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‘Vai lá, resto de incêndio’: Jovem negro sofre ataques racistas pelas redes sociais no MS

Rapaz registrou boletim de ocorrência após sofrer por diversas vezes com brincadeiras preconceituosas

Por João Paulo Ferreira | 5 junho, 2020 - 10:47

Um jovem negro de 25 anos sofreu ataques racistas nas redes sociais depois de demostrar interesse em morar fora do país. O crime aconteceu em Campo Grande, na manhã da última terça-feira (2). O suspeito é um antigo colega de trabalho da vítima.

O jovem registrou boletim de ocorrência na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro e o caso foi registrado como injúria.

A vítima, que não quis se identificar, contou que desde a infância sonhava em morar fora do Brasil, mas os comentários na publicação ofenderam o jovem. “O rapaz veio e disse que não queria comentar para ele não ser racista, mas aí eu falei para que ele falasse, foi quando escreveu ‘o que um cidadão, com altos índices de melanina irá cheirar no Canadá?’, Tendo uma atitude racista. O problema é que não foi a primeira vez que ele fez isso comigo. Ele soltou comentários desse tipo outras vezes e eu sempre disse que não gostava, mas chega uma hora que a gente cansa”.

O jovem disse que desde a época em que trabalhavam juntos em uma empresa nunca deu intimidade, pois ele não parecia ser do tipo de pessoa em que se pudesse ter confiança e uma amizade.

“Eu nunca brinquei com ele e nunca dei a liberdade para ele brincar comigo, toda vez que isso acontecia na empresa eu falava que não gostava e que tudo tinha um limite. Nesse post do face ele atravessou esse limite. Ele usou de algumas palavras que, sendo curto e grosso, diziam que o negro não tem capacidade de ir para um país de primeiro mundo. Ele me ofendeu, ofendeu minha raça e minha cor”, lamenta.

Após os comentários tomarem conta da internet, algumas pessoas se mobilizaram e se propuseram em ajudar o jovem a realizar seu grande sonho. E o mesmo afirma que está pensando na proposta, “afinal, é uma decisão difícil”, comentou.

“Eu nasci, o racismo já existia, eu vou morrer e o racismo vai continuar existindo. O preconceito não é algo que pode ser dissolvido, ele está incrustado na sociedade, como muitos outros crimes, isso tudo vem no pacote do homem quando ele nasce, faz parte da natureza humana julgar o diferente. A gente pode diminuir, ir cortando os galhos, ir tirando as flores e os frutos para não piorar”, afirmou a vítima.

Para a Agnes Viana, de 22 anos, militante de um dos movimentos sociais de negritude de Campo Grande, participante do movimento organizado de juventude chamado Ruas Juventude Anticapitalista e integrante da coordenação de negritude nacional desse coletivo, o fato ocorrido é consequência da história do mundo.

“O racismo é evidente na sociedade como um todo, vemos que a maioria da população de rua hoje é negra e isso é um reflexo do racismo, um reflexo da falta de oportunidade em ocupar o espaço no mercado de trabalho, nas escolas e nas universidades. Existe toda uma estrutura social e histórica baseada nesses elementos de superioridade do negro contra o branco, e ai a gente precisa olhar para a história para dizer de onde nasce isso”, afirmou.

A ativista afirma que essas situações permeiam em todos os aspectos da sociedade, porque existem consequências históricas que nosso país não soube lidar e também, no imaginário das pessoas, a discussão sobre o tema não é valida, pois para eles não existe mais o racismo.

“De uma forma ampla, existem várias expressões que colocam o homem branco como superior ao homem negro e legitimam essa postura. Basta ver as representações de pessoas negras nas novelas e nos filmes, muita coisa tem mudado, mas o que é 10 ou 20 anos de pequenas transgressões do cultural hegemonicamente branco, comparado a uma infinidade de anos em que o branco foi posto como superior ao preto”.

Agnes finaliza dizendo que o movimento Black Lives Matter, que está acontecendo mundo afora, é uma maneira de dizer um basta a situações extremas que a população preta é exposta todos os dias. “Eu espero muito que essa luta aconteça pelo mundo, pois a gente sabe da importância desses movimentos e não aguentamos mais morrer, passar por ataques preconceituosos e não ser ouvidos”, finaliza.

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