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Maycon Zanata supera medo de ‘trovoadas’ e se torna caçador de tempestades em MS

Ele já fotografou mais de 300 raios nos últimos anos,  50 em apenas uma tempestade

Por Viviane Freitas | 18 março, 2022 - 15:14

A história com os “fenômenos meteorológicos extremos” começou muito cedo na vida do douradense Maycon Zanata. O fotógrafo que tinha medo de “trovoadas” na infância, hoje tem uma paixão considerada um pouco incomum: caçar tempestades. Responsável por fotografar fenômenos raríssimos nos céus de Mato Grosso do Sul, ele coleciona imagens impressionantes e já fotografou mais de 300 raios, 50 em apenas uma tempestade.

“Eu morava no sítio e as tempestades que passavam por lá por ser uma área aberta, eram bem mais assustadoras que na cidade. A casa que era de madeira chegava a balançar e isso acabou gerou em mim pânico de raios e ventos ”, lembra Maycon, ressaltando que, apesar do receio, sempre gostou de estudar sobre o assunto.

Os livros de ciência recebidos na infância despertaram o seu interesse pelo fenômeno e alguns anos depois o medo foi deixado de lado após uma tempestade que lhe cruzar o caminho. “Eu estava na rodovia, voltando de um sítio, quando avistei uma nuvem com relâmpagos. Eu achei surreal e com o celular mesmo consegui fazer a foto do fenômeno que, até então, só tinha visto em filmes”, conta.

Há seis anos o sul-mato-grossense exerce a profissão de fotógrafo e já eternizou muitos momentos e sorrisos.  Mas após a experiência única, ele nunca mais parou de ir atrás fenômeno. Hoje, aos 30 anos, se tornou perito nas caças de tempestades severas na região centro-sul de Mato Grosso do Sul e conta ao OSM sobre essa prática.

O OSM: Quando e por que começou a procurar esses fenômenos?

Maycon Zanata: Eu sempre gostei de tornados e tempestades fortes desde criança. Aos 11 anos eu já via documentários sobre tornados e já desconfiava mais ou menos que também ocorriam aqui, porém menos frequentes. Sempre quis fazer meu próprio conteúdo, algo profissional como nos documentários que eu assistia. Há uns 6 anos atrás eu comecei estudar fotografia, isto se tornou um vício. Comecei fotografar natureza e há 2 anos atrás passou uma tempestade muito forte por mim, peguei a câmera e fiz umas imagens, depois deste dia eu comecei a estudar como conseguir me antecipar para chegar em um local antes de acontecer uma tempestade forte daquelas. Foi a partir daí que o vício começou.

O OSM: O que é ser um caçador de tempestade?

Maycon Zanata: Caçar tempestades é a arte de estudar meteorologia para conseguir se antecipar e assim conseguir chegar antes de formar uma tempestade e já estar preparado para pegar alguma cena incomum. Nós saímos à procura de tempestades pelo prazer de apreciá-las e não recebemos nada em troca. Às vezes nos deslocamos, viajamos para outra cidade ou estado quando há alguma tempestade com probabilidade de tornado.

O OSM: Em Mato Grosso do Sul você caça com frequência?

Depende muito do tipo de tempestade.  Quando é uma tempestade comum eu não vou muito longe, faço só as imagens de raios pretos da cidade. Mas quando é uma tempestade muito especial ou significativa eu não perco tempo. Para pegar uma tempestade eu passo horas dentro de um carro esperando acontecer o evento que às vezes acaba em segundos.

O OSM: Esse trabalho exige estudos, técnica? O que é preciso para ser um caçador de tempestades?

Maycon Zanata: Sim. Antes eu ia atrás de nuvens escuras, hoje eu sei que nem todas as nuvens escuras são severas. Saber onde ir é só através de estudos. Um básico em meteorologia, conhecer todos os tipos de nuvens, saber quais condições formam uma tempestade severa, fazer sondagens para saber índices para conseguir saber se vai ter chances de ocorrer algo severo, entender radares meteorológicos e imagens de satélite, estudar rotas, estradas que sejam na mesma direção da tempestade para conseguir perseguir e acompanhar todo seu ciclo de vida para tentar pegar o momento raro da formação de algum fenômeno. Hoje eu faço parte de um grupo de caçadores e meteorologistas e participo de projetos na área, mesmo nunca tendo feito uma faculdade em meteorologia. Tudo que aprendi foi vendo documentários, vídeos de caçadores norte-americanos, e o principal, praticando, caçando e errando muito.

O OSM: Quando você sai para uma temporada, o que você espera encontrar?

