Por Viviane Freitas | 18 setembro, 2021 - 15:21
Foi-se o tempo em que frango era mistura de quem não tem dinheiro. Com a alta nos preços dos alimentos, até o produto, rico em proteínas, começou a faltar na geladeira dos brasileiros. A solução para não abandonar de vez a comida foi migrar para partes menos nobre da galinha. Os pés, antes jogados no lixo por algumas famílias, passou a se tornar o prato principal da janta.
No entanto, como já sabemos, alegria de pobre dura pouco. Com o aumento no consumo, o preço do corte mais barato aumentou 100% no último ano. Outros cortes mais baratos, como moela e pescoço, também entraram no radar do consumidor.
A cozinheira Elizete Freitas, moradora de Campo Grande, aderiu de vez ao pé de frango. “Sempre gostei, mas agora virou a mistura possível, pois é o que dá para comprar. A carne bovina perdeu vez em casa. Primeiro é o frango, depois o porco.
Dizem que pé de frango faz bem para os ossos, mas eu digo que faz bem para o bolso.” Segundo ela, porém, já está sentindo no bolso. “Agora estão vendendo o corte congelado, quando você vai fazer a conta, o quilo sai a mais de R$ 10”, disse.
Para o representante comercial Henrique Laureano Ribeiro, de Sorocaba, que trabalha com venda da carne há 14 anos, a disparada no preço do pé de frango decorre da exportação para países da Ásia e da queda no poder aquisitivo da população.
“Outros cortes mais baratos, como o pescoço e a moela, também estão tendo maior procura”, disse. A moela, que em janeiro era vendida a R$ 6,50 no atacado, hoje tem o preço do quilo em R$ 9 80 para que o comerciante revenda a R$ 15.
Ele explica que cortes mais nobres do frango também subiram porque passaram a ser opção para quem consumia carne bovina. O peito com osso subiu de R$ 6,60 para R$ 10,80 no atacado — alta de 63% — e o filezinho (sassami), de R$ 8,50 para R$ 14 — aumento de 65%.
Frango inteiro mais caro
Para além dos pés, o frango inteiro também ficou bem mais caro. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agronomia da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), o quilo do frango inteiro está custando por volta de R$ 8,41.
O valor representa um aumento de 43% no preço do produto. A alta é a maior registrada desde 2004, quando o CEPA começou a monitorar a oscilação de valores da mercadoria.
Pelo jeito, vai demorar para que o peito de frango volte para o prato das pessoas de classes mais baixas. Se bobear, é capaz que o pé da galinha vire um item gourmet, uma vez que o preço do alimento pode chegar a patamares que antes era ocupado por comidas consideradas nobres.
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