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Jornalista sofreu cárcere privado e violência psicológica antes de ser assassinada, revela inquérito

Relatório policial entregue à Justiça detalha como Caio Nascimento planejou feminicídio e controlou a vida de Vanessa Ricarte dias antes do assassinato

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
10/03/2025 às 10h37
Jornalista sofreu cárcere privado e violência psicológica antes de ser assassinada, revela inquérito

O relatório final da Polícia Civil sobre o feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte detalhou novas informações sobre o crime cometido pelo ex-noivo, Caio Nascimento. Além do assassinato, Vanessa foi submetida a cárcere privado, violência psicológica e teve sua rotina controlada pelo agressor.

O documento, assinado pela delegada da Delegacia Especializada no Atendimento às Mulheres (Deam), foi entregue à Justiça, solicitando o indiciamento de Caio por feminicídio, cárcere privado e violência psicológica. Ele também responderá por tentativa de homicídio contra um amigo da vítima que estava presente no momento do crime.

O relatório expõe que, no dia do crime, Vanessa procurou a Deam em duas ocasiões. Na madrugada do dia 12 de fevereiro, a jornalista registrou boletim de ocorrência contra Caio por ameaça e divulgação não autorizada de imagens íntimas. Na ocasião, solicitou uma medida protetiva.

Horas depois, encorajada por amigos, Vanessa retornou à delegacia para detalhar as ameaças sofridas. Ela relatou novamente os fatos, buscando medidas concretas de proteção, mas mesmo após o registro, acabou sendo morta pelo ex-noivo horas mais tarde.

Premeditação comprovada

Para a Polícia Civil, não restam dúvidas sobre a premeditação do feminicídio cometido por Caio Nascimento. O relatório destaca que o agressor manteve a vítima em cárcere privado por cinco dias antes do crime, controlando cada passo e limitando completamente sua liberdade.

Mais de dez testemunhas, a maioria amigos próximos da jornalista, foram ouvidas durante o inquérito. Seus depoimentos corroboraram a conclusão policial, demonstrando que o agressor já havia dado sinais claros de violência contra Vanessa.

O relatório também descreve como Caio subtraiu dinheiro de Vanessa para comprar drogas, obrigando a vítima a gastar quantias significativas para manter seu vício. A vítima teve sua rotina registrada e monitorada, fato que caracterizou explicitamente a violência psicológica sofrida.

"Como uma presa"

A investigação descreve que Caio tratava Vanessa como uma espécie de "presa". O documento policial enfatiza como ele controlava cada aspecto da vida da vítima, restringindo sua liberdade e impedindo que ela pedisse socorro.

No momento do crime, conforme depoimento de testemunha presencial, após esfaquear Vanessa três vezes no tórax, Caio tentou atacar também o amigo dela, que escapou ao empurrá-la para a cozinha e trancar a porta.

Mais de dez testemunhas prestaram depoimento, reforçando as circunstâncias violentas do relacionamento e a premeditação por parte do acusado.

Defesa fala em presunção de inocência

A defesa de Caio Nascimento afirma estar acompanhando atentamente o caso e confia no devido processo legal. Em nota, ressaltou o direito do acusado à presunção de inocência e garantiu que todas as circunstâncias serão analisadas pelo Poder Judiciário durante o processo.

O documento agora segue para análise do juiz responsável pelo caso, que decidirá sobre o andamento das acusações formalizadas pelo Ministério Público contra Caio.

Repercussão e mobilização social

O caso de Vanessa ganhou repercussão estadual após a divulgação de áudios da jornalista, nos quais relatava sua insatisfação com o atendimento recebido na delegacia horas antes de morrer, gerando pressão sobre as autoridades e crise interna na Deam.

Após o episódio, 12 delegadas da Deam de Campo Grande solicitaram exoneração coletiva, apontando falta de condições adequadas para atender e proteger mulheres em situação de risco, fato que evidenciou uma crise interna grave no órgão.

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