que é anti-higiênico
Não deixar um tereré pela metade
Tomar até escutar o “ronco”, ao final do Tereré
Jamais chamar a guampa de cuia
Não alterar a ordem em que o Tereré é servido
Não demorar com a guampa na mão
Não derrubar a erva sagrada
Amar o tereré sobre muitas coisas
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