Por Viviane Freitas | 17 novembro, 2021 - 10:55
Por que você tem a sensação de respirar respeito à natureza em todos os hotéis, passeios, restaurantes e lojas da região de Bonito e Pantanal Sul ?Por que até mesmo em coisas simples, como telefones públicos e pequenos objetos de decoração, esse respeito se mostra tão vivo? Porque muitas décadas antes da palavra ecologia ser constante em nossas vidas, um homem solitário que viveu em Bonito fez dela o sentido de sua existência.
Vamos voltar no tempo…
O ano era 1940. Surge na cidade de Bonito um senhorzinho de estatura baixa, magro, com cabelos cacheados e loiros, olhos e pele clara. Usava uma roupa larga. Seu braço esquerdo estava sempre coberto.
Sua vida era um mistério. Ele não falava, ninguém sabe de onde ele veio, onde nasceu. Se comunicava muito, mas apenas com gestos. Apontava para o céu várias vezes quando queria dizer algo.
Vivia andando pela cidade, acompanhado por carneirinhos. Não tinha casa, não pedia comida e também não aceitava quando alguém oferecia. Se alimentava de frutas, mel, peixes e mandioca, pegos ali mesmo, direto na Serra da Bodoquena.
Sinhozinho também ensinava as pessoas a plantar e colher. Talvez houvesse nisso algo mais profundo, como verá adiante. Porque em relação à ecologia, sempre colhemos o que plantamos.
Sinhozinho arrebanhava multidões
A história algumas vezes se refere a ele como um frei, mas que não batizava ninguém. Outras vezes como uma profeta, como reencarnação de São João Batista.
Mestre Divino, como as pessoas o chamavam, era muito conhecido por ser curandeiro e realizador de milagres, utilizando apenas cinzas e água em suas sessões de cura.
Ele formava um grande grupo de pessoas que o acompanhavam durante suas peregrinações, construía várias cruzes de madeira e fincava no chão, que simbolizava segurança por onde passava.
A maioria delas já não existe. A santa cruz em frente ao morro da cobra persiste. E sob ela está guardado o ensinamento de Sinhozinho que se tornaria a essência de Bonito.
Naquela época era muito comum as pessoas morrerem com picada de cobra, e uma de suas principais histórias – a lenda – foi dele ter aprisionado uma serpente gigante dentro de uma pedra em uma gruta no alto de uma montanha, e o feito foi selado por uma de suas cruzes.
Rumores dizem que a serpente ainda vive no subsolo de Bonito, e se a cruz for descoberta e retirada, ela se soltará para devorar todos que não cuidam da natureza.
De certa forma é isso o que acontece quando o ser humano devasta o meio ambiente, destruindo ecossistemas. O relato de vírus que se proliferaram a partir de mercados que comercializam espécies silvestres parece familiar para você?
O Sumiço
Sinhozinho desapareceu sem deixar vestígios. Os mais velhos contam que ele foi preso por pessoas que se sentiram incomodadas pela grande quantidade de seguidores que cativou. Talvez ele tenha sido morto.
Talvez tenha apenas seguido o seu destino: espalhar por aí a semente do respeito à ecologia.
Sinhozinho vive nas cachoeiras, de Bonito ao Pantanal Sul
Muitas cachoeiras de passeios junto ao Rio Formoso homenageiam Sinhozinho. O rio que muitos dizem ser o mais belo e imponente de Bonito viu Sinhozinho beber de suas águas cristalinas.
Há quem acredite que as águas dos rios de Bonito, não só as do Formoso, tenham poder de cura. É verdade se acreditar que todos os males do corpo comecem pela alma: um banho de cachoeira aqui é, principalmente, um banho de generosidade da natureza.
A vida e a memória de Sinhozinho são cultuadas até hoje pelos moradores de Bonito. No lugar em que ele passou várias noites foi erguida uma pequena capela que atrai centenas de fiéis todos os anos, principalmente no mês de outubro.
No feriado de Nossa Senhora acontecem carreatas pedindo cura e proteção, e também em agradecimento pela saúde. A capela de Sinhozinho está a 20 minutos do centro de Bonito.
Ela não é uma atração turística. É preservada de forma solidária por pessoas da comunidade. Você poderá visitá-la com o seu carro. Sem pagar nada. E levando de recordação, no coração, o que existe de mais valioso em Bonito. O amor à natureza e o respeito a todos os seres.
23 novembro, 2024
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