Durante 21 dias, a jornalista Vanessa Ricarte viveu sob uma vigilância implacável, orquestrada por quem dizia amá-la. Um relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) revelou que o ex-noivo da vítima, o músico Caio César do Nascimento Pereira, monitorou todos os seus passos — não apenas fisicamente, mas também no mundo digital.
De acordo com as investigações, Caio exigia que Vanessa compartilhasse a localização em tempo real e invadiu suas contas de e-mail e redes sociais. Chegou ao ponto de alterar senhas e impedir que ela mesma acessasse seus perfis. Ele também teria interferido em suas conversas, inclusive no ambiente de trabalho, tudo para manter uma vigilância constante e sufocante.
O conteúdo das mensagens analisadas expõe uma estratégia calculada de isolamento: ele a orientava a não usar a internet da empresa e a evitar certos assuntos com colegas, sob a justificativa de que poderia estar sendo espionada. Para o Gaeco, essas atitudes faziam parte de um mecanismo de controle psicológico com o objetivo claro de romper os laços de Vanessa com sua rede de apoio.
O relatório também descreve um ciclo típico de relacionamentos abusivos: momentos de tensão, agressões verbais, manipulação emocional e promessas vazias. Essa dinâmica, segundo os investigadores, ficou evidente tanto nas mensagens trocadas quanto no comportamento de Caio nos dias que antecederam o crime.
Vanessa chegou a procurar ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e pediu uma medida protetiva. Mas o tempo — mais uma vez — jogou contra ela. A decisão judicial não saiu a tempo. Quando ela voltou para casa, Caio já a esperava.
A comoção com o feminicídio da jornalista mobilizou redes sociais e entidades que defendem os direitos das mulheres. Especialistas apontam falhas graves na resposta institucional e cobram ações urgentes, como o uso mais amplo de tornozeleiras eletrônicas, medidas emergenciais de proteção e maior agilidade da Justiça em casos de violência de gênero.