Foto: Redes Sociais
O campo-grandense, Alex de Souza, desde cedo nutriu uma paixão pelo desenho, mas foi aos 15 anos que descobriu sua verdadeira vocação como pintor automotivo. Após enfrentar desafios de saúde relacionados à pintura, decidiu migrar para a tatuagem, área na qual alcançou um destaque inesperado. Atualmente, é um nome renomado no meio artístico, não apenas na tatuagem, mas também na comercialização de quadros com figuras realistas do Mato Grosso do Sul, levando sua arte para todo o Brasil. Ao OSM Entrevista ele conta sua trajetória. Confira:
“Depois de morar no litoral e na Espanha, Alex consolidou sua paixão pela arte, especialmente pela aerografia. A partir da pintura automotiva, ele se aventurou na customização de capacetes, carros e outros objetos, revelando seu talento único. Ele conta: “Desde pequeno, na minha infância, na verdade, eu achava que eu seria mecânico, me via como mecânico de autos e tinha muita vontade de fazer mecânica em aeronave. Então, em 2005, ao me formar como técnico em telecomunicações e perceber que não era o que queria para mim, decidi investir na pintura automotiva. Me identifiquei com pintura automotiva. Foi aí que literalmente começou meu interesse pela arte, porque dentro da pintura automotiva existe a pintura customizada, que é em carros, em capacete de piloto, de corrida. Como sou muito curioso e sempre fui autodidata, resolvi comprar um aerógrafo para começar a fazer a aerografia, que são as pinturas customizadas, pinturas automotivas, porém customizadas. Então esse foi meu início, na verdade, foi dentro do cenário da arte, das pinturas. Me inseri primeiramente com a pintura automotiva, da pintura automotiva veio a aerografia.”
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Sua trajetória tomou um novo rumo quando decidiu explorar a tatuagem, mesmo sem nunca ter imaginado seguir esse caminho. Com sua curiosidade e autodidatismo, Alex começou a estudar arte e aprimorar suas habilidades. Após uma experiência na Europa, onde comercializou seus desenhos para estúdios de tatuagem, ele decidiu se dedicar integralmente à tatuagem. “E aí foi onde também me surgiu o interesse em aprimorar o desenho, a pintura e eu comecei a estudar arte. Durante dois anos eu estudei arte e a tatuagem pra mim até então era muito pra mim me tatuar, pra mim ser tatuado, sabe? Eu nunca, imaginei nunca, me vi como tatuador. Todos os meus amigos, as pessoas que conviviam perto falavam Por que você não tatua? Eu era uma pessoa muito inibida, muito ruim de comunicação. Então estar diretamente com o cliente era algo que eu não me via. Apesar dos amigos sempre sugerirem, eu não me interessava e continuava com minhas pinturas. No entanto, tenho pulmões fracos para certos cheiros, pois sofro de sinusite e bronquite. Então, tive que parar com a pintura e não me via fazendo outra coisa; embora tivesse formação em telecomunicações, não era o que eu queria. E aí eu fiz um mochilão, fui pra Europa, fui morar na Europa. Nesse mochilão, ao chegar lá, comecei a comercializar alguns dos meus desenhos para estúdios de tatuagem. Eu já tinha sido tatuado, eu já tinha, já era maior de 18 anos, eu já tinha minha primeira tatuagem, então eu já tinha esse contato, sabia como é que era. E aí eu comecei a fazer desenho, vendi, eu até já tinha um kit de tatuagem quando eu fui pra Europa, né, que por curioso. Eu fui até a grande São Paulo, comprei o kit e fiz algumas tatuagens em mim mesmo, tentei fazer algumas coisas, porém nunca tinha feito algo como comercial, ou até mesmo me vendo fazendo aquilo, foi algo mais de curioso. Enfim, voltei da Europa, quando eu voltei da Europa eu não estava conseguindo me inserir no mercado de trabalho, eu já tinha o currículo, e como os meus amigos sempre falavam, porque você não tatua, porque você não tatua, peguei, convidei um amigo meu e fiz sua primeira tatuagem no meu quarto.”
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Seu primeiro estúdio de tatuagem foi no quarto de casa, e ele relembra: “Foi um mês que eu fiquei basicamente no meu quarto, no segundo mês eu já tinha passado para a sala da minha casa e com quatro meses eu já tinha na sala da minha casa, eu tinha montado a recepção com sala de espera bem aconchegante e tinha pegado já o quarto ao lado para ser a sala de procedimento, então desde o início a tatuagem me abriu assim os braços, tão rápido, que foi algo literalmente, foi bem rápido. Logo, logo eu saí do estado amador, me profissionalizei e devido a ter aptidão, ter dom, como falam, foi fluindo bem rápido, mas com cinco meses eu já estava com o estúdio totalmente formado, questão de infraestrutura, mesmo sendo em casa, e aí com três anos atendendo em casa ainda, eu já era convidado para estar em outros estúdios tatuando na cidade, e aí eu com três anos dentro do mercado eu comprei também um ponto.”
