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CPI das bets rejeita relatório e livra Virginia, Deolane e outros 14 de indiciamento

“Essa CPI não terminou em pizza, eu não sou pizzaiola”, diz Soraya ao prometer entregar provas à PF

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
12/06/2025 às 19h25 Atualizada em 12/06/2025 às 19h52
CPI das bets rejeita relatório e livra Virginia, Deolane e outros 14 de indiciamento

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas encerrou seus trabalhos nesta quinta-feira (12) no Senado, rejeitando, por 4 votos a 3, o relatório final elaborado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). O parecer pedia o indiciamento de 16 pessoas, entre elas as influenciadoras digitais Virginia Fonseca e Deolane Bezerra, por supostos crimes ligados à promoção de jogos de azar.

A rejeição do relatório, que apontava práticas como estelionato, lavagem de dinheiro, contravenção penal e associação criminosa, causou forte reação da relatora. Soraya afirmou que, mesmo sem a aprovação formal da CPI, vai encaminhar o conteúdo à Polícia Federal, Ministério Público Federal, Receita Federal, Tribunal de Contas da União, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e até ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso.

Virginia e Deolane no centro da investigação

O relatório apontava que Virginia Fonseca teria feito propaganda enganosa ao exibir ganhos irreais em apostas com contas "demo", ou seja, não reais, simulando lucros para influenciar seu público. O caso foi classificado pela senadora como “um estelionato disfarçado de publicidade”.

Já Deolane Bezerra foi alvo de acusações ainda mais graves. Segundo o relatório, ela atuava como sócia oculta da plataforma de apostas Zeroumbet e teria movimentado recursos em nome de terceiros para ocultar a origem do dinheiro. Soraya sustentou que há indícios de lavagem de dinheiro e envolvimento com organização criminosa.

Influenciadores e plataformas sob suspeita

Além de Virginia e Deolane, outros nomes citados no relatório incluem os influenciadores Kleber Moraes (conhecido como "Klebim"), Willian Guimarães, Bruno "PlayHard", Bruno Bittencourt (Nobru) e Paulo Henrique (PH), todos acusados de promover jogos ilegais ou maquiar resultados para atrair seguidores.

As plataformas Blaze, BetVip, BetPix365, Esportes da Sorte e a já mencionada Zeroumbet também foram citadas como alvos de investigação por supostamente operar jogos de azar e lavar dinheiro por meio de influenciadores.

CPI termina sem relatório aprovado, mas Soraya reage

A recusa do relatório marca um desfecho raro: é a primeira vez, em mais de uma década, que uma CPI no Senado termina sem aprovação de seu parecer final. Soraya Thronicke criticou o “esvaziamento político” da comissão nas últimas semanas e acusou parte dos parlamentares de tentar proteger grandes nomes do setor.

“Essa CPI não terminou em pizza. Eu não sou pizzaiola. As autoridades vão receber cada página do que apuramos aqui”, disse Soraya, visivelmente irritada após a votação.

Recomendações do relatório

Mesmo rejeitado, o relatório sugeria uma série de medidas legislativas, como:

  • proibição de jogos no estilo “Tigrinho”, considerados de alto risco;

  • limitação de apostas por usuários do CadÚnico e beneficiários de programas sociais;

  • exigência de regras mais rígidas para publicidade de casas de apostas;

  • fiscalização mais ativa da Receita e do Coaf sobre transações do setor.

Apoio e resistência

Votaram a favor do relatório os senadores Eduardo Girão (Novo-CE), Jorge Kajuru (PSB-GO) e o próprio presidente da CPI, Romário (PL-RJ). Contra, se posicionaram Carlos Portinho (PL-RJ), Jorge Seif (PL-SC), Marcos do Val (Podemos-ES) e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

A resistência do grupo ligado ao governo e ao Centrão foi atribuída, nos bastidores, ao peso político e econômico das empresas de apostas e ao medo de enfrentar a base de seguidores das influenciadoras envolvidas.

Desdobramentos jurídicos devem continuar

Embora a CPI tenha encerrado sem relatório formal, o envio dos documentos por parte da relatora pode manter vivas as investigações nos órgãos de controle e judiciais. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal poderão abrir inquéritos próprios com base no material fornecido.

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