19°C 29°C
Campo Grande, MS

Caixão lacrado, sem velório e em silêncio: Pantanal se despede do caseiro morto por onça

Jorge Avalo, de 60 anos, foi sepultado sob forte comoção em Anastácio (MS), dois dias após um ataque brutal

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
23/04/2025 às 17h47
Caixão lacrado, sem velório e em silêncio: Pantanal se despede do caseiro morto por onça
Foto: Redes sociais

O Pantanal amanheceu mais silencioso nesta quarta-feira (23). A natureza, que ali pulsa com força, parecia também prestar sua homenagem a Jorge Avalo, de 60 anos, o caseiro que perdeu a vida de forma trágica após ser atacado por uma onça-pintada enquanto trabalhava às margens do rio Miranda, em Aquidauana (MS). O sepultamento aconteceu sem velório — o caixão precisou ser lacrado, tamanha a gravidade dos ferimentos.

A despedida foi marcada pela dor e pelo silêncio. Por volta das 13h45, no cemitério municipal de Anastácio, cidade vizinha, familiares, amigos e moradores locais seguiram o cortejo em luto profundo. Jorge era um homem simples, querido por todos, conhecido pelo jeito tranquilo e pela dedicação ao trabalho no pesqueiro onde vivia.

“Foi tudo muito rápido, muito doloroso... ainda parece mentira”, disse, entre lágrimas, um parente visivelmente abalado.

Antes de ser enterrado, o corpo passou por exames no Instituto Médico Legal de Aquidauana. Embora o laudo completo ainda leve alguns dias para ser finalizado, os peritos confirmaram que Jorge foi atacado por um grande felino — marcas de mordidas e garras estavam evidentes. Pegadas encontradas na região e a forma como o corpo foi achado — parcialmente mutilado e escondido numa toca a cerca de 300 metros do local do ataque — confirmaram a presença de uma onça-pintada.

O ataque aconteceu na manhã da última segunda-feira (21), quando Jorge saiu sozinho para colher mel, perto de um deck. A busca pelo corpo durou dois dias e mobilizou drones, helicópteros, equipes da Polícia Militar Ambiental e familiares.

Apesar do trauma, especialistas reforçam que se trata de um trágico acidente envolvendo um animal silvestre. Eles alertam que retaliações contra a onça não devem ser consideradas — o Pantanal é seu habitat natural, e encontros com humanos têm se tornado mais frequentes, especialmente durante as cheias, quando os bichos se aproximam das áreas habitadas.

A ausência de um velório escancarou a dor de uma família devastada. E agora, além do luto, uma comunidade inteira tenta lidar com o medo — e com o vazio deixado por Jorge.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.