Por Redação | 13 julho, 2022 - 8:59
Os dias não têm sido fáceis para a filhote de onça-pintada, Leventina. Com apenas oito meses, ela foi rejeitada pela mãe, Ferinha, e a partir de então precisou aprender a sobreviver sozinha, no Pantanal, na região de Miranda (MS). As onças-pintadas costumam passar um ano e meio junto às mães até alcançarem a independência.
O biólogo e guia da Organização Não Governamental (ONG) Onçafari, Bruno Sartori Reis, que acompanha de perto o desenrolar desta história e explicou o comportamento animal ao site g1.
O biólogo relata que o dia 18 de maio foi a última vez que as onças foram vistas juntas. Inicialmente, a organização não cogitou o abandono. “É normal, ás vezes, uma fêmea deixar uma filhotinha assim escondida para ir caçar, ou às vezes se um macho aparecer por perto, ela vai com esse macho para longe para copular com ele algumas vezes, tirando ele de perto da filhote, isso acontece, é normal um filhote ficar dois, três dias sozinho”, comenta Bruno.
Contudo, o biólogo pontua que se passaram quase 20 dias e eles não avistaram novamente Ferinha e Leventina juntas. “Chegamos a pensar que a Leventina tinha morrido. Até que em um belo dia a gente viu ela bebendo água em um açude, super magrinha, sozinha, como se tivesse perdida”, lembra.
A primeira hipótese que os profissionais pensaram era que as onças haviam se perdido uma da outra. “Talvez a Ferinha tivesse deixado a Leventina em um lugar e ela tivesse saído caminhando para outro, porque ela estava em uma fase bem exploradora. Mas, foi passando tempo e elas começaram a aparecer perto uma da outra. Elas estavam sempre em distâncias relativamente pequenas, pensando em onças, e a gente não via a Ferinha procurando a Leventina”, cita Bruno.
Foi então que o primeiro sinal de alerta se acendeu. “A gente começou a pensar: ‘será que elas não estão se achando mesmo ou foi abandono?’”.
A equipe da ONG passou a observar o comportamento das onças, até que um dia viram Ferinha e Leventina se encontrando, diante de uma carcaça de animal morto. “A Ferinha foi super agressiva com a Leventina, puxando a carcaça para longe, mostrando bastante dente para ela, rosnando, e nesse dia a gente bateu o martelo de que tinha sido abandono mesmo, não tinha nada disso de desencontro”, relata Bruno.
O biólogo Bruno Sartori Reis explica que é comum que felinos e outras espécies abandonem o filhote ao perceberem que ele não está se desenvolvendo como deveria. “A fêmea não vai ficar cuidando de um filhote que não vai vingar”, completa.
Ele comenta que até com animais em cativeiro esse tipo de comportamento é avistado. “A gente tenta devolver o filhote para a mãe e é muito comum a mãe continuar rejeitando e dali a alguns poucos dias, semanas, o filhote morre e a gente, na hora de fazer a necrópsia, descobre que o filhote estava com alguma má formação de órgão, algum problema ósseo, que a mãe percebeu realmente antes”, explica Bruno.
“É algo difícil e duro de ver e tirar essa humanização, mas é preciso olhar de uma forma mais fria, pensando realmente em respostas evolutivas que foram tendo para identificar esses animais”, aponta o biólogo.
O destino de Leventina é incerto. Atualmente, a onça-pintada está com aproximadamente 10 meses e se alimenta de carcaças de animais predados por outras onças.
Diante das razões que levam a uma mãe abandonar o filhote no mundo animal, fica a dúvida se Leventina possui algum problema de desenvolvimento. “A olho nu é muito difícil [afirmar que a ela tem alguma doença]. Quando ela estava com a Ferinha ainda, a gente via ela muito magrinha, ela não estava ganhando tanto peso, tivemos algumas observações dela, quando ela ainda era menor, como se ela estivesse demorando para trocar os dentes, o que poderia dizer que ela estava com alguma falta de nutrientes, também poderia ser vários outros fatores”, cita o biólogo.
Ele comenta que somente com coleta e análise de materiais biológicos de Leventina é que seria possível confirmar ou descartar um problema com ela. A única certeza é que Leventina permanecerá sendo observada pelos profissionais.
“Ela foi abandonada com oito meses, ela acompanharia a mãe até um ano e meio, então vamos supor que ela chegue a um ano e meio, a dois, provavelmente a gente pode bater o martelo que ela conseguiu sobreviver e se desenvolver com as próprias técnicas de caça e tudo o mais, mas ela vai ter que aprender tudo sozinha”, destaca Bruno.
25 novembro, 2024
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