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“Berço da Humanidade” tem fósseis bem mais antigos do que achávamos

Por Viviane Freitas | 4 julho, 2022 - 17:59

Os fósseis encontrados nas Cavernas de Sterkfontein, na África do Sul, são bem mais antigos do que se pensava anteriormente, com um novo estudo datando o material do Patrimônio Mundial da UNESCO como tendo um milhão de anos a mais do que a idade marcada em pesquisas anteriores.

As Cavernas de Sterkfontein são comumente referidas pelo seu nome mais conhecido: “O Berço da Humanidade”. O sítio arqueológico começou a ser escavado no final do século XIX, quando mineradores encontraram vários fósseis hominídeos antigos e os levaram para a apreciação de cientistas especializados. Desde então, a região de aproximados 47 mil hectares (ha) tem nos trazido amplas descobertas sobre vários de nossos precursores.

“Nossas datas demonstram as limitações do senso comum aceito de que o Australopithecus africanus, o qual é amplamente representado em Sterkfontein, descende do Australopithecus afarensis. A contemporaneidade das duas espécies sugere que uma árvore genealógica mais completa prevaleceu mais cedo no processo evolucionário humano”, diz trecho do estudo publicado.

Em outras palavras: antes, pensava-se que o A. africanus era descendente do A. afarensis. O estudo, no entanto, comprova que as duas espécies viveram mais ou menos na mesma época, a algo entre 3,4 e 3,6 milhões de anos.

A descoberta é de grande relevância pois, antes da publicação do estudo, o consenso científico dizia que o leste africano era a provável origem dos hominídeos que eventualmente evoluíram para o gênero Homo ao qual nós, humanos contemporâneos, pertencemos (nós estamos no subgrupo Homo sapiens sapiens, descendentes do Homo sapiens original)

De acordo com Darryl Granger, autor do estudo e pesquisador antropólogo, as Cavernas de Sterkfontein têm mais exemplares de fósseis Australopithecus que em qualquer outro lugar no mundo, “mas é difícil estabelecer uma data firme para eles. Esses fósseis, na verdade, são velhos – muito mais velhos do que pensávamos”, ele, que é professor de ciências antropólogas na Universidade Purdue, comentou.

Como método, o time comandado pelo acadêmico analisou o decaimento radioativo das rochas soterradas na mesma época dos fósseis, ao contrário de cálculos estimados anteriormente, que se baseavam em depósitos de calcita.

A conclusão é a de que os hominídeos sul-africanos eram contemporâneos próximos daqueles no leste da África, e tiveram tempo para evoluir para o gênero Homo que conhecemos hoje. Anteriormente, a noção prevalecente era a de que o material sul-africano era “jovem demais” para isso.

“Esse novo e importante trabalho de estabelecimento de datas altera a era especulada de alguns dos fósseis mais interessantes na pesquisa da evolução humana, e também de um dos fósseis mais icônicos da África do Sul, a chamada ‘Senhorita Ples’, em pelo menos um milhão de anos para quando, no leste da África, nós estávamos encontrando outros hominídeos precursores, como a ‘Lucy’”, disse Dominic Stratford, diretor de pesquisa nas cavernas e co-autor do paper.

O estudo completo foi publicado e revisado pelo jornal científico Proceedings of the National Academy of Sciences.

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