Por Viviane Freitas | 14 fevereiro, 2024 - 13:49
O último boletim do Serviço Geológico do Brasil, órgão vinculado ao Ministério das Minas e Energia, indica que todos os rios que compõem a bacia pantaneira estão com níveis muito abaixo da média histórica para esta época do ano, sugerindo que o Rio Paraguai poderá atingir os níveis mais baixos dos últimos 124 anos neste ano. De acordo com os registros históricos desde 1900, em 1964 o nível da régua de Ladário chegou a atingir 61 centímetros abaixo de zero. Naquela época, o Pantanal enfrentou 11 anos de estiagens, representando o período mais crítico já registrado.
Atualmente, estamos vivenciando uma situação semelhante aos anos 60 do século passado, de acordo com o pesquisador Carlos Padovani, da Embrapa Pantanal. Em 2021, o rio chegou perto desse recorde negativo, atingindo 60 centímetros abaixo de zero em outubro. Para o pesquisador, a pequena cheia do ano passado, quando o Rio Paraguai atingiu 4,24 metros, foi apenas um evento excepcional em meio a uma estiagem prolongada que o Pantanal vem enfrentando desde 2020.
Em meados de fevereiro de 2021, a água em Ladário estava em 1,4 metro. Agora, de acordo com os dados da Marinha, está em apenas 70 centímetros. Ou seja, o rio está 70 centímetros abaixo do nível registrado em fevereiro, que foi o segundo pior ano da história das medições. Segundo o boletim do Serviço Geológico do Brasil, a média histórica para esta época do ano é de 1,94 metro. Atualmente, o Rio Paraguai está 1,25 metro abaixo desse valor, correspondente a meados de fevereiro.
Na região de Cáceres, em Mato Grosso, o nível normal para esta época seria de 4,2 metros, mas no dia 8, quando foi divulgado o último boletim do Ministério das Minas e Energia, estava em apenas 1,6 metro. É dessa região que a maior parte da água que abastece o Rio Paraguai e provoca as cheias pantaneiras costuma vir. Os boletins anteriores do Ministério das Minas e Energia mostram que desde o início da temporada de chuvas, em outubro do ano passado, o nível tanto do Rio Paraguai quanto de seus afluentes em Mato Grosso tem ficado abaixo da média histórica.
Em Barra dos Bugres, a 160 quilômetros de Cuiabá, o nível normal do rio no início de fevereiro é de 3,2 metros. No fim da semana passada, de acordo com o Ministério das Minas e Energia, estava em apenas 96 centímetros, com tendência de queda acentuada (66 centímetros em 14 dias). A região de Santo Antônio de Leverger indica que períodos críticos estão por vir. Nesta época do ano, a média histórica do Rio Cuiabá é de 6,21 metros, mas no final da semana passada estava em apenas 3,34 metros.
A situação parece ainda pior abaixo de Ladário, no Forte Coimbra. Os dados do Ministério das Minas e Energia mostram que o nível em 8 de fevereiro estava 56 centímetros abaixo de zero, enquanto a média histórica para meados de fevereiro é de 1,49. Portanto, o rio teria que subir 2,05 metros para alcançar a normalidade. Na régua de Porto Murtinho, o nível estava em 1,67 metro no último fim de semana, enquanto a média histórica é de 3,28 metros.
Os rios Miranda e Aquidauana, que são fundamentais para o abastecimento do Rio Paraguai alguns quilômetros abaixo de Ladário, também receberam pouca água nesta temporada de chuvas. O nível normal do Rio Miranda nesta época é de 4,64 metros, mas está em apenas 1,64 metro em medição feita na cidade com o mesmo nome. O Rio Aquidauana apresenta situação semelhante. Na medição feita no Distrito de Palmeira, o nível estava em 1,84 metro, enquanto a média histórica é de 2,52 metros.
Esses níveis mais baixos são resultado do fenômeno El Niño e vão além de simples estatísticas. Segundo Rogério Iehle, que administra um hotel e um pesqueiro no Passo do Lontra, às margens do Rio Miranda, o movimento de turistas diminui em pelo menos 30% em anos sem cheias no Pantanal.
Além disso, a falta de chuvas aumenta o risco de incêndios florestais, que em 2020 e 2021 destruíram milhões de hectares de vegetação no bioma pantaneiro. Sem água, o Rio Paraguai também deixa de ser uma via de transporte para minérios e soja. No ano passado, quando o pico do rio em Ladário atingiu 4,24 metros, foram transportadas 1,62 milhões de toneladas de soja e 6,05 milhões de toneladas de minério. Isso representou um aumento de 73% em relação ao ano anterior.
Havia a expectativa de superar esses números em 2024, mas devido à falta de água, os embarques ainda não começaram. O transporte de minério só pode ser retomado quando o nível do rio ultrapassa um metro em Ladário, o que normalmente ocorre em meados de janeiro.
25 novembro, 2024
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