Por Redação | 17 setembro, 2024 - 13:05
Durante uma sessão administrativa do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 24ª Região, transmitida ao vivo pelo YouTube, no dia 5 de setembro, o presidente do tribunal, Desembargador João Marcelo, fez uma declaração surpreendente. Ele admitiu que sua filha participou de um processo seletivo para uma vaga na Seara, empresa do grupo JBS, no período em que suspendeu a execução de ações judiciais milionárias contra a companhia. A fala veio após o Juiz Márcio Alexandre, contra quem João Marcelo abriu quatro processos disciplinares, o acusar de perseguição.
Em seu pronunciamento, o desembargador demonstrou emoção em vários momentos e recebeu aplausos dos servidores presentes. Ele disse que as acusações feitas pelo Juiz Márcio se baseavam no fato de sua filha ter tentado uma vaga na empresa, mas ressaltou que a contratação nunca ocorreu. “Então a sociedade tem o direito, palavras do Juiz Márcio, de saber: Eu fiz algo de errado, mas por causa de um emprego que jamais foi aceito. É isso?”, questionou João Marcelo.
O caso está relacionado à suspensão de mais de 2.800 execuções individuais e coletivas, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões, contra a Seara, que o desembargador determinou em março de 2024. A suspensão foi justificada por três reclamações de um advogado de Dourados, mas Márcio Alexandre alega que a interrupção das execuções ocorreu logo após confrontar João Marcelo sobre o possível conflito de interesses envolvendo sua filha.
Juiz Márcio Alexandre reforça denúncias e acusa perseguição
O Juiz Márcio Alexandre, por sua vez, afirmou que a confissão pública de João Marcelo apenas reforça suas suspeitas. Segundo ele, após questionar o desembargador sobre o envolvimento de sua filha com a Seara, começou a ser “perseguido injustamente”, o que culminou em várias decisões que interferiram na condução das execuções milionárias.
Márcio também alegou que João Marcelo falsificou motivos para abrir procedimentos correicionais contra ele e que provas foram manipuladas para justificar seu afastamento dos casos. “Ele está dando um tiro no pé do próprio Tribunal, porque ao negar a validade daquela limitação temporal feita pela negociação das partes no processo, fatalmente existirão milhares de ações individuais discutindo essa questão”, declarou o juiz.
Contradições e novos questionamentos surgem
A confissão de João Marcelo durante a sessão do TRT também gerou questionamentos sobre declarações anteriores. Em entrevista ao site Campo Grande News, ele havia negado a acusação de que sua filha estaria sendo contratada pela Seara, classificando-a como “completamente falsa”. Contudo, na sessão do dia 5 de setembro, ele reconheceu publicamente o processo seletivo, afirmando que a filha acabou desistindo da vaga.
O desembargador também se contradisse ao falar sobre a abertura de procedimentos contra si pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Inicialmente, afirmou ter sido pego de surpresa pela imprensa sobre a investigação, mas depois admitiu que foi informado pela defesa de Márcio Alexandre sobre o processo em curso.
Desdobramentos e próximas etapas
João Marcelo afirmou estar pronto para responder às investigações e reforçou que suas decisões judiciais não foram influenciadas pelo processo de seleção da filha. “Que a verdade apareça, é tudo que eu mais quero”, afirmou ele. No entanto, o caso continua sob investigação, com o CNJ apurando as denúncias de perseguição e suspeição no TRT.
Enquanto isso, Márcio Alexandre segue denunciando supostos abusos cometidos contra ele, incluindo a abertura de quatro sindicâncias baseadas em atos judiciais praticados há mais de cinco anos. Ele afirma que as acusações contra ele são meras “narrativas” para manchar sua reputação e afastá-lo da condução das execuções contra a Seara.
Possíveis implicações judiciais e administrativas
As declarações públicas de João Marcelo e as acusações de Márcio Alexandre levantam questões sobre a condução dos processos judiciais contra a Seara e a possível interferência de interesses pessoais. A investigação do CNJ será crucial para esclarecer os fatos e determinar se houve desvio de conduta por parte do desembargador.
A situação também acende um debate sobre o uso de cargos públicos para influenciar decisões judiciais e administrativas, com possíveis implicações para o futuro dos dois magistrados envolvidos.
4 dezembro, 2024
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