Um vídeo feito em 2020 e que voltou a ganhar força nas redes sociais nos últimos dias mostra uma cena que, à primeira vista, pode parecer inofensiva: uma onça-pintada se aproximando com tranquilidade de um barco de pesca, onde um pescador a alimenta com um peixe. O registro foi feito na região do Touro Morto, em Aquidauana (MS) — exatamente na mesma área onde, no dia 21 de abril, o caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi atacado e morto por um felino.
Na gravação, o animal aparece calmo, sem demonstrar medo da presença humana. A prática registrada é conhecida como “ceva”, quando animais silvestres são atraídos com comida — algo comum em áreas turísticas, mas cada vez mais criticado por especialistas e ambientalistas.
Após o ataque fatal ao caseiro, a Polícia Militar Ambiental (PMA) voltou a investigar a ocorrência e a possibilidade de que a ceva ainda esteja sendo realizada na região. Na época do vídeo, uma apuração chegou a ser aberta, mas acabou arquivada. Agora, com a tragédia recente, o caso ganhou novo peso.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) reforça que alimentar grandes felinos pode alterar o comportamento natural desses animais, fazendo com que percam o medo do ser humano e se aproximem de áreas habitadas — o que aumenta o risco de incidentes como o que tirou a vida de Jorge.
Para tentar identificar o animal responsável pelo ataque, armadilhas fotográficas foram instaladas na área. Dois dias após o ocorrido, uma onça-pintada macho foi capturada próximo a um pesqueiro. A confirmação de que se trata do mesmo felino ainda depende de análise genética.
Enquanto isso, o vídeo reacende um debate antigo: até que ponto a curiosidade humana justifica interferências na vida selvagem? A resposta, para muitos, pode custar caro demais.