Uma jornalista de 37 anos foi brutalmente agredida pelo namorado, um músico de 38 anos, enquanto segurava a filha bebê no colo. O crime aconteceu na noite de 3 de março, em Campo Grande, mas só veio à tona nesta terça-feira (12), após o agressor ser posto em liberdade por decisão judicial.
O caso gerou revolta nas redes sociais após a divulgação de um vídeo feito pela vítima logo após as agressões. Nas imagens, a jornalista aparece ensanguentada, com o rosto ferido, e desabafa: “Eu fui agredida. Ele não vai mais encostar a mão na minha filha”.
O casal estava junto há quatro anos, mas não morava na mesma casa. Na segunda-feira de Carnaval, após passarem a tarde na casa de amigos, eles seguiam para a residência da vítima com a filha de 8 meses no carro.
Ao chegarem ao local, sem qualquer discussão prévia, o músico desferiu um golpe no rosto da jornalista e afirmou: "Agora você vai ter o que falar". Em seguida, ele continuou a espancá-la, mesmo com a bebê nos braços da mãe. A vítima acredita que o agressor só parou ao perceber a presença da filha.
Sangrando e machucada, a jornalista buscou abrigo na casa de uma vizinha e enviou um vídeo para seus irmãos pedindo ajuda. Um deles, que é policial civil, localizou o agressor e deu voz de prisão com o apoio da Polícia Militar.
Levado à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o músico foi preso em flagrante. A vítima foi encaminhada para atendimento médico, onde exames constataram uma fratura no nariz e um corte profundo no supercílio, que precisou de pontos. No dia seguinte, o exame de corpo de delito confirmou as agressões.
Apesar das evidências e da gravidade da agressão, o músico conseguiu liberdade provisória por meio de um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS). A decisão destacou que o agressor não tem antecedentes criminais e que dificilmente seria condenado a uma pena em regime fechado.
A Justiça determinou o uso de tornozeleira eletrônica por 180 dias e impôs medidas protetivas, proibindo o agressor de se aproximar da vítima a menos de 200 metros. No entanto, foi garantido a ele o direito de visitar a filha, o que gerou ainda mais indignação na jornalista.
"Eu estou presa dentro de casa, enquanto ele está solto e com direito de ver minha filha. Isso é revoltante!", desabafou a vítima.
A jornalista revelou que viveu um ciclo de violência psicológica durante os quatro anos de relacionamento. Embora nunca tivesse sido agredida fisicamente antes, ela conta que sofria manipulação e controle emocional.
"Ele batia e depois assoprava. Minhas filhas não suportavam ele, minha filha mais velha até saiu de casa para não conviver com ele", afirmou. Ela acredita que a agressão aconteceu porque o músico percebeu que ela queria encerrar o relacionamento.
A soltura do agressor ocorre exatamente um mês após o assassinato da jornalista Vanessa Ricarte, também em Campo Grande. Vanessa foi morta pelo ex-noivo, um músico que não aceitava o fim do relacionamento. O caso gerou grande repercussão e acendeu um alerta sobre a violência contra mulheres na cidade.
A jornalista agora teme por sua segurança e espera que a Justiça reavalie a decisão. O caso segue em investigação e novas medidas podem ser adotadas caso o agressor descumpra as restrições impostas.
Mulheres vítimas de violência doméstica podem procurar ajuda na Casa da Mulher Brasileira, localizada na Rua Brasília, s/n, Jardim Imá, em Campo Grande. O atendimento funciona 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana.
É possível denunciar casos de agressão pelo telefone 153 (Guarda Municipal), 190 (Polícia Militar) ou 180 (Central de Atendimento à Mulher).