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Mãe e padrasto de Sophia são condenados a 52 anos de prisão

Julgamento encerra com decisão unânime para responsáveis pela morte da criança de 2 anos em Campo Grande

Por João Paulo Ferreira | 5 dezembro, 2024 - 21:45

Após dois dias de julgamento na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande, o caso da pequena Sophia Ocampo, morta em janeiro de 2023 aos 2 anos e 7 meses, chegou ao fim com a condenação da mãe e do padrasto. Christian Campoçano Leitheim, de 27 anos, e Stephanie de Jesus da Silva, de 26, foram sentenciados a um total de 52 anos de prisão pelos crimes cometidos contra a menina. A decisão, proferida na noite de quinta-feira (5), foi amplamente comemorada como um ato de justiça.

Christian recebeu a pena mais severa: 32 anos de prisão, sendo 20 anos por homicídio doloso qualificado e mais 12 anos pelo estupro de vulnerável. Stephanie foi condenada a 20 anos por homicídio qualificado por omissão, em razão de ter permitido os abusos e a morte da filha.


História de negligência e violência

O caso de Sophia mobilizou Campo Grande e o país desde janeiro de 2023. A menina, que vivia com a mãe e o padrasto, sofria uma rotina de violência e negligência. Foram mais de 30 idas a unidades de saúde, sempre com justificativas para hematomas e ferimentos que, segundo os réus, eram causados por brincadeiras ou acidentes domésticos. No entanto, evidências apresentadas no julgamento apontaram que Sophia foi vítima de tortura, agressões sistemáticas e violência sexual.

Em mensagens recuperadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Stephanie e Christian discutiam como justificar os machucados de Sophia. “Vamos dizer que caiu no parquinho”, sugeria Christian em uma das conversas. Em outra troca de mensagens, ele admitia ter agredido a menina e fazia comentários que indicavam total desrespeito à criança.


Depoimentos e provas esmagadoras

O julgamento foi marcado por depoimentos fortes e provas contundentes. O médico legista Fabrício Sampaio relatou que Sophia sofreu um trauma fatal na coluna cervical, além de hemorragias internas que causaram sua morte. O exame necroscópico revelou ainda que a criança havia sido estuprada pelo menos 21 dias antes do óbito, com sinais de violência recente.

Uma testemunha revelou que Christian, ao saber da morte de Sophia, afirmou: “A culpa foi minha, eu matei a Sofia.” Por outro lado, Stephanie se defendeu alegando ter sido vítima de violência doméstica, comparando sua relação com Christian a um “ciclo de abuso”. Porém, mensagens e áudios apresentados pela promotoria desmentiram essa versão, mostrando que ela não apenas sabia das agressões, mas também as incentivava.


Os argumentos das defesas

A defesa de Christian tentou alegar que o padrasto não tinha envolvimento com as agressões fatais, mas apresentou argumentos inconsistentes. Christian chegou a negar o estupro, alegando repulsa por abusadores. Áudios apresentados pela defesa indicavam que ele teria tentado reanimar Sophia, mas as evidências médicas apontaram que a criança já estava morta há horas quando foi levada à unidade de saúde.

Já a defesa de Stephanie argumentou que a mãe foi incapaz de proteger a filha por estar aprisionada em um ciclo de violência doméstica. Contudo, a promotoria desmontou essa tese, apresentando mensagens em que Stephanie admitia agredir a filha e ria enquanto instruía Christian a bater na menina.


Impacto e desdobramentos

O caso Sophia expôs falhas no sistema de proteção à criança em Campo Grande. Apesar de denúncias anteriores ao Conselho Tutelar, nenhuma medida foi tomada a tempo de salvar a menina. Sua morte gerou manifestações públicas e um movimento por melhorias no atendimento a crianças vítimas de violência.

Uma das iniciativas foi a criação da Casa da Criança, uma extensão da Casa da Mulher Brasileira, destinada a atender casos de violência infantil. Contudo, até o momento, o projeto não saiu do papel.


Justiça tardia, mas necessária

O júri popular, composto por quatro homens e três mulheres, acolheu integralmente as teses do Ministério Público. A promotora Lívia Guadanhim e o promotor Arturo Bobadilla apresentaram provas irrefutáveis, demonstrando a conivência de Stephanie e a crueldade de Christian.

Durante a leitura da sentença, o pai biológico de Sophia, Jean Ocampo, e seu marido, Igor Andrade, se emocionaram. Ambos acompanharam todo o julgamento, revivendo os momentos mais dolorosos de suas vidas.

A condenação de Christian e Stephanie não apaga a tragédia da curta vida de Sophia, marcada por sofrimento e violência. No entanto, representa um marco importante na luta contra a impunidade em casos de violência infantil.

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