Por João Paulo Ferreira | 22 novembro, 2024 - 8:11
Na última quarta-feira (20), o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou que a rede varejista francesa suspenderá a compra de carne proveniente do Mercosul, bloco que inclui Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A decisão foi uma resposta às pressões dos agricultores franceses, que temem a concorrência da carne sul-americana mais barata devido ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Essa medida se alinha com os protestos que têm tomado as ruas da França, com bloqueios e queima de objetos por parte dos produtores locais.
O anúncio gerou um rápido esclarecimento por parte do Carrefour na manhã seguinte, quando a empresa afirmou que a medida afetaria apenas suas lojas na França. O Carrefour explicou que as unidades em outros países, incluindo Brasil e Argentina, continuariam com a compra de carne do Mercosul normalmente, sem alterações. A empresa também ressaltou que a decisão não tem relação com a qualidade da carne, mas sim com uma “demanda do setor agrícola francês” diante de uma crise interna.
Em resposta, autoridades e entidades do setor agropecuário brasileiro reagiram fortemente, acusando a atitude do Carrefour de ser uma medida protecionista e sem justificativa técnica. Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul, classificou a decisão como “lamentável e unilateral”, destacando que a carne brasileira segue rigorosos padrões internacionais de qualidade e sustentabilidade. Verruck também lembrou que a carne produzida no Brasil não é apenas uma commodity, mas um produto de alta qualidade com status internacional.
A Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) também se posicionou contra a decisão, afirmando que o embargo imposto pelo Carrefour é ideológico e mercadológico, sem razão válida para restringir a carne do Mercosul. A entidade reforçou que o Brasil é um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo e que seus produtos atendem aos mais altos padrões sanitários e ambientais, sendo reconhecidos globalmente pela sua qualidade.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) também repudiou a medida, reforçando que o Brasil atende aos rigorosos critérios da União Europeia e que as carnes brasileiras são reconhecidas por suas autoridades sanitárias. O Mapa destacou que o Brasil tem cumprido as exigências de rastreabilidade e transparência, apresentando propostas para a União Europeia sobre modelos eletrônicos de rastreabilidade que contemplam as etapas iniciais do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que entrará em vigor em 2025.
Com a continuidade das críticas, entidades do setor agropecuário, como a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), publicaram uma nota conjunta rebatendo a postura do Carrefour. As entidades argumentaram que, se a carne do Mercosul não é adequada para o mercado francês, não deveria ser considerada boa para nenhum outro mercado onde o Carrefour opera. A Abiec ainda destacou que a medida coloca em risco o próprio negócio da empresa, já que o Brasil é responsável por uma parte significativa das importações de carne bovina da União Europeia, e a produção interna não seria capaz de suprir essa demanda.
As críticas também destacaram a contradição do Carrefour, que mantém cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carne brasileira. A ABPA, por sua vez, chamou a decisão de “equivocada” e afirmou que a restrição é um reflexo de interesses protecionistas, sem levar em consideração os altos padrões de produção da agropecuária brasileira.
A decisão do Carrefour gerou um embate entre a postura protecionista de parte do setor agrícola europeu e a tentativa do Mercosul de demonstrar que sua carne não é apenas competitiva, mas também ética e sustentável. O Brasil, por meio do Mapa e de suas entidades, reiterou que a carne brasileira segue padrões internacionais, com um sistema de defesa agropecuária rigoroso e um compromisso com a sustentabilidade.
A medida também levantou preocupações sobre o impacto no Acordo de Livre Comércio Mercosul-União Europeia, que está em processo de ratificação. Há temores de que essa atitude protecionista de grandes empresas europeias inspire outras companhias a adotar barreiras comerciais semelhantes, o que poderia prejudicar as relações comerciais entre os blocos e afetar a exportação de produtos do Mercosul para a Europa.
Em um contexto mais amplo, a situação também coloca em questão o futuro das relações comerciais entre a União Europeia e o Mercosul, com a carne brasileira no centro do debate sobre qualidade, sustentabilidade e competitividade global.
22 novembro, 2024
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