Por João Paulo Ferreira | 29 novembro, 2022 - 17:17
O programa de doutorado da Unifap (Universidade Federal do Amapá) desligou uma professora bolsonarista que chamou de “esquerdistas” e deixou de orientar alunos de farmácia após descobrir que eles não apoiavam o presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a eleição no 2º turno para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A professora, identificada como Sheylla Susan de Almeida, foi desligada em uma reunião extraordinária da coordenação estadual do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia (Rede Bionorte). Na avaliação da coordenação, ela praticou discriminação e assédio contra os estudantes.
A docente havia comunicado a decisão unilateral aos doutorandos de não orientá-los mais e fez isso através de um grupo de WhatsApp. Nas mensagens, a professora dizia que “não quer esquerdistas no laboratório” de farmácia. “Procurem outro professor para orientar vocês. Amanhã estarei entregando a carta de desistência da orientação de vocês. Não quero esquerdistas no laboratório. Portanto, sigam a vida de vocês, e que Deus os abençoe”, escreveu a docente.
A professora direcionou a mensagem a dois alunos, mas pediu que sua posição fosse compartilhada com outros estudantes que fossem petistas. “Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento. Ou estão comigo ou contra mim.” Uma das alunas dispensadas foi Débora Arraes, de 35 anos. Ela também é professora da UEAP (Universidade do Estado do Amapá), e realiza pesquisa de doutorado na Unifap. Ela afirma que a orientadora é “declaradamente negacionista” mas que, até então, “nunca havia demonstrado comportamento semelhante” com seus alunos.
“Fui informada de que eu estava sendo desligada pelo fato de eu ter votado no Lula. Ela nunca havia demonstrado posicionamento semelhante por questões políticas. Nas redes sociais, ela é declaradamente negacionista, mas eu, como aluna e também professora, entendo que são posições que não deveriam ser consideradas numa relação entre orientador e orientando”, comentou Débora. A aluna acredita que a professora tenha tomado a medida após ver suas publicações de apoio a Lula nas redes sociais. “Fiz algumas postagens nas minhas redes sociais, não compartilhei no grupo nem com ela, mas mesmo assim, acredito que em razão dessa foto postada por mim, a professora tomou esse posicionamento”, afirmou a discente.
A docente publicou pedido de desculpas. Em uma publicação no Facebook, a professora fez um pedido de desculpas aos alunos e à Unifap, e disse que “acabou se excedendo” ao dizer que os alunos deveriam procurar outro orientador. “No entanto, minha missão como professora não acolhe esse tipo de conduta, posto que dediquei a minha vida pela educação. Não serve preferência política, por razões pessoais, para segregar alunos e deixa-los a própria sorte”, escreveu.
“Assim, assumo que me excedi nas palavras e peço desculpas pelo ocorrido, as eleições passam e a educação fica!”, finalizou.
9 novembro, 2024
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