Por João Paulo Ferreira | 25 junho, 2024 - 15:15
Em meio à fumaça dos incêndios no Pantanal de Mato Grosso do Sul, bombeiros avistaram um ninho de tuiuiú em uma árvore com galhos secos, enquanto passavam de barco pelo Rio Paraguai na tarde desta segunda-feira (24). A área fica a cerca de 7 km em linha reta da cidade de Corumbá.
“Havia esse ninho de tuiuiú em risco com a aproximação de uma frente de fogo. Tinha bastante material combustível embaixo, com risco de incendiar a árvore onde está o ninho. Mobilizamos uma equipe na embarcação chamada tuiuiú que foi até o local com motobomba. Com água do próprio Rio Paraguai, foi feito o combate, rescaldo e proteção dessa área”, explica o capitão Samuel Pedrozo, chefe de operações dos bombeiros.
O Grupo de Resgate Técnico Animal Cerrado Pantanal (Gretap) também está na região, buscando animais feridos ou debilitados que precisem de atendimento. Em uma das varreduras recentes, a equipe filmou uma onça caminhando em uma área queimada. Pelas imagens de vídeo, é possível ver que em poucos segundos o felino desaparece em meio à vegetação.
Desde quinta-feira (20), quando chegaram à Corumbá, fazendo um “pente-fino” pela Estrada Parque, as equipes de biólogos, veterinários e técnicos do grupo já passaram por várias áreas, incluindo Paraguai-Mirim. Encontraram alguns animais mortos e muitas espécies vivas, como veados, jacarés e aves, principalmente nos pontos onde existem recursos hídricos.
Com o uso de tecnologia, incluindo drones, o Gretap avança de carro, barco, triciclos e a pé. No caminho, pantaneiros apoiam as buscas. Onde há áreas alagadas, parte da vegetação próxima da água ainda resiste às chamas e serve como corredor para os animais buscarem abrigo.
Uma das varreduras se guiou pela presença de urubus, que indicavam a possibilidade de carcaças de animais. Foram registradas muitas pegadas sinalizando a fuga de animais. “Se não fossem essas águas, vazantes, baías, curixos, nada iria conseguir sobreviver a esse fogo”, conta a médica veterinária Franciele Oliveira.
“Realmente o fogo está intenso, mas nas áreas onde foram trabalhados aceiros e coisas do tipo, os animais estão dando conta de fugir. Perto de 2020 não dá nem para se comparar, ao menos por enquanto. O número de animais atingidos de forma direta ainda é bem inferior”, detalha a bióloga e médica veterinária Paula Helena Santa Rita, coordenadora operacional do grupo. Ela compara a situação com quatro anos atrás, quando o Pantanal enfrentou uma das piores temporadas de incêndios da história.
Em uma das buscas ativas recentes, o resultado veio em vídeo mostrado nas redes sociais: “Não encontramos indícios de animais de médio e grande porte, mamíferos no geral, apenas pegadas de um pequeno felino, mas a população presente em grande abundância são as aves”.
As ações do grupo são acompanhadas, registradas e divulgadas na internet pelo projeto Mídia Ciência, realizado pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) em parceria com a Fundect. O conteúdo é compartilhado pelo integrante do projeto Bruno Moser, que acompanha o Gretap em campo.
Entre os animais monitorados pelas equipes de socorristas está uma família de macacos bugios. “Eles ficaram em poucas árvores que ainda sobraram às margens do rio na mata ciliar”, explica a médica veterinária Mariana Queiroz. Durante uma vistoria por drone, foi avistada uma família de emas se movimentando entre as cinzas em busca de alimentos. “Clinicamente estavam bem, não apresentavam queimaduras e tinham comportamento padrão para a espécie. A equipe avaliou. Não tinha para onde fazer afugentamento, então resolveram não interferir na situação”, diz Paula Santa Rita.
O Gretap é resultado de uma união de esforços envolvendo órgãos governamentais, privados e o terceiro setor. Participam dessa ação em parceria com o Governo do Estado, através da Semadesc e Polícia Militar Ambiental (PMA), a UCDB, o Ibama e o Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
“A ação imediata por diversos grupos, tanto o Gretap quanto bombeiros, brigadistas, pantaneiros, toda essa assistência governamental do Estado, sinalizam ao menos uma vontade de não deixar chegar ao que chegou [em 2020]. Independentemente de cor de farda, todos estão com o mesmo propósito”, finaliza a coordenadora do grupo de resgate.
25 novembro, 2024
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