Do Aero Rancho para o mundo: Cris superou tumor e com R$300 se tornou a ‘Rainha do Pegue e Monte’

Com apenas R$300 ela se tornou a Rainha do Pegue e Monte

Há mais de duas décadas, a campo-grandense de coração e ‘Rainha do Pegue e Monte’, Cristiane Araujo, 42 anos, marca presença em diversas festas pelo Brasil. Após superar um tumor e contando com apenas R$300 em sua conta, ela ergueu um império de decoração e se tornou pioneira do nicho em Mato Grosso do Sul. Hoje, ela percorre o Brasil ministrando palestras sobre sua trajetória de sucesso e já ensinou a arte das festas lucrativas a mais de 10 mil pessoas ao redor do mundo.

“Nasci em Rondônia – Porto Velho, mas vim para Campo Grande, muito pequena, com cinco anos de idade. Minha família veio em condições precárias, lembro que dividíamos um colchão para cinco pessoas”, conta ao OSM Entrevista. Morando de favor e com sua mãe limpando alho para sustentar a família, Cristiane lembra que embora a situação fosse difícil a criatividade sempre a acompanhou. “Minha mãe conta que antes de vir para Campo Grande ela lavava roupa no rio e eu ficava na beira fazendo várias coisas do barro, sempre fui muito criativa”, relembra.

Cris, cresceu no bairro mais populoso de Campo Grande e vive nele até hoje. “Minha infância foi toda aqui no Aero Rancho, eu cresci com esse bairro”, conta. A reportagem do OSM, ela explica que sempre trabalhou com carteira assinada, mas por onde passava, fazia questão de deixar sua marca. “Sempre trabalhei fora, trabalhei de babá, atendente, barista, enfim, em vários empregos. Mas, por onde eu passava eu implantava ideias legais que os chefes ficavam impressionadas com minha visão de empreendedorismo”, explica.

E foi em seu último emprego com carteira assinada que ela viu sua vida mudar, de cabeça para baixo. “Na última empresa que trabalhei entrei como consultora de telemarketing e menos de um ano era gerente administrativa de um setor inteiro da empresa por conta dessas ideias diferentes que eu tinha. Sempre gostei trabalhar, me dedicava muito para a empresa”, comenta.

Porém, foi um momento de dificuldade de saúde que impulsionou sua verdadeira jornada empreendedora. Enfrentando um tumor, ela passou por um tratamento que resultou na perda de seu útero quando seu filho tinha apenas seis meses. O diagnóstico trouxe à tona a importância de cuidar de si mesma, levando-a a deixar seu emprego e iniciar uma nova fase de sua vida. “ Depois de muitos exames descobri que o nódulo se deu por excesso de trabalho, por conta de muito estresse e compromisso. Na hora, eu pedi as contas e fui fazer o tratamento para a retirada do tumor”, conta ao OSM Entrevista.

Da economia que foi utilizada para o tratamento sobrou apenas R$300 reais, o suficiente para quem tem criatividade iniciar um empreendimento. “Eu sempre gostei de decoração, eu mesma fazia o aniversário dos meus filhos. Nunca tive condições financeiras para pagar uma decoradora, então montava tudo do zero. Foi então que eu tive a ideia de montar negócio no fundo da minha casa como decoradora de festa”, explica ao OSM.

Foto: Arquivo Pessoal

E foi lá, no fundo da sua casa, no bairro Aero Rancho, que Cris começou seu império, sem nenhum material. “Não tinha nada, nenhum material se quer, minha primeira mesa foi porta de fundo de guarda-roupa achada no lixo”, relembra.

Em apenas seis meses o negócio já era sucesso e em um ano, sua agenda já era lotada de compromissos. “Decidi locar meu primeiro espaço e muitas pessoas passavam na frente e perguntava se seu alugava os produtos, então comecei a pensar no assunto”, disse.

O pioneirismo de Cristiane realmente veio à tona com a introdução do conceito “pegue e monte”. Inspirada por um kit de papel que viu sendo usado em festas, ela percebeu que poderia oferecer algo semelhante, mas com sua abordagem única. Ela desenvolveu o primeiro kit padronizado de “pegue e monte” em 2011, que rapidamente se tornou um sucesso em Campo Grande. “Eu tive um contato com um kit desse que uma pessoa fez para a decorada, não para o público mãe, fiquei impactada e eu pensei: vou fazer um. Mas para fazer para o público mãe, tinha que ter mesa, bandeja, painel, e esse kit não tinha, então eu mesmo fiz, minha própria mesa, meu painel de ferro, revesti de tecido e criei o primeiro kit para a mãe levar para a casa e montar, e assim surgiu o primeiro kit pegue e monte padronizado que se tem registro em 2011”, conta.

