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Pantanal reage depois de dois anos de seca e queimadas

Na Serra do Amolar, um importante corredor de biodiversidade do Pantanal, a vegetação está renascendo e os animais, voltando.

Por Viviane Freitas | 9 novembro, 2021 - 8:54

Em um importante corredor de biodiversidade do Pantanal, a vegetação está renascendo e os animais, voltando. O solo queimado destaca a teimosia das palmeiras de carandá já rebrotando. Mas os troncos carbonizados são cicatrizes que não nos deixam esquecer.

O mesmo bosque queimou nos últimos dois anos. Difícil acreditar que sobreviveriam. Em setembro, os brigadistas levaram semanas para apagar o incêndio no local. Voltar e ver o verde é um alívio. Eles continuam monitorando.

“A temperatura aumentando, o calor está imenso. Não está tendo cheia, está muito seco, às vezes, a falta de consciência do ser humano acaba acarretando isso”, diz Gustavo Vargas, chefe de brigada do ICMBio.

Há dois meses, Elias gravou algumas imagens na fazenda dele. Depois da chuva, nem parece o mesmo lugar. “Com muita dificuldade, mas vai”, definiu.

A luta pela sobrevivência vira um espetáculo quando vem a água. O colhereiro vasculha o fundo do lago, os cabeças-secas pescam em bando. O jacaré abocanha o peixe, mas a ariranha ficou sem.

Na Serra do Amolar, a paisagem já mudou. Ainda falta água nas baías, mas o verde volta aos poucos. Um ano atrás, mal dava para ver o horizonte. Toda a região queimou durante os incêndios de 2020. Restaram cinzas. E a dúvida era quanto à capacidade de recuperação da natureza no Pantanal.

zogue-zogue, uma espécie rara de macaco que só existe na Serra do Amolar, resistiu e voltou. “A gente vê essa regeneração no dia a dia, nos dá força, nos dá esperança e o principal: a sensação de dever cumprido”, diz Sergio Barreto, biólogo do Instituto Homem Pantaneiro.

Na margem do rio, uma surpresa no fim do dia: um filhotão de onça pintada. Durante os incêndios, uma das maiores preocupações era com esses animais ameaçados de extinção, que têm refúgio no Pantanal. Agora que não tem mais fogo, eles estão voltando, saudáveis.

Curioso, o animal olha para a reportagem. A preocupação é com a estação das chuvas, que vai de outubro a março, e começou com pouco volume de água.

“A recuperação não é a mesma se fosse um ano chuvoso, que tivesse cheia. Então, as coisas vão se combinando e levando a uma incerteza do que vem pela frente”, explica Walfrido Tomaz, pesquisador da Embrapa Pantanal.

A prevenção fez a diferença na Serra do Amolar. A brigada montada com o dinheiro de doações abriu mais de 50 quilômetros de aceiros e protegeu as reservas. Esse ano o fogo não chegou lá.

“A gente também está fazendo coleta de semente dentro das nossas RPPNs, da nossa vegetação nativa para gente poder estar replicando nesses viveiros”, diz Geovane Tonolli, veterinário do Instituto Homem Pantaneiro.

“Passar o que a gente passou no resgate, recolhendo bicho morto, tirando, andando em cinzas, e hoje a gente está podendo ver esse Pantanal florido, esse Pantanal verde. A gente sabe que não é o Pantanal ideal, ele está vindo a passo curto, mas com constância”, continuou o veterinário.

“Nós nos sentimos parte de um grande desafio que nós temos daqui para frente, que é interromper o processo de perda, recuperar aquilo que foi perdido e construir, de fato, com mais responsabilidade, um novo futuro com bases sociais, econômicas e ambientais dialogando e equilibrando os seus interesses”, diz Ângelo Rabelo, presidente do IHP.

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