No coração de Mato Grosso do Sul, o Hospital Ayty, parte do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), em parceria com o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), abriga mais de 60 filhotes órfãos ou gravemente feridos, oferecendo-lhes uma nova chance de sobrevivência. Esses animais são vítimas de tragédias como o tráfico de animais e as queimadas, sendo resgatados por equipes da Polícia Militar Ambiental, do Ibama e do Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap).
Cada filhote traz uma história de superação. Ao atravessarem os portões do Hospital Ayty, são recebidos por uma equipe dedicada, composta por biólogos, veterinários e zootecnistas, que realizam avaliações minuciosas no ambulatório. Mamíferos recém-nascidos, muitas vezes órfãos, são alimentados com mamadeiras e monitorados até que possam se alimentar sozinhos. Já as aves, que necessitam de atenção especial, são alimentadas com papinhas, e o hospital dispõe de áreas seguras para estimular o voo dessas espécies.
Além dos cuidados físicos, os profissionais recriam ambientes naturais para garantir que os filhotes não percam seus comportamentos instintivos, essencial para o eventual retorno à natureza. Segundo o diretor-presidente do Imasul, André Borges, “Cuidar dos filhotes de animais silvestres não é uma tarefa simples. Contamos com uma equipe altamente treinada e dedicada, que diariamente se empenha em oferecer o melhor cuidado a esses pequenos, que são extremamente sensíveis e exigem uma atenção especial. Temos uma boa infraestrutura, que é adequada para garantir o bem-estar desses animais e proporcionar o suporte necessário para sua recuperação e reabilitação”.
Apesar de todos os esforços, nem todos os animais podem ser reintegrados ao seu habitat. Aqueles com comprometimentos graves são encaminhados para instituições de pesquisa ou criadouros conservacionistas, onde continuam a contribuir para a preservação de suas espécies. A bióloga Fernanda Mayer, Gestora de Atividades Ambientais do Imasul, explica: “Nosso objetivo é não só garantir que os animais recebam os nutrientes necessários para a recuperação, mas também proporcionar uma dieta que se aproxime ao máximo da alimentação que teriam na natureza”.
A equipe do hospital também prioriza a saúde emocional dos filhotes, montando recintos especiais que minimizam o estresse do cativeiro, com ninhos e esconderijos que simulam o ambiente natural. “O trabalho do CRAS e do Hospital Ayty é um lembrete poderoso da importância de cada vida no ciclo da natureza. Ali, no meio da correria dos cuidados, do alimentar de filhotes e das cirurgias delicadas, brota a esperança de que esses pequenos retornem à sua verdadeira casa: a natureza. O mundo animal nos inspira e desafia, motiva a continuar lutando por cada vida que chega em nossas mãos”, destaca a gestora do CRAS, Aline Duarte.
Os esforços para manter a dieta adequada dos animais também são meticulosos. A cozinha do hospital é equipada para preparar refeições adaptadas a cada espécie, considerando as necessidades nutricionais de mamíferos, aves e répteis. Um exemplo desse cuidado é o tamanduá-bandeira, cuja dieta altamente especializada inclui cupins e formigas, que os tratadores buscam diretamente na natureza para garantir uma nutrição ideal e estimular o comportamento natural da espécie.
O trabalho do Hospital Ayty é uma esperança para a fauna silvestre do Mato Grosso do Sul. Mesmo aqueles que não podem voltar à natureza encontram novos propósitos, contribuindo para pesquisas e programas de reprodução. "Cada espécie tem suas particularidades, e o ambiente onde ficam durante a reabilitação precisa refletir isso. Os animais precisam estar preparados para retornar ao seu habitat com comportamentos adequados e uma condição física compatível com a vida na natureza", explica o biólogo Allyson Favero, ressaltando a importância de recriar ambientes que imitam o habitat natural dos animais.