Durante pescaria realizada no último dia 31 de maio, por volta das 15h, na região do Caronal, em Coxim (MS), um grupo da Associação Esportiva Galera do Taquari registrou o momento em que um jacaré ataca uma arraia às margens do Rio Taquari. O vídeo viralizou nas redes sociais nos dias seguintes e chamou atenção pela intensidade da cena.
A gravação foi feita por Geidisson Silva, presidente da associação. “O jacaré mordeu várias vezes, e a arraia não se rendeu. Ela feriu o jacaré diversas vezes, mas não teve jeito. Ele levou a melhor. É a lei da sobrevivência”, disse Geidisson ao portal Campo Grande News.
As imagens mostram o réptil tentando dominar a arraia, que reage com ferroadas. Uma delas atinge a boca do predador, que chega a recuar, mas retorna ao ataque e vence o confronto.
Segundo Geidisson, esse tipo de situação é comum na região. “Até mesmo quando fisgamos um peixe temos que ser rápidos, senão eles levam a melhor”, comentou.
Além da atividade de pesca, a associação desenvolve ações sociais e ambientais. “Somos uma associação sem fins lucrativos. Organizamos coleta de lixo no rio, eventos de Natal e Dia das Crianças. Também atuamos nos resgates no Rio Grande do Sul por mais de 12 dias”, completou o presidente.
A publicação gerou grande repercussão nas redes, com reações que vão da surpresa ao humor. Um dos comentários mais compartilhados dizia: “uma semana de febre pro jacaré”, em referência ao efeito das ferroadas da arraia.
Caiman yacare, espécie presente no Pantanal e em Coxim, alimenta-se basicamente de peixes, crustáceos e moluscos, variando conforme idade e disponibilidade de presas. Estudos com mais de 1 300 análises de conteúdo estomacal de crocodilianos sul-americanos não encontraram registros sistemáticos de arraias, indicando que predar batoides não é comum nessa região.
No entanto, observações ao redor do mundo – por exemplo, dos jacarés-americanos (Alligator mississippiensis) – relatam consumo ocasional de raias-manta em ambientes costeiros. Essas interações indicam que, embora não frequente, a predação de arraias por jacarés pode ocorrer sob condições oportunistas (presença de presas e tamanho compatível).
Arraias de água doce (por exemplo, espécies do gênero Potamotrygon) são predadoras bentônicas, alimentando-se de crustáceos, moluscos, insetos e pequenos peixes. Moram principalmente em águas rasas, como margens e bancos arenosos — o mesmo ambiente onde ocorreu o vídeo no Rio Taquari.
Esse hábito de vida, combinado com territórios de caça semelhantes aos dos jacarés, favorece encontros e possíveis confrontos entre predador e presa.
A luta registrada em Coxim pode ser um exemplo raro e oportunista: o jacaré observou uma arraia vulnerável em águas rasas e decidiu atacar. A defesa da arraia com ferroadas — que pode machucar significativamente o jacaré, conforme relatado pelos pescadores — confirma a arma natural dessas espécies. Do ponto de vista biológico, o evento ilustra um comportamento alimentar oportunista de répteis de topo (C. yacare), mesmo que arraias não sejam presas comuns.
Embora arraias não façam parte da dieta habitual de jacarés pantaneiros, a observação aponta que:
Jacarés adultos apresentam flexibilidade alimentar, consumindo presas variadas conforme oportunidade.
Encontros nas margens rasas, onde arraias se movimentam para se alimentar, aumentam as chances de predação.
O confronto gravado confirma a dinâmica natural de competição e predation entre esses grupos.