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300 ônibus velhos, calor sufocante e atrasos: O colapso silencioso do transporte público em Campo Grande

Mais da metade da frota circula fora do padrão e CPI cobra explicações da agência reguladora

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
06/05/2025 às 17h00
300 ônibus velhos, calor sufocante e atrasos: O colapso silencioso do transporte público em Campo Grande
Ônibus do Consórcio Guaicurus com defeito em bairro de Campo Grande. CPI aponta que mais da metade da frota está fora do padrão exigido em contrato.

A CPI que investiga o Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo em Campo Grande, expôs nesta semana dados que apontam o descumprimento do contrato firmado com o município. Segundo o presidente da AGEREG (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados), José Mario, 300 dos 460 ônibus em circulação hoje estão fora da idade média exigida. O contrato estipula que a frota deve ter idade média máxima de 5 anos, mas atualmente esse limite é ultrapassado.

A AGEREG também informou que há um déficit de 90 ônibus em operação e que 60 veículos são mantidos como reserva. A agência ainda não soube informar quantos coletivos com ar-condicionado circulam atualmente na cidade.

Para os usuários, essa situação se reflete em ônibus sucateados, sem climatização e com frequência reduzida. Relatos de atrasos, superlotação e veículos quebrados são recorrentes em bairros da periferia, especialmente nos horários de pico. A CPI pretende confrontar dados técnicos com depoimentos populares para avaliar a extensão real dos prejuízos à população.

O aposentado Tulio Augusto, morador da Coophavila II, relata dificuldades diárias para se deslocar. “Tem dia que espero mais de 40 minutos no ponto. Quando o ônibus vem, está lotado, sem ar e a gente vai espremido. Isso não é transporte digno”, afirmou.

Durante a oitiva, o vereador Junior Coringa (MDB), membro da CPI, questionou a falta de fiscalização e cobrou relatórios técnicos e informações detalhadas sobre multas aplicadas ao consórcio. Ele considera que já há elementos relevantes, mas afirma que o parecer só poderá ser dado ao final dos trabalhos. “A CPI só pode dar o parecer no final, que está sendo construído”, disse ao Portal O Sul-mato-grossense. Em nova resposta, reforçou: “Ainda tem muito depoimento, muita coisa para a gente produzir. Pode ter muita surpresa nesse caminho até lá, então a gente tem que aguardar, não tem jeito”.

Nos bastidores da Câmara, o clima é de cautela. Embora haja consenso sobre os problemas do transporte coletivo, parte dos vereadores prefere aguardar o relatório final da CPI antes de defender medidas como a rescisão contratual. Coringa tem adotado um tom mais incisivo, enquanto outros membros mantêm postura mais discreta.

A presidência da Câmara Municipal também se manifestou. O vereador Papy (PSDB), presidente da Casa, afirmou que a Câmara apoia integralmente os trabalhos da CPI e espera que o processo resulte em melhorias no serviço. “A presidência está dando todo apoio aos trabalhos da CPI e continuará fortalecendo a investigação com todo empenho possível. O objetivo é resultado prático para a população de Campo Grande”, declarou. Questionado sobre a possibilidade de rescisão do contrato com o Consórcio Guaicurus, Papy reconheceu que a medida pode ser considerada. “Claro que pode, mas essa decisão deverá partir da comissão de inquérito. Eu tenho minhas opiniões”, respondeu.

A CPI segue com oitivas e coleta de documentos. O relatório final deverá apresentar recomendações sobre a continuidade do contrato e a atuação da agência reguladora.

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