Por Viviane Freitas | 3 março, 2022 - 10:12
Fortes explosões foram ouvidas na capital Kiev e em outras cidades ucranianas nesta quinta-feira (03/03), no amanhecer do oitavo dia da invasão russa no país. Confira a seguir um resumo dos últimos acontecimentos:
Em Kiev:
– Na capital, que permanece sob controle da Ucrânia, quatro grandes explosões foram capturadas em vídeo por testemunhas nas últimas horas, mas ainda não está claro quais eram os alvos ou se houve vítimas.
– Correspondentes da BBC dizem que as explosões puderam ser ouvidas de dois andares subterrâneos, no bunker em que estavam.
– O enorme comboio de veículos militares russos, de 65 km de extensão, que segue lentamente em direção a Kiev está atualmente “parado”, de acordo um oficial de defesa dos EUA. Há relatos de que o atraso se deve a uma possível escassez de alimentos e combustível, a rodas atoladas na lama, falhas mecânicas e à resistência ucraniana.
– Cerca de 15 mil pessoas estão abrigadas em estações de metrô em Kiev, informou o atual responsável pelo metrô da capital, Viktor Brahinsky, acrescentando que é possível acomodar até 100 mil pessoas se necessário.
No sul:
– As forças russas tomaram o controle da cidade portuária de Kherson, segundo autoridades locais. É a primeira grande cidade ucraniana a ser capturada desde o início da invasão.
– Na cidade portuária de Mariupol, há relatos de que centenas de pessoas morreram após horas de bombardeios contínuos, informou o vice-prefeito da cidade. Militares da Ucrânia afirmam que a cidade continua nas mãos do país.
No nordeste:
Também houve bombardeios pesados em Kharkhiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, que vem sendo intensamente atacada nos últimos três dias.
Outros destaques:
– O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, divulgou um vídeo no fim da noite de quarta-feira, elogiando a coragem dos cidadãos em defender seu país.
– Mais de um milhão de pessoas já fugiram da Ucrânia desde o início da invasão, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) — e este número vem aumentando rapidamente.
– Uma investigação sobre possíveis crimes de guerra na invasão russa da Ucrânia foi aberta pelo Tribunal Penal Internacional em Haia.
– A Rússia afirmou pela primeira vez que sofreu fortes baixas militares durante o ataque à Ucrânia, com 498 soldados mortos e mais 1.597 feridos. A Ucrânia disse, por sua vez, que as baixas russas foram muito maiores. A BBC não conseguiu verificar estas alegações de forma independente.
Veja abaixo mais detalhes e desdobramentos importantes da guerra:
Rússia assume o controle de Kherson
As forças russas tomaram o controle da cidade portuária de Kherson, segundo autoridades locais. É a primeira grande cidade ucraniana a ser capturada desde o início da invasão.
O prefeito, Igor Kolykhaev, confirmou a informação em uma mensagem no Facebook, na qual escreveu ainda que os russos impuseram um toque de recolher das 20h às 6h, ordenaram os veículos a trafegar em velocidade “mínima” e os pedestres a não circular em grupos com mais de duas pessoas.
A BBC, contudo, não pode verificar esta declaração de forma independente, e autoridades da Defesa dos Estados Unidos disseram que “a disputa pela cidade segue intensa”.
Estrategicamente, Kherson seria uma base importante para os militares russos para avançarem mais para o interior e para oeste, ao longo da costa até a cidade portuária de Odesa.
Rússia é banida dos Jogos Paralímpicos
O Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) anunciou nesta quinta-feira que atletas da Rússia e de Belarus estão proibidos de competir nos Jogos Paralímpicos de Inverno de 2022 em Pequim.
A decisão inicial do IPC de permitir que os atletas competissem como neutros, sob a bandeira paralímpica, foi fortemente criticada.
Um comunicado divulgado afirma que a “situação na vila dos atletas” se tornou “insustentável”.
O presidente do IPC, Andrew Parsons, descreveu os atletas afetados como “vítimas das ações de seus governos”.
Os Jogos Paralímpicos serão abertos nesta sexta-feira (4/2), e as competições começam de fato no sábado.
Tribunal Penal Internacional abre investigação contra Rússia
O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, anunciou na noite de quarta a abertura de um inquérito para apurar o possível envolvimento da Rússia em crimes de guerra durante a invasão ao território ucraniano.
“Em uma análise preliminar da situação na Ucrânia, meu escritório já encontrou base razoável para acreditar que crimes no âmbito da jurisdição do Tribunal tenham sido cometidos”, escreveu o procurador-geral.
