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Cascudo ameaçado de extinção é avistado em caverna de Bonito após 20 anos

Pesquisadores encontraram o cascudo-cego das cavernas durante expedição no Mato Grosso do Sul

Por João Paulo Ferreira | 18 junho, 2024 - 14:16

Imagem ilustrativa

Pesquisadores avistaram o cascudo-cego das cavernas (Ancistrus formoso), uma espécie criticamente ameaçada de extinção, durante uma expedição em Bonito, Mato Grosso do Sul. O animal, com apenas 10 centímetros de comprimento, foi encontrado na nascente do rio Formoso, marcando a primeira observação em duas décadas.

A expedição contou com a participação do Bioparque Pantanal, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com apoio técnico do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul).

Apesar de não ter sido coletado, o avistamento do cascudo-cego é significativo, já que a espécie é endêmica da região, existindo apenas nos sistemas de cavernas Formoso e Formosinho. A presença do animal é um indicador da saúde do ecossistema local, que se mostra menos impactado por atividades humanas e com alta qualidade ambiental.

A diretora-geral do Bioparque Pantanal, Maria Fernanda Balestieri, afirmou que o avistamento do cascudo-cego confirma que a caverna oferece um habitat adequado para sua sobrevivência. “Isso pode levar a esforços de conservação direcionados para proteger a espécie e o local onde vive, ajudando a preservar a biodiversidade da região”, disse. “Além disso, através de estudos, poderemos obter informações valiosas sobre seus hábitos, ecologia e necessidades, dados cruciais para desenvolver estratégias eficazes de conservação e manejo.”

Exemplar coletado há décadas está em laboratório da UFMS- Foto: Leandro Melo

Maria Fernanda ainda enfatizou a importância do trabalho realizado: “A notabilidade se dá principalmente por três fatores: por se tratar de uma espécie criticamente ameaçada de extinção, pela complexidade do trabalho e da logística envolvida em uma expedição em caverna inundada, e pela dificuldade de encontrar pesquisadores e profissionais com expertise para esse tipo de projeto de pesquisa.”

O presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia, Dr. Leandro Melo de Sousa, destacou a importância do avistamento. “Não sabemos quase nada sobre esta espécie; existem pouquíssimos exemplares coletados décadas atrás. Um dos desafios mais difíceis desse tipo de estudo é justamente acessar o ambiente; para entrar numa caverna alagada, é necessário treinamento e planejamento.”

Leandro Sousa, junto com Edmundo Dineli, mestre em geografia e bolsista da CAPES, realizou o mergulho que resultou na observação do cascudo-cego. Eles exploraram 180 metros dentro da caverna para encontrar o animal, que vive nas paredes ao contrário de seus parentes que habitam sob rochas. “Nós fizemos um mergulho extenso, a 180 metros da entrada da caverna, e avistamos o animal em seu habitat natural. Uma característica interessante desse animal é que, ao contrário de seus parentes que vivem sob rochas, ele vive nas paredes”, explicou.

José Sabino, biólogo e doutor em ecologia que descreveu a espécie, ressaltou a importância da descoberta. “Descrever a biodiversidade nos impõe a responsabilidade de aprender e conservar as espécies. Cabe a nós, humanos, prover as condições ambientais para que todas as outras criaturas possam seguir sua jornada.”

O projeto Cascudos do Brasil, liderado pelo Bioparque Pantanal, visa a conservação de cascudos de caverna no Brasil. Heriberto Gimenês Junior, biólogo curador do Bioparque, enfatizou que esta expedição é o início de uma jornada para a conservação da espécie. “Nossa ideia é unir este time de especialistas, cada um contribuindo com sua expertise; nós, como pesquisadores do Bioparque, temos como objetivo aplicar os protocolos de reprodução ex-situ criados no Centro de Conservação do empreendimento que detém o maior acervo de cascudos do mundo, com 104 espécies de todo o Brasil. A partir disso, podemos criar políticas de conservação e realizar estudos populacionais, visando futuros repovoamentos com espécimes nascidos no Bioparque, garantindo que essa espécie não seja extinta na natureza.”

A professora doutora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Maria Elina Bichuette, membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Biodiversidade e Uso Sustentável de Peixes Neotropicais (INTC Peixes), financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), fará o levantamento de dados para obter mais informações sobre a espécie. “Temos uma lacuna de informações sobre como está essa população de cascudos, mas é fundamental entendermos como este animal está distribuído. Temos poucas cavernas inundadas no Brasil, o que torna este animal ainda mais importante. Por ser difícil de encontrar, torna-se raro e, portanto, deve ser um símbolo importante para projetos de conservação de peixes de caverna no Brasil. O mais importante não é apenas mencionar que o animal está ameaçado de extinção, mas trabalhar para retirá-lo desse grau de ameaça.”

Segundo a pesquisadora, desde a descrição da espécie em 1997, não temos informações ecológicas e comportamentais mais detalhadas. Ele será uma espécie guarda-chuva para o estudo da ictiofauna de cavernas; ou seja, sua conservação resulta na preservação de um grande número de outras espécies e seus habitats.

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