Por Viviane Freitas | 20 outubro, 2021 - 9:37
O Dia dia do Poeta é comemorado hoje, 20 de outubro, mas será que você conhece o poeta mais famoso de Mato Grosso do Sul? É o grandioso Manoel de Barros, autor de muitos poemas que marcam gerações. Em Campo Grande, há um espaço especial dedicado ao escritor na Avenida Afonso Pena.
Conhecido por sua criatividade simples, recheadas de reflexões profundas ampliadas à ótica da infância, o poeta de MS não se rendeu aos limites da morte e continua perpetuando sua sabedoria e constrangimento diante de um mundo controverso e sem rédeas. Manoel de Barros sempre reproduziu a vida no seu melhor lado.
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916, filho de João Venceslau Barros, capataz com influência naquela região. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense.
Morava em Campo Grande (MS). Era advogado, fazendeiro e poeta.
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O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
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E nessa data tão especial como não recordar de sua sutileza ao destacar nossas riquezas? A terra que o cobriu sempre foi seu ponto de partida para invencionices literárias. Ele amava Mato Grosso do Sul como amou a poesia. Fez da nossa história seu pincel, e dos corações a tela perfeita para uma pintura jamais desgastada. Manoel ‘pintava e bordava’ em palavras.
O representante intrínseco da nossa literatura deixou um legado de contemporaneidade e autenticidade que precisamos conservar. Barros foi um poeta dos dias atuais, que reforçava o que se via nos olhos das crianças. Não uma poesia infantilizada, mas pura e sensata.
No final de seus dias, já não lembrava mais de ninguém. Os duros golpes da vida, após a perda dos dois filhos homens, lhe prejudicaram a vontade de transmitir inspiração. Mas seu conteúdo é eternizado. Antes ele já havia nos ensinado que “o ser biológico é sujeito à variação do tempo, o poeta não”.
23 novembro, 2024
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