Mais cedo, a Corte, que fica localizada em Haia, na Holanda, havia recebido denúncia de 38 países contra Moscou, que supostamente estaria alvejando civis e destruindo edifícios residenciais em meio à ofensiva.
Embora a Rússia seja signatária da Convenção de Genebra, o tratado internacional que define crimes de guerra, ela se desligou do Tribunal de Haia em 2016, depois que a anexação da Península da Crimeia foi classificada como uma ocupação.
Os indivíduos condenados pelo tribunal têm que ser detidos em países que aceitam sua jurisdição. Assim, caso seja eventualmente considerado culpado ao fim do processo, Putin teria de ficar restrito à Rússia e a Estados aliados para que não fosse preso.
Zelensky: Soldados russos capturados ‘não sabem por que estão aqui’
Também na noite de quarta, em um vídeo divulgado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, exortou a população do país a continuar lutando contra as tropas russas.
Zelensky disse que soldados russos capturados pelas forças de defesa “não sabem por que estão aqui”, acrescentando que alguns militares estão “fugindo de volta para a Rússia”.
E afirmou ainda que muitos são “crianças confusas”, que estão sendo “usadas” por seus líderes em Moscou.
Mais de 1 milhão de ucranianos já fugiram do país
O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a Acnur, atualizou suas estimativas e calcula em um milhão o número de pessoas que deixaram a Ucrânia em sete dias de conflito.
Pelo Twitter, o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, fez um apelo para que “as armas silenciem, para que assistência humanitária capaz de salvar vidas possa ser fornecida” aos milhões de ucranianos que permanecem no país.
A agência prevê que a guerra possa deixar cerca de 12 milhões de pessoas desalojadas ou com necessidade de receber ajuda.
ONU aprova resolução que condena invasão russa
A sessão da Assembleia-Geral da ONU, convocada pelo Conselho de Segurança da entidade, aprovou uma resolução condenando a invasão russa da Ucrânia e pedindo a retirada das tropas.
O encontro reuniu os 193 países-membros. O texto foi aprovado por 141 votos – entre eles, o do Brasil. Cinco países foram contrários – a Rússia, obviamente, foi um deles.
Belarus, aliado russo de longa data e acusado pelo Ocidente de ajudar na invasão, também se opôs à moção de repúdio.
Outro a se opor foi a Síria – cujo líder Bashar al-Assad contou com a assistência militar russa em larga escala para permanecer no poder durante a guerra civil.
A Eritreia, na África, e a Coreia do Norte na Ásia, completam a lista.
Outros 35 se abstiveram de votar, entre eles a China, que no início deste ano se juntou à Rússia em oposição à expansão da aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e, na semana passada, absteve-se durante uma votação semelhante no Conselho de Segurança da ONU.
Antes da votação, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, disse que a Rússia quer “privar a Ucrânia do próprio direito de existir”.
O embaixador russo, Vassily Nebenzia, disse que a Rússia queria parar um conflito separatista no leste da Ucrânia e acusou o Ocidente de usar “ameaças abertas e cínicas” para fazer os países votarem a favor da resolução.
A resolução tem valor mais simbólico, já que as medidas previstas por ela não serão vinculativas.
Esta é apenas a 11ª sessão especial de emergência da Assembleia Geral da ONU desde a primeira, em 1956. A natureza rara desta reunião ressalta a enorme preocupação em torno desta crise.
Nova rodada de negociaçõe
Uma segunda rodada de negociações entre representantes dos governos russo e ucraniano deve ocorrer em breve.
Os dois lados se encontraram na segunda-feira, mas não houve avanços.
Uma delegação russa está se dirigindo a um ponto de encontro para negociações, de acordo com a agência de notícias Belta da Bielorrússia.
Não foi dito onde ou quando as discussões ocorreriam.
Mais cedo, a agência de notícias estatal russa Tass informou que o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia tinha uma delegação pronta para continuar as negociações.
E o conselheiro presidencial ucraniano Olexiy Arestovych disse anteriormente à Suspilne TV que as negociações ocorreriam.
Mas ele afirmou: “Acho que as coisas vão continuar as mesmas. Nada vai mudar. Vamos manter nossa posição”.
Ucrânia diz que guerra matou mais de 2 mil civis até agora
Autoridades ucranianas disseram que mais de 2 mil civis foram mortos até agora na invasão da Rússia.
