CPI convoca Gusttavo Lima e convida Felipe Neto para explicações sobre apostas online

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, no Senado Federal, aprovou na última terça-feira (26) a convocação do cantor Gusttavo Lima e o convite ao influenciador Felipe Neto. Ambos devem prestar esclarecimentos sobre relações com empresas de apostas esportivas online. A presença de Gusttavo Lima é obrigatória, enquanto Felipe Neto poderá optar por comparecer ou não. As convocações já estavam previstas desde a primeira sessão da CPI.

A comissão investiga como o mercado de apostas online impacta financeiramente as famílias brasileiras e possíveis vínculos com práticas ilícitas, como lavagem de dinheiro. Gusttavo Lima foi relacionado à Operação Integration, da Polícia Federal (PF), que apura o uso de apostas para ocultação de recursos. Ele também adquiriu participação na VaideBet, uma casa de apostas investigada na operação.

Na última quarta-feira (27), ao O Sul-mato-grossense, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI, comentou:
“O envolvimento de artistas e influenciadores digitais, seja por meio de publicidade ou como sócios-proprietários de sites de apostas on-line, impacta diretamente as pessoas que os admiram quando elas entram nesse universo dos jogos on-line. A capacidade de influência desses famosos com o seu público/seguidores é algo surpreendente. Por isso, responsabilizar quem está agindo de má fé ou envolvido diretamente com organizações criminosas é fundamental para que a população fique mais atenta, informada e não seja vítima desse mal que está assolando a vida de inúmeras famílias, que são as apostas on-line em jogos ilegais.”

Soraya destacou ainda que a convocação de Gusttavo Lima é crucial para esclarecer “o nível de envolvimento com esse mercado, incluindo possíveis irregularidades em contratos de patrocínio”. Durante a sessão, reforçou:
“Como uma figura pública influente, sua atuação pode ajudar a compreender o impacto de celebridades na promoção de apostas online, especialmente entre consumidores mais vulneráveis”.

Depoimento de Felipe Neto pode trazer novos dados

Felipe Neto foi convidado após promover, por dez meses, uma casa de apostas. Ele admitiu publicamente que essa parceria foi um erro e encerrou o contrato. Para o senador Dr. Hiran (PP-RR), presidente da CPI, o depoimento de Neto poderá oferecer detalhes sobre os contratos entre influenciadores e empresas de apostas, como valores e benefícios envolvidos.

Além disso, a comissão aprovou pedidos de informações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre transações financeiras de Gusttavo Lima e suas empresas. A relatora também questionou a validade de autorizações da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj) para a operação de algumas Bets no Brasil.

Ampliação da investigação

Outras figuras do setor também foram chamadas, incluindo João Studart, CEO da Bet Nacional, e Marcus da Silva, dono da Sportingbet. Representantes de órgãos públicos, como a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda e a Secretaria Nacional do Consumidor, também participarão das discussões sobre os impactos econômicos e sociais do mercado de apostas.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) apresentou um estudo do Banco Central que revela que, nos primeiros oito meses de 2024, os brasileiros gastaram cerca de R$20 bilhões por mês em apostas online. Aziz expressou preocupação sobre o uso de benefícios sociais para apostas e chamou atenção para o retorno financeiro ínfimo aos jogadores: apenas 0,8% do valor apostado.

“Estamos falando de algo que destrói famílias e afeta a economia de maneira devastadora”, disse Omar. Segundo ele, funcionários estariam pedindo demissão para pagar dívidas de jogo, um relato que recebeu de empresários, incluindo o dono da Havan.

Foco na regulamentação

As investigações buscam fortalecer a regulamentação do setor, com Omar Aziz ressaltando a importância de “regulamentar de forma responsável”. O delegado Paulo Gustavo Gondim de Sousa, da Polícia Civil de Pernambuco, informou que muitas plataformas atuam ilegalmente no Brasil, utilizando paraísos fiscais para mascarar operações.

Sobre a atuação das Bets, Paulo Gustavo mencionou que empresas como Sport da Sorte e VaideBet operam sem licenças adequadas, com sedes administrativas em território nacional. Ele destacou ainda o uso de intermediadoras financeiras para dificultar o rastreamento de receitas.

“Queremos trazer à luz da verdade os diversos crimes que estão sendo cometidos e estão ligados diretamente às apostas online, como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa, para que os envolvidos sejam devidamente punidos e arquem com as consequências”, reforçou Soraya ao O Sul-mato-grossense.