Por Viviane Freitas | 5 janeiro, 2024 - 16:09
A instrutora de ciclismo em Campo Grande, Elijane Coelho, enfrentou desafios significativos em sua jornada de desenvolvimento pessoal, incluindo a superação de uma lesão nos pés. Após quase uma década, ela finalmente descobriu sua verdadeira paixão e missão de vida: ensinar as pessoas a andar de bicicleta. Fundadora da escola ‘Bicicletice’ em Campo Grande, ela já impactou a vida de quase 300 crianças e mais de 70 adultos, proporcionando-lhes a experiência única de sentir a liberdade sobre duas rodas.
A escola de bicicleta ‘Bicicletice’ é composta por educadores físicos capacitados que adotam uma metodologia sistematizada para guiar os alunos desde os estágios iniciais até a autonomia completa no uso da bicicleta. Em entrevista ao OSM, Elijane Coelho explica que tudo começou em 2003, durante sua busca por desenvolvimento pessoal. “Fora a bicicleta, nunca fui muito fã de atividades físicas. Depois de formada em Publicidade e já trabalhando no Detran de Mato Grosso do Sul, decidi encarar o desafio de estudar Educação Física”, relata. Seu envolvimento começou com a corrida, mas uma lesão nos pés abriu as portas para uma nova paixão: o ciclismo.
Elijane se formou em 2007 e logo começou a questionar como poderia aplicar seus novos conhecimentos da área no serviço público. “Pensei em trabalhar com crianças no Detranzinho, mas isso não me animava. Foi aí que comecei a pesquisar sobre estudos que relacionavam aprendizado motor com direção, sem sucesso. No entanto, descobri um curso de especialização à distância em aprendizagem motora na USP (Universidade de São Paulo). Fiz o curso, aprendi, mas não consegui aplicar no órgão”, explica.
Como educadora física, Elijane focava em seu próprio bem-estar, principalmente com treinos de corrida. Contudo, a lesão nos pés a fez repensar suas escolhas. “Liguei para meu irmão assim que descobri, pois ele sempre chamava para pedalar, pedi uma bicicleta emprestada e comecei”, conta, revelando o início de sua história no ciclismo.
Foi nos grupos de pedal que ela conheceu Nilson Young, seu futuro esposo e guia de turismo de aventura. O amor pela bicicleta uniu o casal de forma única, culminando em um casamento ao ar livre, marcado por uma cerimônia especial no Parque do Sóter, em 2013. “A bicicleta foi o nosso ‘cupido’, por isso decidimos casar-se pedalando. Em vez de jogar o buquê, sorteamos uma bicicleta entre os convidados”, relembra com entusiasmo.
E se a bicicleta foi o fio condutor do romance de Elijane e Nilson, ela também desempenhou um papel crucial em sua carreira. “Quem me ensinou a andar de bicicleta quando eu tinha seis anos foi minha mãe, usando a técnica antiga de segurar atrás e soltar quando eu menos esperava. E ela foi minha primeira aluna aos 60 anos, após décadas sem pedalar. Foi um experimento que deu certo, e a partir daí comecei a ensinar outras pessoas”, conclui Elijane, mostrando que a magia de aprender a pedalar pode atravessar gerações.
Inicialmente relutante em ensinar crianças, Elijane surpreendeu-se com a crescente demanda que começou a surgir. “Começaram a surgir demandas com crianças, e eu não queria ensinar, justamente por ter tido essa experiência com minha mãe, que nem sabia andar, mas me ensinou; foi mágico. Eu não queria incluir um terceiro nesse processo, então montei uma palestra: “Ensine Seu Filho a Andar de Bicicleta”, onde passava todas as informações, tirava dúvidas e, ao final, metade da plateia pedia para eu ensinar.
Elijane explica ao OSM que entende a importância do vínculo familiar no aprendizado, destacando que a conexão entre pais e filhos é crucial, mas revela que muitas famílias buscam um professor especializado, reconhecendo a dinâmica única que ocorre quando uma pessoa diferente está envolvida. “Parei para pensar e entendi que, para muitas famílias, é necessário ter um professor, e não tem nada de errado com isso. Muitas crianças se soltam e se desenvolvem melhor sem a pressão da expectativa dos pais”, explica.
