Outro dia, ouvi da boca do próprio Marcelão — sim, o secretário de Obras — que a prefeitura ia tapar de mil e quinhentos a dois mil buracos por dia. Um número digno de Guinness ou de piada, dependendo da sua fé nas promessas da gestão. Também ouvi a prefeita justificar o abandono da cidade com uma lógica genial: não se conserta a casa enquanto chove. Espera-se a estiagem, e só depois se limpa a bagunça. Tudo isso, claro, em nome da economia do dinheiro público. Estratégia, ela disse.
Ora, eu não entendo de obras, nem de engenharia, muito menos de asfalto. Mas de desculpa esfarrapada e mentira mal contada, esse Assombroso aqui já virou especialista. E até então, confesso, estava tudo no roteiro: a prefeita mentindo com convicção, e o secretário fingindo que trabalha com naturalidade. Nada fora do previsto.
Mas nos últimos dias, eis que algo mudou: Migliolli evaporou. Sumiu. Deixou o cargo? Não. Apenas decidiu sair de cena — sem aviso, sem nota, sem presença. Um silêncio que, por ironia, virou barulho.
Será que foi viajar? Um retiro técnico para repensar a engenharia do século XXI? Virou legendário e foi subir a montanha? Ou só desistiu de arrumar a cidade?
Qualquer justificativa seria mais honesta do que o sumiço total. Porque não se trata de perseguição política, nem de exagero midiático. Trata-se do básico: comunicação institucional. Presença. Respeito ao cargo — e à população. Até porque, quando um secretário desaparece sem explicação, a pergunta que surge não é apenas “onde ele está?”, mas “por que ninguém achou isso estranho?”
Aliás, comunicação institucional é outro tema delicado nesta gestão, mas esse assunto merece uma crônica à parte. Por ora, fica o registro do sumiço. E, com ele, uma sugestão sincera ao secretário: da próxima vez, avisa. Porque até para desaparecer, é de bom tom seguir um protocolo.