Por Viviane Freitas | 22 setembro, 2023 - 9:36
— Foto: Divulgação/Arca do Sabor
Há 15 anos, as regiões mais distantes das cidades mal tinham acesso à eletricidade e à internet. O conhecimento era passado de geração em geração, e a agricultura familiar dependia da experiência dos mais velhos.
Porém, em 2008, a inovação chegou ao assentamento São Manoel, em Anastácio, a 194 km da capital do Mato Grosso do Sul. A equipe da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) visitou a área para estudar as frutas nativas do cerrado.
Durante dois anos, Lúcia Lima, hoje com 65 anos, e outros moradores aprenderam a lidar com essas frutas. Ao longo do tempo, as pequenas frutas amarelas que eram colhidas apenas para consumo pessoal se tornaram uma fonte de renda.
Em 2023, 11 mulheres fazem parte do grupo de produção sustentável do assentamento São Manoel, sob a coordenação de Lúcia. Elas trabalham com várias frutas do cerrado, incluindo a bocaiuva, que é usada para fazer uma variedade de produtos, como farinha, pão, bombons e paçoca.
Esses produtos não são apenas vendidos em feiras, mas também fornecem refeições para crianças e adolescentes nas escolas locais. “Entregamos para a merenda escolar nas escolas do município, das creches e para algumas do estado também”, acrescentou Lúcia.
A bocaiuva, uma fruta que cresce em palmeiras altas, é encontrada em todo o Mato Grosso do Sul e possui grande potencial para uso alimentar e como recurso de subsistência. No entanto, seu cultivo em larga escala enfrenta desafios devido à casca dura e à polpa mucilaginosa, além de uma vida útil limitada em seu estado natural. No entanto, pesquisadores acreditam que a industrialização pode ajudar a explorar seu potencial comercial e nutricional.
A professora Priscila Aiko Hiane Siroma da UFMS destacou que a bocaiuva é rica em fibras e oferece benefícios nutricionais significativos. Ela observou que o consumo de 100 gramas de bocaiuva fornece uma porção substancial de fibras alimentares diárias recomendadas e também é uma fonte de proteína. Isso torna a bocaiuva uma valiosa adição à dieta, especialmente em comunidades rurais e para pequenos agricultores.
De acordo com a profissional, estudos científicos demonstram o grande potencial da bocaiuva para alimentos funcionais devido aos seus compostos bioativos com ação antioxidante (vitaminas C e E, compostos fenólicos, flavonóides e carotenóides).
“Sua inclusão na dieta também protege o organismo de diversas doenças crônicas associadas ao estresse oxidativo, uma redução do risco de doenças crônicas, como cardiovasculares e câncer, assim como prevenção de doenças associadas à desnutrição”, ressaltou.
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