Por João Paulo Ferreira | 3 novembro, 2023 - 14:05
Investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) trouxeram à tona conversas entre Christian Campoçano Leitheim e Stéphanie de Jesus, mãe de Sophia Jesus O’campo, de 2 anos, que detalham a rotina de violência enfrentada pela menina antes de seu falecimento. As provas colhidas corroboram a posição de Maria Isabela Saldanha, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA) da OAB-MS, de que a criança foi sistematicamente torturada.
Em documentos aos quais o G1 teve acesso, há descrição de sessões de tortura e ameaças explicitamente violentas, como uma do padrasto sobre a possibilidade de “quebrar o pescoço” da menina e aplicar “chicotadas cabulosas”. A advogada Maria Isabel destacou que as mensagens evidenciam uma situação que vai além de um “excesso de disciplina”, mencionando que os atos refletem prazer em infligir dor, e não a intenção de educar.
A análise das mensagens recuperadas do telefone de Stéphanie mostra um episódio ocorrido em 2 de dezembro de 2021:
“Ela começou com sem graça de querer pegar tudo na mão dele aí ele foi e entregou, aí tipo, ela começou a bater nele aí ele foi e falou para mim, aí eu fui e briguei com ela. Ai virei para o lado um pouquinho ela foi e bateu nele de novo. Aí eu catei fui e falei com ela de novo, aí eu tava com a caneta da mesa digitalizadora na mão né, aí bem na hora que ela foi bater nele aí eu peguei eu catei e bati bem no dedo dela, aí ela já entortou a boca, eu falei se você chorasse você apanha de novo, ficou quieto, aí não deu mais”.
Outras trocas de mensagens entre mãe e padrasto revelam ainda mais violência. Em 26 de março de 2022, uma conversa alarmante mostra a mãe descrevendo como castigou a criança por chorar:
– “Desde a hora que você saiu ela não para de chorar. Já bati e não adiantou nada” – “Porque você não pega o celular e fala que vai ligar para mim, sei lá, vai tentando assustar ela com alguma coisa”, sugere Christian. – “Eu estou tentando aqui, BO a parada, mas, mesmo assim, minha cabeça está explodindo mais que tava” – “Dá uns tapão nela, ai você vira a cara dela pro colchão e fica segurando porque aí ela para de chorar, é sério, parece até tortura mais não é, porque aí ela fica sem ar e para de chorar, entendeu”.
A situação descrita reflete a urgência de intervenção das autoridades, que, conforme mencionado por Maria Isabela, receberam relatórios do Conselho Tutelar, onde consta que a mãe já havia sido orientada a não agredir a menina. A presidente da CDCA criticou a falha na capacitação dos profissionais em reconhecer e agir diante da violência dissimulada.
A história trágica de Sophia inclui frequentes visitas a unidades de saúde, com mais de 30 atendimentos médicos registrados, incluindo um por fratura na tíbia. As tentativas de Jean O’campo e seu companheiro Igor de Andrade de obter a guarda da criança esbarraram em acusações de homofobia por parte da mãe.
O triste desfecho aconteceu no dia 26 de janeiro de 2023, quando Sophia foi declarada morta na UPA do Bairro Coronel Antonino. O laudo necroscópico apontou traumatismo na coluna cervical como causa da morte e abuso sexual.
4 dezembro, 2024
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