Por Marcelo Tognini | 26 novembro, 2024 - 17:52
A cada ano que passa, o Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo, vê seu futuro cada vez mais ameaçado. Em 2024, as queimadas atingiram níveis alarmantes, com mais de 1,22 milhão de hectares consumidos pelo fogo entre janeiro e agosto, representando um aumento de 249% em relação à média dos últimos cinco anos
. Essa devastação resultou na morte de milhares de animais e na destruição de habitats essenciais. Mais uma vez, o poder público parece contar apenas com a sorte, ou quem sabe, com a fé, enquanto o bioma luta contra um inimigo implacável: o fogo. A ineficiência no combate às queimadas revela uma triste realidade, onde falta planejamento, recursos e, principalmente, vontade política.
O Pantanal, localizado no coração da América do Sul, é um bioma único. Sua rica biodiversidade abriga espécies como a onça-pintada, o tuiuiú e inúmeras variedades de peixes e plantas, que coexistem em um frágil equilíbrio. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, o Pantanal se destaca por sua importância ecológica, mas, paradoxalmente, continua sendo negligenciado por políticas públicas que falham em protegê-lo. Em 2024, o número de focos de incêndio ultrapassou os patamares de anos anteriores, com um aumento de 8% em comparação ao mesmo período de 2020, ano recorde de queimadas
. A sensação de impotência se espalhou junto à fumaça que tingia o céu.
Especialistas em preservação ambiental alertam há anos para a necessidade de um monitoramento eficaz e da criação de barreiras contra o fogo. O climatologista João Moura, que tem acompanhado de perto a situação do Pantanal, aponta que “as condições climáticas são cada vez mais severas, com longos períodos de seca e ventos fortes. Sem uma ação coordenada do poder público, as queimadas se tornam incontroláveis”. Moura destaca que a falta de investimento em brigadas de incêndio e a ausência de políticas preventivas são fatores cruciais para o cenário devastador que se repete anualmente.
Este ano, o impacto das queimadas foi particularmente devastador. Áreas que antes eram o lar de inúmeras espécies agora estão desertas, cobertas por um manto cinzento de destruição. Pequenos produtores rurais, que dependem do equilíbrio do Pantanal para sua subsistência, têm visto suas propriedades e criações sendo atingidas pelo fogo, e, com elas, o próprio sustento. “A gente vê o fogo vindo e não tem o que fazer. Esperamos por ajuda que nunca chega a tempo”, lamenta Sebastião Almeida, um produtor da região de Corumbá.
A situação do Pantanal em 2024 é também um reflexo de um problema maior: a falta de uma política ambiental que esteja alinhada com as necessidades de preservação e de desenvolvimento sustentável. O Brasil, um país que por décadas foi referência em iniciativas de conservação, tem visto retrocessos significativos nos últimos anos, especialmente no que diz respeito ao financiamento e à coordenação de esforços para combater incêndios florestais. Para muitos especialistas, há uma clara desconexão entre o discurso oficial e a realidade em campo. Enquanto o governo fala em compromisso com a sustentabilidade, os números mostram uma crescente perda de áreas preservadas.
A fé de muitos sul-mato-grossenses reside na esperança de que os recursos do Estado sejam melhor aplicados, que as queimadas sejam combatidas com estratégias inteligentes, e que o Pantanal, um verdadeiro tesouro nacional, possa ser protegido para as futuras gerações. Mas a realidade é que, sem um esforço real e coordenado, o Pantanal continuará contando apenas com a sorte. E o preço desse descaso é alto demais: a perda irreparável de um dos biomas mais importantes do planeta, que leva consigo não apenas sua fauna e flora, mas também a identidade e a cultura de um povo que depende dele.
Chegou a hora de o poder público se conscientizar de que o Pantanal não pode ser tratado como um problema sazonal, resolvido com ações pontuais e emergenciais. O bioma precisa de políticas permanentes, de um sistema de combate ao fogo robusto e de um planejamento que envolva tanto o governo quanto a sociedade. É preciso que, em vez de esperar pelo pior, nos preparemos para evitar que ele aconteça. Do contrário, em breve, não restarão mais do que lembranças do que um dia foi um dos lugares mais ricos e belos do mundo.
26 novembro, 2024
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