Por João Paulo Ferreira | 12 novembro, 2024 - 15:32
A Concha Acústica Helena Meirelles, situada no Parque das Nações Indígenas em Campo Grande, será o palco da próxima edição do projeto Som da Concha, no domingo, 17 de novembro, a partir das 18 horas. O evento, com entrada gratuita, promete uma noite de celebração à diversidade cultural de Mato Grosso do Sul, reunindo ritmos tradicionais brasileiros e temáticas sociais e indígenas em um espetáculo que valoriza as raízes regionais. Entre as atrações estão o duo Vozmecê e a rapper indígena MC Anarandà, duas potentes expressões musicais locais que refletem o cenário artístico pulsante e engajado do estado.
O projeto Som da Concha foi criado pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) em 2008, e atualmente é coordenado pela Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc). O objetivo do projeto é valorizar a música sul-mato-grossense, promovendo artistas locais e ampliando o acesso da população às diferentes manifestações culturais. Neste ano, o projeto expande suas apresentações para além da capital, alcançando cidades do interior, o que reforça o compromisso do governo estadual em fortalecer a cultura e democratizar o acesso à arte e música regionais.
A noite terá início com o show de lançamento do primeiro álbum do duo Vozmecê, intitulado “TROPICAPOLCA: Neotropical do Mato”. Formado pelo casal Namaria Schneider e Pedro Fattori, o duo traz uma mistura única de ritmos brasileiros, como samba, maracatu, axé, carimbó e baião, incorporando ainda a polca paraguaia e influências de rock alternativo, criando um som com forte identidade fronteiriça. A proposta do álbum reflete a trajetória artística do casal, que passou por uma verdadeira aventura cultural e musical ao viajar por 17 estados brasileiros, vivendo em uma van e realizando apresentações de rua para absorver as diversas expressões culturais do país.
No palco, Vozmecê será acompanhado por uma banda composta por Ju Souc na bateria, André Fattori no baixo, Gustavo Gauto no trompete, Ossuna Braza nos teclados, harpa paraguaia, charango boliviano e flauta pífano, além de Paula Fregatto na guitarra. A formação com músicos de diferentes faixas etárias e influências musicais contribui para uma performance rica e plural, que dialoga com a proposta do álbum. Além de proporcionar uma sonoridade complexa e variada, o show também traz temas sociais nas letras, abordando tópicos como igualdade de gênero, construção da feminilidade e a hegemonia cultural, refletindo a formação artística e acadêmica dos membros do grupo.
O duo Vozmecê já se destacou em eventos importantes de Mato Grosso do Sul, como o Campão Cultural e o Festival de Inverno de Bonito, e foi premiado com a Melhor Música Popular no Festival Universitário da Canção pela canção “Tio Sam”. Com “TROPICAPOLCA”, Vozmecê busca oferecer ao público uma experiência imersiva que une tradição e modernidade, resgatando elementos culturais sul-americanos e os revitalizando com uma perspectiva atual.
Fechando a noite, MC Anarandà apresenta “Kunã kuera em rima (Mulheres em Rima)”, um espetáculo que funde o rap com elementos da tradição indígena Guarani Kaiowá. Nascida na Aldeia Guapoy, em Amambai, Anarandà é uma das vozes mais fortes e representativas da resistência indígena no estado. Em seu nome, que em Guarani significa “Mulher flor brilhante carismática e comunicadora”, Anarandà incorpora em sua arte a cultura e os ensinamentos de suas ancestrais, como sua mãe e avó, ambas rezadeiras tradicionais. Suas canções, interpretadas em português e guarani, abordam questões sociais como a violência contra as mulheres e a luta pelos direitos dos povos indígenas, usando o rap como uma ferramenta de resistência e conscientização.
A apresentação de MC Anarandà também conta com a presença de Kezia Miranda, uma multi-instrumentista que toca violino, violoncelo e flauta, e do DJ Magão. Juntos, eles integram sons de ambientes naturais e da floresta ao show, criando uma atmosfera que conecta o público com a ancestralidade indígena. Além disso, a rezadeira Nhadesy Roseli participa do espetáculo abrindo a apresentação com cânticos e rezas tradicionais, reforçando o elo com a espiritualidade Guarani e a importância da preservação cultural.
As letras de Anarandà têm um caráter social e revolucionário, sendo conhecida não apenas pelos shows, mas também por realizar palestras e intervenções culturais que promovem o entendimento e a valorização da cultura Guarani Kaiowá. Músicas como “Feminicídio” são um exemplo desse compromisso, denunciando as violências sofridas por mulheres indígenas e transformando-se em um verdadeiro manifesto em defesa de seu povo.
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