A divulgação boca a boca e uma demanda mediana marcaram o início da trajetória da Escola de Bicicleta Bicicletice. Hoje, com dois professores e um atendimento personalizado, a escola se destaca no Estado como um espaço com método único de aprendizado.
Durante sua entrevista ao OSM, Elijane compartilha suas experiências, revelando desafios pessoais que a levaram a refletir sobre sua missão, como por exemplo, a decisão de dedicar exclusivamente seus finais de semana a escola de bicicleta. Essa mudança resultou em uma agenda lotada, fila de espera e a busca por um novo professor para acompanhar a crescente demanda.
“Minha agenda era mediana, pois estava envolvida com as atividades do meu esposo. Se havia demanda e eu tinha tempo, atendia. Em um dia específico, estava com um aluno marcado para as 15h e saí de manhã com os amigos às 7h, o que deveria ser factível. No entanto, entre amigos, percebi que eram 13h e estávamos muito distantes. Tornou-se inviável, então desmarquei a aula, sentindo-me muito mal. Isso gerou um momento de reflexão sobre o que eu realmente queria para minha vida. Para ensinar a andar de bicicleta, não basta ser apenas educador físico ou conhecer uma técnica, mas requer um talento específico. É necessário ter sensibilidade, percepção e uma conexão com o aluno. Isso é algo que faço muito bem e se tornou a minha missão de vida. Compreendi que precisava me dedicar a partir desse dia e percebi que meus fins de semana seriam dedicados ao “Bicicletice”. Decidi que nunca mais iria agendar outra coisa a partir dessa decisão, e minha demanda aumentou potencialmente”, conta ao OSM.
A dedicação de Elijane vai além do convencional. Ela cria exercícios, adapta técnicas e enfrenta desafios únicos, como o caso de uma jovem com uma diferença nas pernas devido a um câncer ósseo na infância. A história de superação é um exemplo do comprometimento da professora em adaptar-se a cada aluno. “Foi necessário estudar o caso dela e aplicar os exercícios corretamente“, explica.
“Cada professor tem sua própria sequência de exercícios, mas na Bicicletice desenvolvemos um método eficiente e seguro. Surpreendentemente, muitas crianças terminam a primeira aula já pedalando com equilíbrio, e nas aulas seguintes consolidamos essas habilidades”, continua.
“E mais do que ter um bom repertório de exercícios, é crucial estabelecer uma boa comunicação com o aluno para construir confiança. Estar em sintonia com o aluno nos permite perceber o ritmo adequado para evoluir sem forçar demais”, enfatiza Elijane. E graças a essa percepção, muitos exercícios foram criados durante as aulas, de acordo com as características individuais dos alunos. Dominar nosso método e ter conhecimento acadêmico nos permite adaptá-lo a cada aluno, tornando nosso ensino mais eficiente”, ressalta.
Expansão
No mês de abril de 2023, Elijane deu mais um passo significativo para atender às crescentes demandas. A notícia animadora é a adição de um novo professor à equipe, visando aprimorar e personalizar ainda mais o atendimento individual. A preocupação com a diversidade de situações dos alunos também levou a escola a adquirir bicicletas para atender às necessidades específicas.
Eijane explica que agora a Bicicletice dispõe de uma variedade de bicicletas, abrangendo todos os tamanhos de aro, desde 12 até 16. “Esse investimento assegura que cada aluno tenha à disposição uma bicicleta adequada ao seu porte físico e nível de habilidade”, explica.
A iniciativa vai além, abraçando crianças que já possuem suas bicicletas, mas que muitas vezes encontram-se em condições precárias devido à falta de uso. Além disso, a escola se propõe a fornecer bicicletas para aqueles que não possuem ou que não contam com uma bicicleta adequada para o aprendizado.
Com essas melhorias, a Escola de Bicicleta reforça seu compromisso com a qualidade e acessibilidade no ensino desse esporte tão prazeroso. A oferta de aulas personalizadas e a inclusão de um novo professor demonstram o comprometimento contínuo de Elijane Coelho em proporcionar uma experiência única e enriquecedora para todos os alunos que buscam aprender a andar de bicicleta.
“Para 2024, na Bicicletice, nosso objetivo é continuar ensinando pessoas de todas as idades a pedalar. Queremos proporcionar uma experiência educativa e divertida, promovendo não apenas a prática do ciclismo, mas também construindo confiança e habilidades de equilíbrio”, conclui Elijane Coelho.
25 novembro, 2024
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