Por Viviane Freitas | 25 outubro, 2021 - 8:59
Desde o dia 12 de abril o Rio Paraguai, principal rio do Pantanal e um dos mais importantes da América do Sul, vinha registrando sucessivas diminuições no seu nível, até ficar a 1cm do menor já registrado no último sábado. Desde então o rio vem subindo e está 5 cm mais alto que no fim de semana.
Apesar da melhora, é muito cedo para comemorar ainda na opinião do pesquisador da Embrapa Pantanal Carlos Padovani. “Ainda estamos com o rio muito baixo, próximo do mínimo histórico, e nas próximas semanas deve oscilar muito, tanto para cima quanto para baixo, até o final de novembro”, explica o especialista em clima e hidrologia da região, que não projeta melhora significativa nos próximos meses:
“Todas as estações rio acima e em rios como o Cuiabá estão baixos, não tem como esperar mesmo para os próximos meses que a chuva restaure o nível do rio como ocorria nas últimas décadas”.
Padovani utiliza como referência não exclusiva a medição feita a 111 anos pela Marinha do Brasil na cidade de Ladário/MS, vizinha a Corumbá. Trata-se “do melhor termômetro para identificar secas no Pantanal e na Bacia do Alto Paraguai”.
Engenheiro agrononomo e diretor da ONG SOS Pantanal, Felipe Dias explica que o nível do rio Paraguai é crucial para a inundação de toda a planície, em efeito cascata: “Quando a água de rios como o Miranda ou o Cuiabá chegam ao Paraguai cheio, ela é represada e transborda para todo o Pantanal, o que não acontece quando o nível lá em Ladário está baixo”.
Ele conta ainda que se dependesse apenas das chuvas locais, toda a região seria um semi-árido semelhante à Caatinga. “Cerca de 80% da água daqui vem da área norte, em Mato Grosso; quando soube que outubro choveria acima da média até bati palma, mas me preocupa muito que novembro e todo o verão tem previsão para menos que o comum sob efeito do La Niña. Venho torcendo muito, mas não temos nenhuma melhora em vista”, relata.
Mais um ano de La Niña
O verão de 2019 e 2020 teve chuvas abaixo da média em grande parte das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país muito em função do evento La Niña, que desloca os “rios voadores” da Amazônia que normalmente fluem até o litoral paulista para o Nordeste do país.
“As únicas partes do Sudeste que acabam recebendo mais chuva que a média com La Niña são aquelas no norte da região, já quase na Bahia, então é quase uma certeza de que não teremos chuvas acima do esperado neste verão, e devemos continuar com rios e reservatórios secos em 2022”, afirma Michelle Reboita, doutora em meteorologia pela Universidade Federal de Itajubá.
Segundo os dados da Marinha obtidos pela reportagem do Yahoo!, 1964 foi o ano mais seco da história no Pantanal e Alto Paraguai. Enquanto o governo de João Goulart era deposto pelos militares, o rio recuava até chegar à marca de -0,61m em 21 de outubro. Nos dez anos seguintes as planícies inundáveis do Pantanal ficaram secas.
Boletim do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) prevê chuvas abaixo da média ao longo do verão para grande parte do Pantanal, Cerrado e Caatinga — justamente as regiões já afetadas pela estiagem neste ano. Esta diminuição das chuvas pode ter como explicação a volta do fenômeno La Niña. Segundo a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, dos EUA), após um período de relativo equilíbrio atmosférico desde o início do ano, o La Niña se intensificará nas próximas semanas e não deve perder força até o outono de 2022, diminuindo as chuvas na América do Sul justamente no período chuvoso, responsável pela recarga de rios e aquíferos.
Ação do homem
A maior seca já registrada no centro-sul em 111 anos, e que vem deixando os reservatórios do maior núcleo de geração hidrelétrica do país vazios é fruto de uma soma de fenômenos climáticos.
Michelle explica que desde 1995 o Oceano Atlântico vem se aquecendo mais com o aquecimento global, e mais ao norte do Equador, o que resulta em menos chuvas sobre a floresta Amazônica, que por sua vez é principal fonte de umidade e chuvas sobre o centro-sul do país.
“O aquecimento do Oceano já está deslocado; aí o homem vem e afeta a hidrologia local, tanto na Amazônia quanto no Sudeste, o que leva a ter menor umidade nos chamados rios voadores, e menor efeitos deles”, comenta a docente.
O gerente logístico Rafael Riva resume o sentimento de quem observa ansioso as águas do rio do qual tantos dependem: “Há dias que eu estou otimista, outros pessimista quanto ao clima por aqui, mas o pior mesmo é a incerteza de não saber o que pensar ou esperar há pelo menos seis meses”.
25 novembro, 2024
25 novembro, 2024
25 novembro, 2024
Feito com amor ♥ no glorioso Estado de Mato Grosso do Sul - Design por Argo Soluções