O cerco armado contra Jair Bolsonaro desnuda, em cores fortes e grotescas, a crônica e sempre renovada fragilidade da justiça brasileira. Vivemos em terras macunaímicas, onde o Direito se curva com reverência às vontades mais pútridas, sendo manipulado por mãos que vestem toga, mas agem com a impiedade de carrascos medievais. Aqui, o juiz não apenas sentencia: ele empunha o machado afiado, julga, condena e executa com ânimo peculiarmente entusiasmado.
É compreensível que nem todos detenham a acuidade necessária para decifrar plenamente esse espetáculo mórbido e farsesco. Contudo, para tornar cristalina a tragédia anunciada em nosso cenário político-jurídico, recorremos à poderosa lucidez brechtiana, que nos legou uma reflexão de simplicidade cortante:
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
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