Dez socorristas também foram mortos, informou o Serviço de Emergências.
Equipes de resgate apagaram mais de 400 incêndios que eclodiram após bombardeios russos em todo o país e desarmaram 416 explosivos.
Moscou afirma que quase 500 soldados russos foram mortos
O Ministério da Defesa da Rússia divulgou seus primeiros números de baixas sofridas durante a invasão da Ucrânia.
Ele diz que 498 soldados russos foram mortos e 1.597 ficaram feridos até agora, de acordo com relatos da mídia russa.
A alegação é significativamente menor do que a avaliação da Ucrânia sobre as baixas russas – Kiev afirma ter matado 5.840 soldados russos.
A Rússia também afirmou que mais de 2.870 militares ucranianos foram mortos e cerca de 3.700 ficaram feridos. Kiev não deu números.
A BBC não pode verificar independentemente as alegações russas ou ucranianas, mas o Ministério da Defesa do Reino Unido acredita que as forças de Moscou sofreram pesadas perdas.
Geórgia pede para entrar na UE
A Geórgia – um ex-Estado soviético, assim como a Ucrânia – solicitará “imediatamente” a adesão à UE, um dia depois que o Parlamento Europeu apoiou a iniciativa da Ucrânia de se candidatar a membro do bloco.
Têm ocorrido grandes manifestações contra a invasão russa da Ucrânia na Geórgia e com críticas ao governo por não aderir às sanções internacionais contra a Rússia.
A Rússia controla duas regiões do país – a Ossétia do Sul e a Abkhazia – desde 2008, quando as forças russas expulsaram as tropas nacionais de lá.
O governo da Geórgia não quer, portanto, provocar a Rússia, por causa das bases militares instaladas por Moscou nas regiões separatistas.
Mas está sob pressão internamente para mostrar que continua comprometido com a adesão à Otan e à UE.
Macron: ‘Europa deve pagar preço por paz, liberdade e democracia’
O presidente da França, Emmanuel Macron, fez um discurso televisionado à nação, denunciando a “mentira” da Rússia de que está lutando contra o nazismo na Ucrânia e condenando-a como “agressora”.
Ele diz que, embora a Otan não esteja em conflito com a Rússia, houve uma “mudança de era” na Europa.
Em resposta, Macron diz que a França aumentará os gastos com Defesa enquanto defende uma maior independência energética europeia.
“A guerra na Europa não pertence mais aos nossos livros de história: está lá, diante de nossos olhos”, diz Macron.
Ele elogia a unidade da resposta europeia, acrescentando: “A Europa agora deve concordar em pagar o preço pela paz, liberdade e democracia”.
Petróleo atinge valor mais alto desde 2014
À medida que os combates continuam na Ucrânia, o conflito segue impulsionando os preços do petróleo — apesar das novas medidas destinadas a acalmar os mercados.
O petróleo do tipo Brent — referência internacional para os preços do petróleo — atingiu US$ 113 (cerca de R$ 580) o barril na quarta-feira (02/03), registrando o nível mais alto desde junho de 2014.
O preço subiu mesmo depois que os membros da Agência Internacional de Energia concordaram em liberar 60 milhões de barris de petróleo das reservas de emergência.
A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, e os investidores estão preocupados que o fornecimento de petróleo ou gás possa ser afetado.
Prefeito de Kiev: ‘Civis estão pegando em armas. Estamos orgulhosos’
O prefeito de Kiev diz estar orgulhoso das pessoas que ficaram na cidade para defendê-la das forças russas.
Vitali Klitschko e seu irmão Wladimir – ambos pugilistas de renome internacional – falaram com a BBC de Kiev.
Vitali disse ter visto uma fila de “horas” de civis fazendo fila para pegar armas e se juntar à luta.
Ele disse que o patriotismo das pessoas o surpreendeu – de médicos a atores, as pessoas estão pegando em armas.
“Neste momento, as pessoas estão orgulhosas”, diz ele.
Quando perguntado se os irmãos vão ficar na cidade para lutar, Wladimir disse: “Esta é a nossa casa. Nossos pais [estão] enterrados aqui, [nossos] filhos vão para a escola aqui. Por que devemos fugir? O que você faria se alguém entra na sua casa? Você a defende”.
Wladimir também instou a comunidade internacional a dar mais apoio à Ucrânia. Ele disse que há uma “enorme demanda” por comida e água e, embora alguma ajuda esteja começando a chegar, “absolutamente não é suficiente”.
21 novembro, 2024
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