“Paolo Bracho” se passa por cachorro desaparecido e engana família na Capital

Quando José Eduardo chegou até a casa onde estavam cuidando de um cachorro recém-encontrado, ele teve certeza que era Ikki. O animal foi até ele, pulou, deu “lambeijos” e atendeu pelo nome. Para completar, tinha praticamente todas as manchinhas iguais ao do vira-lata, que estava na família há 7 anos.

Passados dois dias, o comportamento apesar de ser muito semelhante, começou a levantar dúvidas no tutor, José Eduardo Ramos de Carvalho, 33 anos, que achou estranho Ikki subir no sofá. Após uma análise meticulosa em todas as manchinhas, a verdade caiu como uma bomba.  “Ele enganou até minha avó”, justifica. “Se eu não falasse, ela nunca ia perceber. Eu o conheço há 7 anos, talvez pela emoção não reparei, mas o comportamento dele é idêntico, tanto que minha avó o chama de Ikki e ele responde. Não consigo entender”, ri José.

Ikki tem um problema neurológico, que o faz se morder quando está muito nervoso ou feliz. Até isso “Paolo Bracho” imitou. O nome, uma referência “A Usurpadora”, novela que fez sucesso nos anos 90, caiu como uma luva ao cachorrinho, que em nenhum momento estranhou a nova vida. “Quando eu o encontrei, o dog me abraçou, pulou, beijou, igual o Ikki fazia e respondia pelo nome. Tudo, tudo igual. As marcas, o toc, etc. Chorei junto. Até a marquinha de coração do lado direito e tal”, pontua.

No fim das contas, a chegada de Paolo fez toda a diferença na casa de José. Com o falecimento do “paivô” há quatro meses, o luto ainda era muito recente. “Desde que meu paivô faleceu, eu não via minha avó reagir. Está de pé, feliz, cozinhando, dando risada da história, porque né. Adotei e vai ficar. E espero que o Ikki reapareça”, diz, José, esperançoso.

Sumiço e reencontro do cachorro

Ikki sumiu no dia 25 de janeiro, às 5h30 da manhã, no bairro Lar do Trabalhador, em Campo Grande, durante um passeio matinal. “Eu sempre saia de manhã para o Ikki fazer suas necessidades, recolhia e voltava com ele ao lado. Ikki sempre foi um cachorro especial, tem um probleminha neuro bem complexo, então, só aceita as coisas dele, do jeito dele. Nisso ele sumiu enquanto eu estava entrando para dentro da casa, junto com ele”, conta.

José correu atrás, mas não alcançou. “Andei pelo bairro todo, não achei. Começamos a saga de procurar na internet, nas ruas. Rasguei até sacos de animais abandonados próximo à Praça do Papa, avisei a Polícia e ao CCZ (Centro de Controle de Zoonoses)de tão desesperador. Depois enterrei, com todo carinho e respeito e avisei, porque né, eram anjinhos desovados ali e poderiam ser o meu ou de qualquer outra pessoa”, acredita.

Foi então que na sexta-feira (28), José encontrou uma publicação que anunciava um cachorro encontrado no bairro Tarumã. “Liguei por vídeo, ele lambeu a tela do celular. Mas, depois descobri que eram dois dogs diferentes, mesmo estando 1.5km de distância um do outro”, ri.

Em casa, Paolo Bracho agiu como se conhecesse todo mundo, a avó, os dois gatos e tratou super bem a cachorrinha Pandora, adotada recentemente. “Deu um beijinho nela, mostrou a casa para ela, até no fundo. Beijou os gatos e ficou super à vontade, tranquilão. Ninguém, nem minha avó desconfiou”, relembra. “Na primeira noite quando foi resgatado, dormiu comigo e me abraçou com as duas patinhas. Não desgrudava por nada. Tipo por gratidão”.

Na comparação entre as fotos, Paolo pareceu mais branquinho – pode ser só o banho que fez diferença – e levemente mais adepto de sonecas no sofá. “Eu estou morrendo de vergonha porque demorou dois dias para eu juntar os pontos todos”, ri.