Com apenas um mês e meio, o kit “pegue e monte” já conquistava o público local. O reconhecimento desse novo modelo de negócio foi um ponto de virada, levando-a a expandir suas ofertas e abrir sua segunda loja. Seu marido também se juntou ao empreendimento, abandonando um emprego de uma década para contribuir com suas operações. “Eu fui uma das pioneiras aqui e foi uma maneira de atender mais pessoas. No início, era R$50 o preço. As pessoas preferiam pegar o kit e montar da maneira que quisessem e eu fui crescendo dessa forma, até chegar a mais de 300 temas infantis e o atendimento cerca de 100 festas aos finais de semana”, comentou.

A influência e inovação de Cristiane não pararam por aí. Ela começou a compartilhar suas criações e técnicas no YouTube, o que a tornou uma referência e atraiu muitos seguidores. Seu conceito “pegue e monte” começou a ser imitado, levando-a a patentear e registrar seus kits padronizados. “Tudo que eu ia tendo de criatividade eu colocava lá, a intenção não era viralizar ou ganhar dinheiro, mas armazenar o que eu estava fazendo para mostrar para meus filhos e netos no futuro. Mas muitas mulheres começaram a me seguir e comentar que estava fazendo e dando certo e rapidamente o canal cresceu e hoje temos mais de 150 mil seguidores”, disse.

Cris Reis tem mais de 10 mil alunas em 17 países diferentes

Após seis meses ela mudou para um terceiro espaço e cada vez mais foi crescendo o seu reconhecimento. “Percebi que não existia nada no mercado de festa nesse estilo e que as pessoas começaram copiar o meu modelo através do Youtube. Foi então que eu patenteei e registrei os kits padronizados de pegue e monte”, disse. Hoje, Cris Reis é conhecia como a ‘Rainha do Pegue e Monte’ no Brasil e no mundo.

Pandemia

A pandemia trouxe um novo desafio para a indústria de festas, mas Cristiane mais uma vez se adaptou e encontrou maneiras de se destacar. Com festas sendo reduzidas e realizadas em casa, o conceito “pegue e monte” de Cristiane se mostrou uma solução ideal para o momento, e mais uma vez, o sucesso foi certeiro. Sua visão e pioneirismo ajudaram a manter o mercado de festas vivo durante esse período desafiador. “Na pandemia, as festas e os buffets foram os primeiros a fechar e a último a voltar, o pegue e monte salvou o mercado de festas, decorados e donas de buffets migraram para o pegue e monte, com a salvação de as pessoas fazerem festas pequenas em casa, criar memoras e não para de locar”, conta ao OSM.

Cris palestrando- Arquivo Pessoal

“O meu processo de crescimento foi muito rápido, os kits pegaram muito. O mercado de festa era voltado somente para festas grandes e luxuosas e 70% da nossa população, não tinha condição de pagar essas decorações gigantes. Em um ano eu estava locando 50 a 60 kits por final de semana e faturando até R$9 mil. Era muito para quem não faturava nada e foi então que eu abri minha terceira loja”, conta ao OSM. Hoje, ela tem a maior loja do Estado há cinco anos no ramo de pegue e monte e atende mais de 120 festas por fim de semana.

Sua visão empreendedora transformou não apenas sua vida, mas também a de muitas mulheres. “O curso surgiu através do canal, tudo que eu as fazia copiava e eu oferecia de graça, recebi muito feedback de mulheres que saíram da depressão, cárcere privado, síndrome do pânico, pediram curso, fui estudar, há cinco anos lancei o meu primeiro curso”, conta. Ela tem hoje mais de 10 mil alunas espalhadas por 17 países, incluindo o Japão. “Minha vida virou uma loucura, boa”, disse.

A única a representar o Estado há dois anos consecutivos na maior feira de decoração do mundo, ela deixa o seu recado para aquelas que estão iniciando agora: “É preciso ter a consciência que quando você decide mudar sua realidade nós pagamos um preço alto, a maioria das mulheres tem filhos, casa, não é fácil dar conta de tudo, mas descobrimos que temos uma força dentro de nós, capaz de nos impulsionar paras realizar os nossos sonhos”, finaliza.