A CPI que investiga o Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo em Campo Grande, expôs nesta semana dados que apontam o descumprimento do contrato firmado com o município. Segundo o presidente da AGEREG (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados), José Mario, 300 dos 460 ônibus em circulação hoje estão fora da idade média exigida. O contrato estipula que a frota deve ter idade média máxima de 5 anos, mas atualmente esse limite é ultrapassado.
A AGEREG também informou que há um déficit de 90 ônibus em operação e que 60 veículos são mantidos como reserva. A agência ainda não soube informar quantos coletivos com ar-condicionado circulam atualmente na cidade.
Para os usuários, essa situação se reflete em ônibus sucateados, sem climatização e com frequência reduzida. Relatos de atrasos, superlotação e veículos quebrados são recorrentes em bairros da periferia, especialmente nos horários de pico. A CPI pretende confrontar dados técnicos com depoimentos populares para avaliar a extensão real dos prejuízos à população.
O aposentado Tulio Augusto, morador da Coophavila II, relata dificuldades diárias para se deslocar. “Tem dia que espero mais de 40 minutos no ponto. Quando o ônibus vem, está lotado, sem ar e a gente vai espremido. Isso não é transporte digno”, afirmou.
Durante a oitiva, o vereador Junior Coringa (MDB), membro da CPI, questionou a falta de fiscalização e cobrou relatórios técnicos e informações detalhadas sobre multas aplicadas ao consórcio. Ele considera que já há elementos relevantes, mas afirma que o parecer só poderá ser dado ao final dos trabalhos. “A CPI só pode dar o parecer no final, que está sendo construído”, disse ao Portal O Sul-mato-grossense. Em nova resposta, reforçou: “Ainda tem muito depoimento, muita coisa para a gente produzir. Pode ter muita surpresa nesse caminho até lá, então a gente tem que aguardar, não tem jeito”.
Nos bastidores da Câmara, o clima é de cautela. Embora haja consenso sobre os problemas do transporte coletivo, parte dos vereadores prefere aguardar o relatório final da CPI antes de defender medidas como a rescisão contratual. Coringa tem adotado um tom mais incisivo, enquanto outros membros mantêm postura mais discreta.
A presidência da Câmara Municipal também se manifestou. O vereador Papy (PSDB), presidente da Casa, afirmou que a Câmara apoia integralmente os trabalhos da CPI e espera que o processo resulte em melhorias no serviço. “A presidência está dando todo apoio aos trabalhos da CPI e continuará fortalecendo a investigação com todo empenho possível. O objetivo é resultado prático para a população de Campo Grande”, declarou. Questionado sobre a possibilidade de rescisão do contrato com o Consórcio Guaicurus, Papy reconheceu que a medida pode ser considerada. “Claro que pode, mas essa decisão deverá partir da comissão de inquérito. Eu tenho minhas opiniões”, respondeu.
A CPI segue com oitivas e coleta de documentos. O relatório final deverá apresentar recomendações sobre a continuidade do contrato e a atuação da agência reguladora.