Por Redação | 9 maio, 2023 - 8:18
O governo do Mato Grosso do Sul vai oferecer cirurgias reparadoras para alunos da rede pública de ensino que estão sofrendo bullying por questões estéticas, como a ‘orelha de abano’ e miopia de ‘fundo de garrafa’. O projeto faz parte do programa “Mais Saúde”, lançado nesta segunda-feira, 8, para reduzir a fila de cirurgias eletivas (sem urgência) no Estado. Segundo o governo, só no ano passado foram registrados 150 casos de violência escolar na rede estadual em função de alguma situação estética.
O “Mais Saúde” conta com investimentos de R$ 52 milhões e deve ajudar a zerar a fila por cirurgias eletivas, atualmente com cerca de 15 mil pessoas. Conforme o assessor de comunicação da Secretaria de Governo, Alexsandro Nogueira, crianças e adolescentes que já tiveram problemas de bullying identificados pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública foram encaminhadas à coordenadoria de suporte psicossocial e, na maioria dos casos, para a rede pública de saúde. “Esse é o público que já está na fila dos procedimentos: crianças com orelha de abano, nariz adunco, crescimento excessivo das mamas e problemas oftalmológicos, como estrabismo e alto grau de miopia”, disse.
No caso da otoplastia, cirurgia para corrigir as chamadas orelhas de abano, o SUS cobre o procedimento quando houver comprovação médica de que essa condição afeta a saúde da pessoa ou interfere, de forma grave, em seu bem-estar. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), cerca de 5% da população mundial são afetados pelo problema que, além do desconforto estético, impacta diretamente na autoestima das pessoas. É muito comum que essas pessoas sofram situações de bullying, baixa estima, sensação de insegurança e até mesmo distúrbios psicológicos.
Para a cirurgiã plástica Luciana Pepino, membro especialista da SBPC, os procedimentos de fato resolvem o problema estético, mas são necessários outros cuidados. “As consequências emocionais e psicológicas podem ser permanentes, mesmo depois de cirurgias reparadoras, como a rinoplastia (correção do nariz) e otoplastia, as mais procuradas nesses casos. Isso ocorre porque os danos causados pela prática de bullying podem ficar tão fortemente enraizados no psique que só a cirurgia plástica não dá conta. Ela repara o lado estético do adolescente, mas o emocional precisa de acompanhamento especializado”, disse.
O presidente da SBPC no Mato Grosso do Sul, cirurgião plástico Cesar Benavides, considerou “muito boa” a iniciativa do governo estadual e tem esperança de que seja adotada em outros Estados. “A aparência tem um peso muito grande sobretudo na adolescência e acaba sendo um problema, principalmente em escolas públicas, onde muitas vezes o aluno que sofre bullying não tem coragem de tomar uma atitude.” Ele ressalta a necessidade de fazer a abordagem no momento certo e de forma individualizada.
“O procedimento para orelha de abano pode ser programado para após os cinco anos; já o do nariz deve se esperar mais. Para a menina, até os 16 anos e para o garoto, até os 17. Antes, não recomendamos.” Ele falou da importância das autoridades estarem atentas para essa questão pelo impacto que ela representa para a auto-estima da criança. “Já recebi um um menino que colou a orelha à cabeça com cola de secagem rápida, com risco de produzir uma infecção.”
O crescimento das mamas em meninos na adolescência, período de formação dos grupos sociais, gera constrangimento e dificuldade nas relações de amizade e namoro. “Eles, assim como as meninas com hipertrofia da mama (seios excessivamente grandes), acabam sofrendo bullying e se excluem.” O especialista alerta que o apoio psicológico é fundamental antes mesmo da cirurgia. “O adolescente precisa ser lembrado de que algumas dessas cirurgias deixam cicatrizes e terão de conviver com elas.”
Ele reforça que, muitas vezes, o problema da criança ou do adolescente não se restringe à questão estética. “É preciso saber se o que incomoda é só o bullying na escola ou tem algo mais. Às vezes, a cobrança está dentro da família. Tratar só o externo sem investigar o que acontece internamente não resolve. Às vezes a postura precisa mudar dentro de casa. Quantos pais sentem dificuldade em elogiar o filho, elevar sua auto-estima. É preciso uma abordagem multiprofissional”, disse.
21 novembro, 2024
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