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Professoras de Campo Grande criam projeto antirracista premiado pelo Governo Federal

Iniciativa voltada à formação de assistentes da educação infantil recebe o Selo Petronilha do MEC

João Paulo Ferreira
Por: João Paulo Ferreira
07/06/2025 às 18h00
Professoras de Campo Grande criam projeto antirracista premiado pelo Governo Federal

Campo Grande foi uma das 20 cidades brasileiras selecionadas pelo Ministério da Educação (MEC) para receber o Selo Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva de Educação para as Relações Étnico-Raciais. A capital sul-mato-grossense foi reconhecida com um projeto voltado à formação antirracista na educação infantil, idealizado e desenvolvido por duas professoras da rede municipal, atualmente atuando como técnicas da Secretaria Municipal de Educação (Semed).

O projeto, intitulado Formação continuada para assistentes de educação infantil: construindo futuros com representatividade e igualdade racial, foca na capacitação das assistentes que atuam com crianças do Grupo 1 ao Grupo 5 da educação infantil. O objetivo é ampliar o debate sobre as relações étnico-raciais em toda a comunidade escolar, promovendo ações de enfrentamento ao racismo estrutural.

Segundo Silvia Keli Aguilar Larson, uma das idealizadoras da proposta, o trabalho já vem sendo realizado desde 2023. “Nosso foco não é somente professor ou estudante, é a comunidade escolar inteira. Desde as famílias até o pessoal da limpeza, merendeiras, vigilantes, secretários escolares. Falar sobre racismo é delicado, mas necessário. Nosso papel é alcançar o maior número possível de pessoas com formação e escuta”, afirma.

Silvia explica que a formação das assistentes já ocorre de forma contínua, com palestras, rodas de conversa e produção de materiais pedagógicos com base nas diretrizes da Lei nº 10.639/2003. Ela destaca que o reconhecimento do MEC fortalece o trabalho: “Esse prêmio nos ajuda a consolidar o que já está em andamento e nos dá fôlego para novos passos. Vamos montar acervos com livros, brinquedos e instrumentos musicais com temática afro, e ampliar o alcance das ações nas escolas.”

A professora Érika Costa Lima, também autora do projeto, reforça que o trabalho é construído com base na realidade cotidiana das escolas e das comunidades. “A pessoa negra é negra todos os dias, em todos os espaços. O racismo ainda é negado e disfarçado, mas está presente. Nas formações, tratamos desde expressões racistas até situações de preconceito vividas no ambiente escolar. Já tivemos muitos depoimentos emocionados e resultados positivos nas escolas, mesmo sem recursos. Agora, com a verba, podemos avançar mais.”

Cada secretaria premiada pelo MEC receberá R$ 200 mil, via Plano de Ações Articuladas (PAR), para fortalecimento e ampliação das ações de educação para as relações étnico-raciais. Os recursos, no caso de Campo Grande, serão administrados pela Semed.

O secretário municipal de Educação, Lucas Henrique Bittencourt, destacou a importância do reconhecimento nacional. “É uma confirmação de que estamos no caminho certo ao investir em uma educação comprometida com a justiça social e com o combate ao racismo. A premiação reforça o compromisso da rede municipal com a valorização da história e da identidade do nosso povo.”

Felipe Augusto da Silva Oliveira, chefe da Divisão de Políticas Específicas de Educação da Semed, coordenou tecnicamente a submissão da proposta ao MEC. Para ele, o diferencial do projeto está no envolvimento direto das escolas e na conexão entre técnica e realidade. “As ações não são pontuais. São estruturantes. Trabalhamos para que esse debate esteja presente em toda a rede, com impacto real no cotidiano das escolas e na formação dos educadores.”

Além da continuidade do projeto já implantado, Silvia e Érika planejam novas iniciativas. Entre elas, uma cartilha antirracista e a criação de um protocolo institucional de enfrentamento ao racismo no ambiente escolar. A expectativa é inscrever novas propostas na próxima edição do Selo Petronilha, prevista para 2026.

O Selo Petronilha foi criado pelo MEC como parte da Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ). Ele reconhece ações desenvolvidas por secretarias de educação que promovem políticas públicas voltadas à equidade racial e ao cumprimento das Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas.

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