A tão falada reforma tributária finalmente foi aprovada. Mas, se você trabalha com tecnologia — seja desenvolvendo soluções SaaS, rodando uma startup, gerenciando um e-commerce ou integrando ERPs — o que isso muda na prática? Spoiler: muita coisa.
Abaixo, vamos explorar os principais impactos dessa nova “versão” do sistema tributário brasileiro, olhando sob a lente de quem vive a realidade tech.
A substituição de PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS por dois novos tributos — a CBS (federal) e o IBS (estadual/municipal) — traz uma promessa de não cumulatividade plena. Ou seja, sua empresa poderá se creditar de impostos sobre insumos diretamente ligados à atividade-fim.
O detalhe importante: mão de obra, que é o coração das empresas de tecnologia, não gera crédito. Isso pode significar aumento real de custos para times majoritariamente formados por devs, analistas, squads de produto e afins. O efeito colateral? Margens mais apertadas e confesso que isto tem tirado meu sono como Gestor.
A nova lógica da tributação no destino significa que o imposto será calculado com base na localização do cliente, e não mais da sede da empresa.
Na prática: se você oferece um serviço em nuvem para clientes em vários estados (ou até fora do Brasil), seu sistema terá que entender onde está o tomador do serviço e aplicar a alíquota do IBS correta. Ou seja, mais uma layer de complexidade que exige inteligência tributária integrada ao seu stack de vendas, billing e ERP.
Para quem atua como PJ no setor tech (desenvolvedores, product managers, UX designers etc.), a alíquota padrão estimada em 26,5% pode representar um baque.
Muitos modelos de negócio que hoje se mantêm competitivos por meio de prestação de serviços especializados via PJ precisarão ser revistos. O risco de perda de eficiência tributária é real, especialmente para startups e fintechs com estruturas mais enxutas.
É verdade: o novo sistema vai exigir ajustes, mas também abre portas. A simplificação do modelo atual traz espaço para inovação em automação fiscal, soluções de compliance, APIs tributárias inteligentes e novos produtos que ajudem empresas a navegar esse cenário.
Empresas que já trabalham com RPA, IA aplicada ao compliance, ERPs com foco tributário e gestão financeira inteligente devem sair na frente.
A implementação da reforma será digital. Desde a emissão de notas até a geração de relatórios fiscais, tudo precisará ser reconfigurado. Sistemas legados terão que ser atualizados, ERPs integrados, e a observabilidade fiscal vai se tornar um diferencial competitivo.
Além disso, a digitalização dos tributos também pode favorecer a transparência e facilitar o monitoramento em tempo real, tanto para o setor privado quanto para os fiscos estaduais e federal.
A reforma tributária não é apenas uma mudança fiscal; é uma reescrita do core do sistema nacional de arrecadação. Para o setor de tecnologia, isso exige mais do que adaptação: exige estratégia, visão sistêmica e atualização de mindset.
Como qualquer grande update, esse vai quebrar algumas integrações, forçar refatorações... mas também abrir novas possibilidades. Quem se mover rápido — com dados, planejamento e tecnologia — terá vantagem competitiva real nesse novo jogo.
———————————————————————————————————————————————————————————————
Como sempre destacamos, as opiniões expressas pelos colunistas não representam, necessariamente, a opinião do jornal O Sul-mato-grossense. Este é um espaço aberto ao debate, respeitados os limites da legalidade e do respeito.