Maycon Zanata: Espero pegar o máximo de tempestades fortes possíveis. Tornados, granizo grande e fortes rajadas de vento, pois preciso de conteúdo para meu canal no Youtube. No primeiro ano eu era apenas um observador de tempestades, que é uma pessoa que registra só quando passa algo perto, depois comecei a caçar tempestades no extremo sul do estado, andando 200 km em busca de fenômenos. Nesta próxima temporada a meta é caçar no país inteiro, andando cerca de 800 km, como fazem os caçadores nos Estados Unidos para conseguir registrar tantos tornados. Quem vê e não entende acha que é bem comum lá, porém um tornado ocorre no mesmo local lá a cada 3 a 5 anos. Tornados são como agulhas, extremamente difíceis de se registrar. Aqui no Brasil é da mesma maneira, quanto mais longe estiver, quanto mais disposto a caçar, mais coisas vai achar. Meu sonho é conseguir manter esse hobby a nível de conseguir caçar na região sul e extremo sul do nosso estado. Também sonho em caçar nos Estados Unidos um dia, mesmo ocorrendo por aqui. Lá a ocorrência é bem maior, com fenômenos bem mais fortes e perigosos. Enquanto temos 80 a 100 tornados por ano no Brasil inteiro, nos Estados Unidos são 1000 ou até mais por ano.

O OSM: Qual episódio mais te marcou?

Maycon Zanata:  Em abril de 2020 eu consegui pegar a tempestade que derrubou o pavilhão de eventos de Laguna Carapã. Ela formou um tornado por alguns segundos, também formou granizo gigante em uma área rural próximo a Amambai. Eu cheguei muito perto desta tempestade e como foi a noite, foi extremamente radical. Minha namorada estava junto e me ajudou a filmar, aliás ela também gosta e me ajuda a fotografar. Caíram muitos raios perto e os ventos estavam intensos, foi algo assustador, mas foi um momento único. Me senti nos Estados Unidos, sem dúvidas a melhor tempestade que vi até hoje. Outro acontecimento foi no mesmo ano, em novembro. Fotografei uma supercélula que eu acompanhei desde o início da tempestade, eu estava no momento certo na hora certa.

O OSM: Você ainda sente medo quando está no meio da tempestade?

Maycon Zanata: Tenho medo de acontecer algo que pode tirar a minha vida, acho o medo maior é de morrer. Nos EUA, por exemplo, a morte de caçadores se dá mais por imprudência no trânsito ao dirigir como um louco para fotografar do que por raio.

Quanto à questão de segurança, Zanata reforça que é bastante prudente e sempre procura se posicionar em um local na qual a tempestade vai passar do lado de onde ele estiver: “Assim eu fico em uma posição segura e não tomo chuva, pois ela atrapalha fotografar”, finaliza.

Hoje, Maycon tem uma coleção de imagens de tempestades severas e já é conhecido por fazendeiros que liberam o acesso das propriedades para ele fotografar.  “Nas tempestades mais severas é necessário chegar bem perto e agir rápido”, explica. Ele disse já ter passado alguns perrengues como ter a lataria do carro amassada ou ver o veículo sendo atingido por granizos, mas, para ele vale a pena.

Questionado sobre o perigo e as sensações dessa jornada, ele é enfático ao dizer que valem a pena e vai além, ao citar que deixam a vontade de novas experiências. 

Às vezes dá um medo daqueles e depois você lembra, dá vontade de passar novamente. É uma grande realização capturar supercélulas, visto que estas tempestades são as mais raras, possuem estruturas de nuvens incríveis e assustadoras, que guardam uma imagem que você sabe que você fez e estava lá e algo sem preço”, destaca.

No meio “da adrenalina”, como Maycon, há no entanto a consciência de que a beleza e imponência da tempestade arrastam consigo a destruição e muitas vezes a morte. Por isso, o “efeito adverso” não o deixa feliz, mas sim a possibilidade de “presenciar o que a atmosfera nos proporciona”. Também por isso, acrescenta: “não vamos para lá à toa”. Além da formação que é necessário ter, há que possuir também equipamento adequado que “permita em tempo real estar a ver as imagens da tempestade no radar”, para conseguir uma posição que seja o mais segura possível, mas que permita, ainda assim, apreciar e vivenciar “o impressionante poder da atmosfera”.

Confira alguns registros:

Tempestade em Laguna Carapã (Foto: Maycon Zanata)

 

Formação de tempestade no céu de MS (Foto: Maycon Zanata)

 

Raios fotografados pelo caçador de tempestades (Foto: Maycon Zanata)

 

Formação de tempestade severa (Foto: Maycon Zanata)

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