Por Viviane Freitas | 1 novembro, 2021 - 10:35
Luís Felipe Andrade tem 18 anos, é autista, e se formou no ensino médio na última sexta-feira (29). Sob os olhares dos pais, da irmã e amigos do colégio Nota 10, em Campo Grande, o jovem discursou por mais de 5 minutos sobre inclusão, afeto e oportunidade. Suas palavras emocionaram os presentes e até os professores foram às lágrimas com suas declarações.
“Boa noite! Hoje, aqui estamos em plena pandemia com vários problemas a serem resolvidos. E mal começou a década de 20. Engraçado pensar em tantos problemas novos que temos, e ainda se lembrar dos antigos que nem foram resolvidos. Ainda. E um dos maiores deles é a inclusão social”, começou Luís Felipe.
Os convidados da formatura acompanham o discurso de forma silenciosa e atenta. O jovem continuou:
“Entender que não existe ninguém igual a ninguém. Temos que olhar as pessoas de forma individual. Quando falamos de inclusão estamos falando de todas as pessoas e todo mundo precisa se sentir incluído. Todos precisamos nos sentir pertencentes. Conviver em sociedade não significa apenas fazer o seu dever, mas pensar também no próximo. Isso é empatia”.
O jovem manda um conselho para os pais dos alunos.
“Muitas coisas trazemos de dentro de casa, portanto, pais: sejam vocês exemplo para seus filhos! Por isso, para mim, é uma conquista e uma grande alegria discursar sobre esse tema. Não apenas em meu nome, mas em nome de todos aqueles que são excluídos por simplesmente serem diferentes”.
E também fala sobre empatia e inclusão.
“Lembrando que inclusão não é só estar perto. Isso é integrar. Não é só uma vez na vida, perguntar como a pessoa está, se precisa de algo, ou sentir dó, se comover. Incluir é como o próprio dicionário traz, é trazer e fazer parte, estar inserido. Você pode se envolver sem medo, não tenha medo. Eu digo por experiência própria, porque já tive muitos problemas relacionados a isso, de acharem que eu sou mais recluso, tímido, que não queria conversar, quando na verdade eu queria estar junto, me envolver mais, me comunicar melhor e apenas isso”.
Por fim, ele agradece a todos que cruzaram seu caminho durante a jornada escolar!
“Meu nome é Luís Felipe, tenho 18 anos, e sou autista. Hoje, tenho muito orgulho de quem sou e sempre espero que falas como essa ajudem quem é igual a mim e precisa ser incluso. Obrigado família, amigos e obrigado Nota 10 por esses últimos anos. Com vocês, eu consegui e espero que outros como eu também consigam”, citou Luís Felipe para ser aplaudido de pé.
Uma história de superação
Vânia Cuevas é psicóloga, tem 46 anos, e é mãe do Pipo. Ela conta em entrevista ao g1 que, quando o filho tinha 1 ano e 3 meses, ela e o marido perceberam algo estranho no desenvolvimento da criança. O primeiro profissional que buscaram foi um otorrinolaringologista por acharem que se tratava de um problema auditivo. Entretanto, foi nesse instante que ouviram a palavra “autismo” pela primeira vez.“Nesse momento nosso chão se abriu. Ficamos calados, sem conseguir digerir. O processo de luto começou ali. Noites em claro na frente de um computador. Mas tudo que via era incompreensível na época. Ainda mais que 18 anos atrás não tínhamos muita literatura sobre o TEA (Transtorno do Espectro do Autismo)”, revela a mãe do Pipo.
Luís Felipe é autista nível 1, ou seja, precisa de suporte, mas tem mais autonomia que os que possuem os níveis 2 e 3. Segundo Vânia, na época do diagnóstico, não tinham tantas terapias disponíveis e as que tinham eram caras. “Com um atraso de fala significativo, meu único sonho era ouvi-lo dizer ‘mãe, eu te amo’”, comenta.
A entrada na escola foi outro desafio. Segundo a mãe, Pipo estava integrado, mas não incluso, e o processo de alfabetização foi difícil. “Ele tinha crises regulares e chegava a vomitar”, revela a mãe, que nunca duvidou da importância do ensino para o filho. “Na época não tinha material adaptado e nem professores auxiliares”, ela relembra.
A mãe ressalta a importância da irmã mais de velha de Pipo, Helena, durante todo o processo de aprendizado do menino. “Ela foi fundamental nesse processo. Na época do atraso de fala dele, ela que traduzia o que o irmão dizia. A coisa mais linda é a ligação deles”.
Passado todo esse árduo processo, Vânia comenta sobre a satisfação de ver o resultado de tanto esforço.
“O Nota 10 e a turma acolheram ele de forma linda. E eles são prova de que é possível, que pode ser feito. Sempre vieram atrás de mim para saber mais sobre o assunto. Eu choro… Porque ver ele formado é tudo isso que está no vídeo. Só minha família sabe o caminho que a gente percorreu para chegar onde ele chegou”, reforça.
“O que eu diria para os pais é: não percam tempo, procurem profissionais, programas comportamentais… E o amor é essencial. Sempre estive muito presente e vou continuar presente quando ele for pra faculdade e ele vai”, finaliza Vânia emocionada.
21 novembro, 2024
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