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Onças famintas deixam comunidade ribeirinha em alerta na Serra do Amolar

Moradores relatam ataques a animais domésticos e temem pela segurança; especialistas alertam para crise ecológica

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
26/05/2025 às 10h27
Onças famintas deixam comunidade ribeirinha em alerta na Serra do Amolar
Foto: Charles J. Sharp

Moradores da comunidade ribeirinha na Serra do Amolar, no Pantanal de Corumbá, vivem dias de apreensão com a aproximação constante de onças-pintadas. O aumento da presença dos felinos é atribuído à escassez de presas naturais, após um ciclo prolongado de cheias na região.

“A gente quer fazer um apelo sobre a situação das onças. A gente já não sabe mais o que fazer porque elas estão aparecendo direto, cada dia mais. E como já não tem mais os cachorros, elas começaram a comer as galinhas, que já tem pouco”, relatou Leonida de Souza, artesã e líder comunitária da Barra do São Lourenço, ao site Campo Grande News.

Em outro episódio, Leonida conta que por pouco não foi atacada: “Eu estava no galinheiro e soltei as galinhas para fazer uma limpeza. Quando eu olhei de lado, a onça estava vindo rastejando. Eu gritei, graças a Deus ela saiu e voltou para o mato. Mas, e se uma hora ela vem pra cima da gente? A gente está muito apreensiva”, disse à mesma reportagem.

Severo Xavier de Farias, morador da comunidade, também relatou episódios de risco: “Chegaram até a arranhar a parede de minha tapera, ficam me rodeando aqui. Outro dia, estava limpando uns peixes, elas sentiram o cheiro e vieram. Levei um susto”, contou.

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP), que atua na preservação ambiental na região, tem reforçado orientações de segurança aos moradores, como manter os animais domésticos recolhidos e evitar circular em áreas de mata fechada.

Especialistas alertam que a crise ecológica no Pantanal pode agravar a tensão entre humanos e onças. “A onça-pintada tem forte importância econômica no turismo de observação, gerando emprego e renda por meio de pousadas e guias. Contudo, é essencial que os benefícios dessa atividade sejam compartilhados com as comunidades tradicionais, que muitas vezes enfrentam perdas de animais domésticos e riscos à segurança”, destacou Diego Viana, médico-veterinário e doutorando em Ecologia e Conservação na UFMS, em entrevista ao portal UOL.

O especialista também defendeu ações públicas rápidas: “Como forma de atenuar o risco de retaliação e cuidar para que não ocorram novos incidentes com as onças-pintadas, é fundamental que exista uma resposta rápida e sensível por parte do poder público e das instituições de conservação”, afirmou à mesma publicação.

De acordo com o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), equipes técnicas monitoram a situação na região, e medidas preventivas foram repassadas aos moradores. A Polícia Militar Ambiental também intensificou o patrulhamento na Serra do Amolar, embora não tenha havido, até o momento, registro de ataques a pessoas.

A Serra do Amolar é considerada uma das áreas mais preservadas do Pantanal, reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco. Entretanto, episódios como o atual refletem o impacto das mudanças climáticas, que alteram o equilíbrio da fauna e colocam comunidades tradicionais em situação de vulnerabilidade.

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