Se tem uma coisa que é sagrada no fim de semana sul-mato-grossense — além do tereré gelado e da boa prosa — é o churrasco na brasa. E não é só impressão de quem vive por aqui: dados do IBGE e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) mostram que Mato Grosso do Sul ocupa o segundo lugar no ranking nacional de consumo de carne bovina, com nada menos que 29,4 quilos por pessoa por ano.
O topo do pódio ficou com o Amapá, com 30,5 kg per capita. Mas convenhamos, quando o assunto é tradição no churrasco e na pecuária, o MS dá um show. O Acre fecha o top 3, com 28,3 kg por habitante.
A relação do sul-mato-grossense com a carne vai além do gosto: está enraizada na cultura e na economia do estado. MS é um dos cinco maiores produtores de gado do Brasil, lado a lado com Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Pará — este último, aliás, abriga quatro dos dez maiores rebanhos bovinos do país.
Por aqui, o boi nasce, cresce, é abatido e muitas vezes vai direto para a grelha do churrasqueiro, fresquinho, como manda o figurino.
Mesmo com as mudanças nos hábitos alimentares, o brasileiro continua comendo bastante carne bovina: são 24,2 kg por pessoa ao ano, quase o triplo da média mundial, que gira em torno de 8,9 kg. No ranking global, o Brasil fica atrás apenas da Argentina (47 kg) e dos Estados Unidos (37 kg).
Mas a verdade é que o consumo por aqui já foi maior. Em 2013, a média nacional era de 33,3 kg por pessoa. A queda tem muito a ver com o preço mais alto da carne e a diversificação do cardápio, que abriu mais espaço para frango, carne suína e peixes.
O dado de 2022, inclusive, é o mais baixo desde 2004. E tem estados onde o churrasco passa longe do protagonismo: Alagoas (15 kg), Ceará (15,4 kg) e Espírito Santo (15,6 kg) estão entre os que menos consomem carne vermelha no Brasil.
Aqui em Mato Grosso do Sul, no entanto, o churrasco segue firme e forte — e não é só pela fartura. A carne está presente na vida do sul-mato-grossense de um jeito especial: nas festas de família, no almoço de domingo, nos encontros com os amigos. É parte da nossa identidade, do nosso orgulho e, claro, do nosso paladar.
E para quem entende do assunto, o churrasco sul-mato-grossense vai muito além da carne. Luiz Carlos Lopes, mais conhecido como Xitão, eletricista automotivo e churrasqueiro de respeito, resume com bom humor o clima ideal da tradição:
“Olha, num bom churrasco aqui no MS, não pode faltar um tereré gelado e uma música boa, de preferência um chamamé no estilo da Delinha. Isso é que dá o tempero especial!”
Com esse espírito, dá pra entender por que o churrasco por aqui é mais que refeição — é quase um ritual.
Brasa no ponto, carne suculenta e aquele sorriso de quem entende do riscado — Xitão representa como poucos a alma do churrasco sul-mato-grossense.