Ele também destaca: “Desde a primeira tatuagem, eu cobrei. Eu ganhei na época 50 reais, algo similar a isso, isso em 2008, foi quando eu me inseri na tatuagem, quando eu comecei literalmente. E aí desse primeiro amigo, achou que ficou bom o resultado, indicou outro amigo e veio outro amigo e foi indo. E o que me motivou a continuar nesse caminho, foi que logo no primeiro mês, atendendo os meus amigos e atendendo no meu quarto, se não me falha memória, eu fiz um salário de 1.200 reais. Então para época isso era muito dinheiro, um salário mensal de 1.200 reais na época era bem satisfatório. E essa foi a minha maior motivação para continuar.”
Após longos anos em SP, já com família constituída, decidiu junto da esposa, também tatuadora e body piercing, voltar para Campo Grande para reatar o laço quebrado na adolescência. “As coisas mudaram muito em São Paulo, qualidade de vida, violência, tudo isso fez a gente pensar em um novo lugar pra cirar nossos filhos. Como já tinha vindo numa feira aqui em Campo Grande, achei que seria uma boa abrir meu estúdio”. A família chegou em dezembro de 2019. Foi o tempo de procurar casa, abrir o estúdio, conseguir alguns clientes e chegou a pandemia. “Fomos corajosos porque não fomos trabalhar para ninguém, abrimos nós mesmo nosso estúdio e começamos até a criar uma carteira legal de clientes, mas a pandemia nos pegou de surpresa”.
Como a esposa também é da área da enfermagem, conseguiu um emprego em uma clínica. “Avaliamos que pelo menos para o “arroz e feijão” nós teríamos já que a tatuagem estava muito incerta”.Aliado a essa mudança, Alex decidiu retomar uma prática artística que sempre amou: as pinturas. “Eu fazia alguns trabalhos em SP, cheguei a fazer algumas customizações em motos aqui, mas com a pandemia decidi que poderia fazer isso pra ganhar dinheiro mesmo”.
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Sobre sua volta para Campo Grande e estabilização aqui, ele diz: “Esse foi os primeiros do primeiro contato no meio da arte até chegar na tatuagem, que abriu as outras portas. Aqui em Campo Grande, também, quando eu cheguei, eu até fiz algumas pinturas customizadas, conheci algumas pessoas no meio do motociclismo, atendi em alguns cafés da Harley, aí eu pintei alguns capacetes, pintei uns triciclos de um pessoal que são de motoclubes. Mas a tatuagem é o carro chefe, a tatuagem é o dia a dia. Hoje, eu concilio minha agenda com pintura de quadros, e a pintura customizada ficou mais como hobby, algo muito esporádico, é até difícil de aparecer, porque não sei o que eu faço com uma frequência, então a demanda é menor. Mas minha história dentro do meio artístico é basicamente dessa forma que eu me iniciei.”
O início não foi fácil, mas Alex encontrou motivação no reconhecimento de seus amigos e na possibilidade de gerar uma renda estável. Com determinação e talento, ele rapidamente se profissionalizou e abriu seu próprio estúdio.
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Hoje, Alex concilia sua agenda entre tatuagens e pinturas de quadros, mantendo viva sua paixão pela arte. Seu percurso, marcado por dedicação e superação, é um exemplo inspirador de como é possível transformar uma paixão em uma carreira de sucesso. “Tenho mandando muitas trabalhos pra SP, e aqui também. Muitos dos trabalhos são figuras realista, que possuem relação com Mato Grosso do Sul, cultura indígena”, comenta.
Para aqueles que estão começando neste meio, ele deixa seu recado: “Ao longo da minha jornada, já ouvi muitas coisas em relação a desistir do meu objetivo. Coisas como ‘a arte é coisa de vagabundo’, ‘você tá louco’, ‘isso não vale a pena’, ‘é tempo investido e perdido’. Então, assim, eu acredito hoje que primeiramente, pra quem estiver começando, primeiramente acreditar no seu sonho, né? Eu acho que o sonho move montanhas, ocasiona movimento, ocasiona transformação, né? Então se é algo que você sonha, você deve ir atrás, você deve buscar pelo seu objetivo. Então, o que eu costumo falar pra todo mundo que está começando, primeiramente é acreditar em si, e não nos outros, porque. Os outros jamais vão querer que você vença na vida. Não é fácil pra ninguém, o caminho não é fácil, não é fácil pra mim. Até hoje, que estou a 16 anos, constantemente eu busco informação, busco me atualizar, busco me manter informado não só no meio da arte, da tatuagem, em questão de lançamento de produtos, novos profissionais que estão na área, novas técnicas, mas principalmente em algo que eu acho que é primordial pra qualquer um que quer ser dono do seu próprio negócio, que é se atualizar e se aprimorar no meio da gestão, do empreendedorismo”, finaliza.